CAPÍTULO 7

Eidan era um festeiro invicto e certamente estaria naquela boate durante o carnaval. Porém, o condenado era podre de rico e só frequentava as áreas VIPs cheias de luxo, tornando o acesso a ele um pouco limitado. Não que Guerrard precisasse realmente de Lúcia, mas o elo que tinha com ela seria útil naquela noite. Então, porque não usar?

O plano era simples: Lúcia entra, é levada para área VIP, ele a segue até lá, encontra Eidan, pega a alma dele, e fim!

Mas simples que isso impossível.

Mas Guerrard não contava com o próprio ciúme, coisa que Victor já havia lhe alertado. O lance de ser uma noite onde as mulheres não pagavam, era a forma que a casa noturna tinha para chamar mais do público masculino pagante, que tentaria sair do lugar com pelo menos uma noite bem dormida, e ele estava colocando Lúcia como uma opção… Só de pensar nisso, Guerrard tinha vontade de se espancar.

Por sorte, ou qualquer outra coisa, Lúcia não gostava daquele tipo de ambiente. Logo, mesmo que ele não ordenasse, ela repeliria qualquer um que estivesse ali. Principalmente se fosse um otário qualquer que quisesse apenas se aproveitar do corpo dela.

E que corpo…

Que ela tinha um belo corpo, Guerrard já tinha notado desde aquela noite no beco, mas só agora ele começou a reparar em outras coisas como o formato delicado dos lábios dela, ou em como ela ficava quente com a aproximação dele e perdia o ritmo da respiração quando ele sussurrava no ouvido dela. Isso sem contar o cheiro quase hipnotizantes que ela tinha… Como não tinha reparado nisso antes? Ou tinha reparado, mas ignorou esse tempo todo? Uma coisa era fato! Depois que decidiu ficar provocando-a para vê-la ficar com receio da própria excitação, tem sido cada vez mais difícil ignorar esses detalhes que, Guerrard gostando ou não, o excitava também.

Observar de longe os paspalhos do lugar darem em cima de Lúcia era irritante, mesmo ela se livrando facilmente de todos, mas receber uma espécie de “sermão” de Omaon, foi a gota d’água para sua paciência, embora Guerrard tenha conseguido surpreendentemente manter o controle. Porém a ladainha do General demoníaco fez com que ele perdesse seu foco e parasse de prestar atenção em Lúcia, que já não estava mais onde ele a havia deixado, fazendo-o suspeitar que ela já havia sido levada, e por isso precisava ser rápido para encontrá-la.

Alto… Cheiro de água com cloro… Vista do céu sem estrelas…

Uma cobertura?

Foi então que ele viu um conjunto de bangalôs com cortinas os fechando.

Lúcia estava sentada em um divã, que tinha dentro do bangalô em que estava. Ela não tinha a menor ideia do que aconteceria a seguir, mas tinha certeza que coisa boa não sairia dali. Estava nervosa, querendo que Guerrard aparecesse logo.

Ela se sentia segura com ele?

— Curioso… Você sentindo minha falta. – murmurou o demônio levemente surpreso com aquilo.

— Onde esteve? Pensei que queria ir para a outra sala. – perguntou Lúcia nervosa – Porque deixou que o segurança me trouxesse até aqui? 

Maldito Omaon!

— Probleminhas no caminho. – resmungou ele irritado – Mas eu lá sabia que o cara ia trazê-la pra cá? – complementou passando a analisar o lugar – Nem sabia que tinham esse canto aqui… Se eu soubesse que dava pra entrar pelo terraço, acha que eu ia pedir sua ajuda?

— Acho. – respondeu Lúcia fechando a cara. – Não precisava de mim para levar Tom e Mercedes, e ainda sim me usou.

Ela estava certa… Mas Guerrard optou por não dizer mais nada, antes que dissesse algo da qual se arrependesse. Ao invés disso, ele se focou em procurar por Eidan e acabar logo com aquilo.

— Está me ignorando?

— Não… Aquele ali, ô. – ele apontou para um cara de camisa verde no bar – É ele quem vim buscar. Porque não o atrai até aqui e baixe as cortinas. Fácil, rápido, e você vai poder voltar pra casa cedo.

Lúcia ficou com medo ao sentir o tom sem consideração de Guerrard. Pela primeira vez ele teve certeza que não gostou de sentir aquele medo nela, e isso o incomodou, mas, o fato dela se preocupar com os outros mais do que consigo mesma, o deixava muito mais intrigado.

— Nunca vou entender porque se importa tanto com a vida alheia e ignora a própria. – ele a encarava.

— Você é um demônio. – disse Lúcia desviando o olhar – Nunca vai entender muita coisa…

Ela estava certa mais uma vez. Mas porque ele se sentia afetado por aquelas palavras?

— A propósito. O nome dele é Cândido, ou algo assim? – perguntou ela olhando estranho para algo à sua frente.

— Não.

— Então, acho que aquele ali é o cara que pediu para que o segurança me trouxesse para cá. – ela apontou na direção que olhava.

— Como?! – Guerrard não entendeu o que a moça queria dizer.

Se aproximando do bangalô onde estavam, vinha um homem alto de cabelo loiro com um corte da moda, vestindo uma camisa social laranja e calça jeans. Ele carregava duas taças de espumante, e assim que ele chegou bem perto, Guerrard pode sentir um cheiro estranho vindo de uma das taças.

Ao reconhecer o cheiro de uma substância atípica, Guerrard se esforçou para não pular sobre o homem a sua frente, pois se o fizesse, estragaria todo seu plano e correria o risco de machucar Lúcia. E era exatamente pelo bem dela que ele estava furioso com aquele humano imundo a sua frente, que o encarava de cara amarrada.

— Posso saber o que o senhor está fazendo em meu acento? – disse o loiro.

— Posso saber o que quer com minha garota? – respondeu Guerrard imediatamente.

— Que?! – exclamou Lúcia, mas ela foi completamente ignorada pelos dois homens.

— Pensei que ela estivesse desacompanhada? – o tal Cândido arqueava as sobrancelhas tentando entender a situação.

— E ela está. Mas nem por isso deixa de ser minha. – disse Guerrard se esforçando para não rosnar.

— Ah! Entendi… Você é um ex-ciumento. – concluiu o homem olhando para Lúcia.

Ciúmes… De novo aquela palavra…

Que seja!

— Resolvo isso num instante… Segurança! – gritou o loiro.

Dois seguranças enormes apareceram rapidamente. Por um segundo Guerrard parou para realmente analisar a situação. Ele tinha que parar de ser passional e ser mais racional, se queria sair dali com Lúcia ilesa. Rapidamente ele olhou novamente na direção de Eidan e viu o homem se dirigir ao banheiro.

Ótimo!

— Ok, ok. Tô indo.

Guerrard se levantou e pego a taça de espumante, que continha a substância estranha, da mão do loiro. Ele desviou dos seguranças e seguiu para o outro lado da piscina, bebendo o conteúdo da taça e a jogando num arbusto logo em seguida.

Fulnitrazepam…

Ele tinha razão em desejar trucidar aquele canalha que estava com Lúcia. Precisava ser rápido para tira-la dali o quanto antes.

Humanos não prestam.

Ao chegar no banheiro, não foi muito difícil encontrar Einda, afinal, uma vez pervertido nojento, sempre pervertido nojento.

Humanos definitivamente não prestam.

O som de gemidos femininos estavam abafados dentro do box mais afastado da porta, mas o som era ouvido normalmente pelo demônio, que andou rapidamente até a porta e a abriu com um chute, fazendo aqueles que se encontravam ali saltassem pelo susto.

— Mas que merd… – começou a gritar Eidan, mas foi subitamente interrompido por uma mão apertando sua garganta e elevando seu corpo.

Aos pés dele, uma mulher assustada se encolhia no canto da privada, tapando a boca para conter um grito.

— Saia daqui. – Guerrard rosnou para ela.

Rapidamente ela recolheu suas coisas jogadas no chão e partiu logo em seguida, deixando a porta do banheiro bater com um ruidoso estrondo.

— Tenho uma boa e uma má notícia para você… – disse Guerrard encarando com nojo o homem que estrangulava – A má notícia é de que você vai morrer hoje… A boa é que será uma morte rápida, pois estou com pressa.

E da mesma forma que foi com Mercedes, rapidamente o demônio retirou e consumiu a alma de Eidan, resultando em um corpo inerte e sem vida no chão.

Estava feito! Agora era só esconder seus rastros…

Mas antes que pudesse fazer algo, Guerrard sentiu uma estranha sensação de desconforto diferente. Era como uma tontura seguida de uma agulhada na espinha. Imediatamente ele identificou que aquela sensação estava relacionada a Lúcia, e que ela estava em perigo. Instantaneamente ele se viu diante do loiro nojento se debruçando sobre Lúcia e levantando a mão para esbofeteá-la, mas antes que ele concluísse o movimento, Guerrard o deteve.

— Larga. Ela. AGORA! – grunhiu Guerrard exalando ódio – Se ainda deseja ter uma mão para se consolar mais tarde.

— Segurança! – gritou o homem tentando reagir ao demônio, mas sem sucesso.

No impulso de fúria, Guerrard arremessou o loiro em direção à piscina. No movimento, a cortina e alguns móveis que estavam no meio do caminho também foram arremessados. Um ódio assassino tomava forma dentro do demônio e começava se externar. Ele não conseguia mais se conter. Precisava acabar com aquele canalha imundo. Na verdade, todos ali mereciam ser destruídos, assim como Eidan também mereceu seu fim. Eram todos humanos imundos, corruptos e pervertidos.

Escória descartável!

— Para! – Lúcia se forçou a gritar.

Mas a voz dela saiu muito baixa, e aparentemente ninguém, além de Guerrard que a ignorou, a ouviu gritar.

— Para, por favor! – suplicou ela ofegante.

Mais uma vez aquele jeito mártir de ser. Não seria ela, se não se importasse com o bem estar dos outros. Mas a raiva de Guerrard era tão grande naquele momento, que ele não queria pensar na benevolência dela.

— Você é realmente idiota em proteger esse lixo, que não está nem aí pra você.

A voz de Guerrard estava começando a ficar gutural. Lúcia tentou impedir seu avanço, mas ele estava impassíveis. Ela então, numa tentativa arriscada, estendeu suas mãos para segurar o rosto de Guerrard e puxá-lo para mais próximo do seu e então o beijou.

O que!?

Guerrard não esperava por aquela ação vindo de Lúcia, principalmente naquele momento, mas bastou ela encostar os próprios lábios aos dele, que uma aprazível descarga elétrica se espalhou por seu corpo, relaxando os músculos, acalmando os nervos.

Parecia que o mundo tinha parado e apenas sentir o toque daqueles lábios macios, o calor daquele hálito, a eletricidade daquele contato, só aquilo parecia importar naquele instante. Teria sido prazeroso ficar eternamente daquela forma, mas pouco tempo depois, bem no instante em que Guerrard pensou em agarrá-la em seus braços para ela não sumir, Lúcia se afastou para encará-lo nos olhos, o deixando sem reação mais uma vez. Além de um sabor de “quero mais”, na boca.

— Te dei o que queria. Agora deixe essa gente em paz.

Como? Ela fez isso, por eles?

— Está negociando comigo? – perguntou Guerrard ainda confuso e desnorteado.

— Isso não é uma negociação. Vamos embora daqui.

Ela então o puxou pelo braço, seguindo em direção à saída.

— Sabe que acabou de queimar a moeda de troca que tinha para que eu lhe removesse a marc…

— Foda-se!

Ela disse “Foda-se”? O que houve com ela? O que há de errado? O que está acontecendo?

Guerrard estava totalmente sem rumo, pois foi pego totalmente desprevenido por aquele beijo e o desejo de ele despertou, junto da paz incomum que o preencheu, fazendo sua raiva se tornasse apenas um sentimento distante e inútil.

Ele olhava a mão dela segurando e puxando a dele, e por uma fração de segundos, imaginou colocando-a contra a parede e beijando-a novamente. Mas ela não havia concedido um beijo, ela havia o beijado por vontade própria e isso não era o mesmo que uma permissão. E se quisesse beijá-la novamente, precisava daquela maldita permissão.

Determinado, Guerrard decidiu que faria Lúcia permiti-lo de beijá-la, não importasse o que ele precisasse conceder a ela. Ele iria beijá-la novamente, nem que fosse por uma última vez. Mas ele mal sabia o que os esperava na saída do terraço, e aquilo mudaria todo e qualquer plano que qualquer um dos dois fizesse para o futuro.

 

– ❖ –

 

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