CAPÍTULO 3

    Apesar de toda “ostentação” externa, no mobiliário e condições de trabalho dos funcionários que eu vi até aquele momento, por algum motivo, o escritório dele era bem humilde.

 

    Confesso que esperava uma enorme mesa de algum material mega caro, estantes com prêmios e certificados, um bar ou um frigobar, além de alguma outra coisa extravagante, mas, acredite se quiser, naquele escritório havia apenas uma mesa executiva, duas cadeira de um lado e uma do outro, além de um armário de arquivos. E só!

 

    A única ostentação mesmo era no tampo da mesa, que era de mármore, mas nem era dos mais extravagantes, então nem deve ter sido caro.

 

    Tenho que admitir que isso me surpreendeu.

 

— Por onde deseja começar senhorita?

 

    Fiquei muda por um tempo.

 

    Eu não havia pensado em como começar a entrevista, de forma a fazê-lo falar de sua vida pessoal sem notar. Tanto menos queria dizer a ele que estava ali para expor sua vida nas colunas sociais.

 

    Mas pensando bem… Quando a matéria for para o jornal, ela estará assinada com meu nome. Meio que ele ficará sabendo de tudo no fim… Ai céus!

 

— Bom. – se adiantou ao me ver ainda muda – Levando em conta que sobre o lado profissional, já é divulgado em várias revistas, suspeito que tenha vindo para descobrir algo que não saibam… Estou correto?

 

    Tentei disfarçar minha surpresa ao encará-lo, mas aquele olhar tranquilo que parecia oculta uma astúcia sem igual, não me permitiu ser eficiente em minha tentativa.

 

— Não queria que eu soubesse disso, não é?

 

— Bom… – tentei novamente falar algo, mas eu estava sem jeito.

 

— Não se preocupe senhorita Martins. Eu não mordo. – disse ele rindo – A menos que queira… – essa última parte foi sussurrada e acompanhada por um sorriso de canto.

 

    Céus! Ele está me cantando ou não?

 

    Hora ele parece profissional, hora não. Além de ter aquele olhar de alguém que sabe de algo, mas não vai me contar amenos que eu esteja perto da resposta… Como num jogo…

 

    É isso! Ele está jogando. E eu como bela trouxa que sou, estou caindo na dele!

 

    Ah! Mas nesse jogo, jogam dois!

 

— Tenho que admitir que não pretendia ir direto ao ponto. – disse me ajeitando na cadeira, para poder encará-lo à altura – Mas sim. Me mandaram para extrair de ti algo que mais ninguém saiba…

 

— Algo íntimo, suponho? – disse ele se arqueando sobre a mesa para ficar mais próximo de mim, sorrindo logo em seguida.

 

    Merda! Eu ia fazer isso! Qualé a desse cara?

 

    Melhor não jogar com ele. Tá na cara que vou sair perdendo… Provavelmente minhas roupas…

 

    Terei de cortar essa postura dele. Sou uma jornalista, não uma fofoqueira, muito menos uma va… Arhg!

 

— Se desejar falar de sua intimidade, esteja a vontade. Mas eu sou uma profissional senhor Renard…

 

— Pode me chamar de Jean. – ele me interrompeu, voltando a encostar as costas na cadeira.

 

    Maldito!

 

— Como eu ia dizendo Senhor Renard…

 

— É sério, senhorita Martins. Me chame de Jean. Nem meus funcionários me chamam de “Senhor Renard”. Apenas quando temos visitas externas. Preso por um clima mais familiar em minha empresa, mas sei que formalidade espelha a seriedade de meu negócio. No entanto, o evito quando não é necessário.

 

— Então, não acha que essa entrevista precise de formalidades? – questionei arqueando uma sobrancelha.

 

— Creio que não, senhorita Martins.

 

— Então, porque continua me chamando de “senhorita Martins”?

 

— Você não me deu permissão de usar seu nome. Não serei petulante em presumir que eu tenha a liberdade de não ser formal contigo, só porque não desejo que seja formal comigo.

 

    Por essa eu não esperava.

 

    Ou será que é mais uma jogada? Será que estou exagerando em achar que ele está jogando comigo, tentando me seduzir?

 

    Nesse instante ele abriu uma gaveta da mesa e retirou de lá uma bomboniere cheia de doces artesanais.

 

— Deseja beber algo? Água talvez? – ele perguntou se servindo de um doce de banana – Servida? – disse ao me oferecer os doces.

 

— Aceito apenas a água. – disse meio sem jeito – Pode me chamar de Eliz. – enfim cedi.

 

— É um nome bonito. – disse ele com um ar satisfeito – Você é xará de uma excelente cantora.

 

— Gosta desse tipo de música? – não consegui conter a pergunta, afinal, sou filha de um musicista.

 

— Em termos musicais, posso dizer que sou eclético, pois cada momento há uma música que se encaixe. Mas, devido a influência de meus pais, posso dizer que o rock clássico é meu gênero predileto. – ele me encarou confuso por um instante – Não vai anotar ou ligar o gravador?

 

— Como?

 

— Já começamos a entrevista, não? – ele disse rindo da minha cara de tacho.

 

— Oh! Sim

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