CAPÍTULO 5

    Eu estava com a cara no chão de tão envergonhada. Definitivamente eu deveria parar a entrevista ali, mas aquela situação era tão incomum, que não me contive em continuar.

 

— Por acaso… – titubeei insegura – Você é virgem?

 

    Ele começou a gargalhar de uma forma que me deixou mais desconfortável.

 

— Gostaria de poder dizer que sim. Mas infelizmente, quando se é adolescente, é quando mais se faz merda. Principalmente quando essa nossa sociedade pressiona os garotos a isso. – ele riu com escárnio — Se é virgem: é maricas. Se já transou: é o cara… Me diz, porque aos garotos é cobrado iniciar a vida sexual o quanto antes, enquanto as garotas é exigida a castidade? No mínimo, isso não me parece ser nada justo.

 

— De fato não é. Mas porque se importa com isso?

 

— Só porque não sou mulher, não deveria me preocupar com o que é justo ou injusto a elas? – ele me encarou com a sobrancelha levantada – Pensei que buscassem igualdade. Mas se já julgam ou excluem um homem por ele ser homem, não acha que já se começa errado?

 

— Bom… Talvez…

 

    Ele abriu a bomboniere e pegou mais um doce, de abóbora agora. Ele parece que não se controla quando está nervoso, pois já comeu vários doces.

 

— Não queria ser intrometida, mas… – engoli em seco – Parece que sua “primeira vez” não foi tão agradável.

 

    Ele riu.

 

— É comum acharem que o simples fato de fazer sexo é prazeroso para os homens. Mas sinto em dizer que, assim como as mulheres, também precisamos de estímulo, nos cansamos, podemos nos machucar e ser abusados nesse momento tão frágil para ambos. – ele explicava como se tivesse dando uma aula – É que normalmente os babacas “machões”, não querem admitir esse tipo de coisa, muito menos que foram usados por uma mulher. – ele riu novamente – O que é idiotice.

 

— Você foi abusado? – perguntei chocada.

 

— Por sorte. Não. Mas conheço quem já foi…

 

— Credo!

 

— Sem falar que, ser o “garoto bonito” da escola, aquele com quem toda garota quer ficar, também não ajuda. Pois todas que dão encima de ti, não gostam realmente de você, mas de sua aparência e fama. Há quem goste desse tipo de atenção…

 

— Não era seu caso pelo visto…

 

— Parece óbvio né? Mas não era bem assim para o povo com quem eu convivi na escola. E os rapazes me incomodavam muito, já que eles perdiam garotas por minha causa… – lamentava ele com um estranho sorriso triste – Eu definitivamente devia ter ignorado esse povo e ter ouvido minha mãe.

 

— Você teve “aquela conversa” com sua mãe?

 

— E por que não? – ele me encarou se divertindo com minha surpresa – Ela é mulher. Eu pretendia ficar com uma mulher. Porque não ver o ponto de vista delas? E antes que pergunte: sim, também conversei com meu pai. Mas a conversa com minha mãe foi a mais elucidativa.

 

— Porque? – não consegui conter a pergunta.

 

— Minha mãe se enquadra no grupo das “meninas que se importavam com a própria castidade”. Ela teve muitos péssimos exemplos, sabe. Amigas e até parentes que engravidaram cedo, tiveram que ser mãe solteira e desandaram a vida de alguma forma…

 

— Também conheci gente assim.

 

— Pois é. Inclusive, é ridículo o fato que nessas situações, a maior, senão única, penalizada seja a mulher. – ele fechou a cara com desgosto – De todo modo, não que minha mãe julgasse essas garotas pelo fato de terem cometido o único erro de abdicar cedo da virgindade, mas por elas terem tomado uma série de decisões erradas, onde essa era apenas mais uma delas. E ela aprendeu com isso. A começar por: se é para ficar com alguém, que fosse com um Homem que sabe o que quer, e não um Garoto que só estivesse curtindo a vida.

 

— Nossa! Isso até faz sentido.

 

— E a lição mais importante: a vida é sua! Faça o que VOCÊ ACREDITA ser certo, e não o que os outros DIZEM ou ACHAM ser o certo. Eles podem estar errado e você não pode culpá-los por ouvi-los, pois no fim, a escolha e as consequências dela, são apenas suas.

 

— Nossa!

 

— Profundo não? – disse ele tentando abrir um tímido sorriso – Queria tê-la ouvido e não ter dado trela aos babacas da escola, mas…

 

— Seria pedir demais perguntar o que houve?

 

— Não foi nada demais. Só não queria que minha primeira experiência tivesse sido desconfortável. E tanto menos que a garota me exibisse como um troféu. – ele bufou chateado.

 

— Sério?

 

— Isso talvez não aconteça no seu círculo de amigas, mas não apenas os homens são babacas nesse ponto. Tem bastante mulher que é tão babaca quanto, mas ninguém dá bola, pois aos olhos da sociedade em que vivemos, isso só é babaquice se for um homem expondo uma mulher, não o contrário. – ele me encarou sério – E isso só acontece porque os homens acham que são mais fortes. Só que não somos, tanto menos as mulheres são frágeis, mas com toda certeza, AMBOS são idiotas.

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