CAPÍTULO 6

    Céus! Quando em sã consciência eu ia imaginar que uma entrevista iria se torna um espécie de aula sobre esteriótipos e igualdade dos gêneros?

 

    Com certeza Jean é um cara fora dos padrões, e quem dera todo homem tivesse ao menos seu tipo de visão. Se bem que não só os homens, mas também as mulheres, pois realmente tem umas que pelo amor de Deus! Isso sem falar dos extremistas que se ofendem e reclamam por qualquer coisa.

 

— Você me parece bem surpresa. – disse ele me olhando de uma forma que não decifrei.

 

— Positivamente surpresa. – respondi com um sorriso sem graça.

 

— Fico feliz por isso. – ele sorriu daquela forma encantadora.

 

— Sério mesmo que você não está flertando comigo? – perguntei brincando pra tentar descontrair e disfarçar minha falta de jeito.

 

    Ele riu.

 

— Está parecendo tanto assim? – ele perguntou me encarando com a sobrancelha arqueada.

 

— Pode ser minha falta de hábito, ou as referências ruins… Mas sim, parece um pouco. – respondi sendo sincera.

 

— E na sua opinião, esse tipo de coisa funciona? – perguntou com uma nítida curiosidade no olhar.

 

— Ah! Bom… – tossi para limpar a garganta – Deve funcionar para alguém. — respondi sem jeito.

 

— Funciona pra você?

 

    Foi então que comecei a tossir por cerca de… um minuto inteiro? Talvez não? Nem sei. Mas novamente fui pega de surpresa e acabei engasgando com o ar. O que, diga-se de passagem, é algo extremamente idiota e dolorido.

 

    Jean ficou me encarando, tentando não rir, mas tava na cara dele que queria rir da cena que eu estava fazendo, no entanto, ele apenas respirou fundo e voltou a falar.

 

— Desculpe por isso. – disse ele enchendo e passando o copo de água para mim – Mas é que falei tanto sobre mim, que não achei que faria mal perguntar algo sobre você.

 

— Tinha que fazer justo essa pergunta, maldito!?

 

— Como é?

 

    Merda! Eu e minha boca grande.

 

— Vejo que você já sofreu bastante por conta de homens. – disse ele se recostando novamente na cadeira e desviando o olhar de mim – Lamento por isso, e me desculpe se a deixou desconfortável. Não era minha intenção…

 

    Ai droga! Estraguei tudo!

 

    Ficamos um tempo em silêncio. Basicamente não tinha mais o porque daquela entrevista, mas ele não me mandou embora, tanto menos eu quis partir. Eu não podia ir depois de tê-lo chamado de “maldito”, apesar de ter provocado aquilo… Jean era um cara legal, não merecia aquilo só porque eu estou sempre numa defensiva beligerante, quando o assunto é o sexo oposto.

 

    Bebi uma demorada golada de água. Suspirei pesadamente, e quebrei o silêncio.

 

— Desculpe-me Jean. Não queria ofendê-lo, mas é que desde que cheguei, tudo em você dava sinais de que estava dando em cima de mim, e eu não gosto disso… – expliquei.

 

— Imagino que não. Eu também não gosto, porque outra pessoa gostaria?

 

— Não tem ideia do quanto acho extraordinário você ter esse tipo de pensamento. E me sinto mal por tê-lo julgado da forma que julgo todo e qualquer homem. Mas é a forma que tenho para me defender.

 

— Compreendo. Inclusive, isso explica o porque de todas as mulheres que já passaram por aqui, você ser a única que se manteve distante. – ele riu – Acho redundante dizer que todas as outras deram em cima de mim, né?

 

— Imagino. – respondi revirando os olhos.

 

    Ele riu, mas dessa vez sua risada foi divertida e gostosa de se ouvir. Era tão boa e contagiante, que não resisti e rir junto dele.

 

— Sabe… – disse ele finalmente após rimos por um bom tempo – Meu pai se casou com minha mãe, não foi por que ela era bonita ou porque ela tinha dinheiro…

 

    Eu o encarei confusa. Porque ele tinha voltado ao assunto dos pais dele?

 

— Ela era bonita sim. Apesar de não gostar de se arrumar ou maquia. Sabe, era uma beleza natural e simples, mas ainda assim bem atraente. Ela não era rica, mas ganhava bastante com sua arte, se tornando um bom partido financeiro. – ele continuou passando a me encarar nos olhos – Mas meu pai me disse que a escolheu por causa do coração dela.

 

    Devo ter esbugalhado meus olhos com aquelas palavras, pois ele passou a me olhar novamente daquela forma que eu não decifrava.

 

— Meu pai era amargurado e descrente com a humanidade. Já minha mãe era sonhadora e bondosa. E por algum motivo, o compreendia. Logo, ele a viu como sendo o coração que ele perdeu no decorrer de sua vida, sendo assim, era impossível não amá-la e desejar um futuro ao lado dela.

 

— Nossa…

 

— Já minha mãe via em meu pai o garoto que teve que virar homem muito rapidamente. Alguém que nunca se permitiu falhar, que desprezava maioria das pessoas e carecia de amor.

 

— Caramba, mas eles são bem diferentes. Como vivem juntos até hoje?

 

— Diálogo, aceitação, compreensão… Eles nunca brigaram. Não concordam em tudo, mas sabem dialogar e aceitar a perspectiva um do outro. Sem falar que um era o que o outro precisava, em diversos aspectos. – ele riu por um instante – Me lembro que sempre que discutiam, um estava sempre calmo, mesmo que o outro gritasse irritado. Era engraçado de ver.

 

— Como eles se conheceram? Se não for me intrometer demais… – perguntei insegura.

 

— Internet. Num fórum de arte. – eu o encarei incrédula – Sério! Meu pai apesar de não ter talento algum para isso, sempre foi um apreciador. E ao se conhecerem a distância e viverem separados por um bom tempo, o que os uniu foi algo que não muda com o tempo: a alma. Logo, não importa se minha mãe era linda quando nova e nem tanto agora que está velha, foi a alma dela, e no caso o coração também, que fez meu pai se apaixonar. E no fim, ambos queriam um parceiro para formar uma família, logo…

 

— Isso é algo raro.

 

— Isso é o que todos deviam fazer, mas como a maioria é egoísta, dificilmente acontece. E mesmo quando acontece, poucos dão o devido valor. Lamentável, não?

 

— Sim. – respondi de forma meio vaga, pois eu estava refletindo no que ele dissera – É isso então? – ele me olhou com cautela – Você quer fazer como ele, e achar a mulher que lhe completa assim como sua mãe completou a vida de seu pai?

 

    Ele abriu um tímido sorriso.

 

— Não custa tentar, né? Apesar de que, acho que achei essa mulher, mas não vou força-la a ficar comigo, só porque para mim ela é o que eu buscava. – ele coçou a cabeça – Afinal, posso não ser o que ela busca, ela teria que me conhecer direito, ver meus defeitos, pra ter certeza de que quer construir uma vida ao meu lado.

 

— Você tem defeitos? – comentei brincando.

 

— Todo mundo tem defeitos, mesmo que a própria pessoa não perceba. Por isso a convivência é importante. É no dia a dia que se conhece uma pessoa.

 

— Gosto da sua forma de pensar. – abri-lhe um sorriso sincero – Espero que tenha sorte com essa garota. Você merece. Sem falar que ela teria de ser uma idiota para não querer ficar com você.

 

    Ele riu, mas não disse mais nada depois disso.

 

    Comecei a guardar minhas coisas e a me despedir, pois já havíamos estourado a tempo da entrevista. Eu ainda tinha coisas a fazer naquele dia, e ele também.

 

    Já estava novamente no corredor da empresa, quando ouvi Jean me chamando da porta de seu escritório.

 

    Será que eu esqueci algo?

 

— Queria saber se você aceitaria vir lanchar comigo na sorveteria, qualquer dia desses? – perguntou ele meio acanhado.

 

    Que? Eu ouvi direito?

 

    O encarei incrédula por um tempo, até minha ficha cair, me fazendo rir abobalhada por não ter percebido antes.

 

— Por acaso você não está me chamando para um encontro, não é? – questionei colocando as mãos na cintura e o encarando incrédula.

 

— Não será, a menos que queira. – respondeu ele sem jeito.

 

    Em resposta eu apenas ri e entrei no elevador, gritando e apontando para ele antes de fechar a porta.

 

— A ideia foi sua. Então você paga essa!

 

    Antes da porta fechar, o ouvi gritando em resposta.

 

— Justo!




Fim…

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