CAPÍTULO 2

Já era relativamente tarde, e Guerrard esperava Lúcia chegar em sua casa. Ele optou por aguardar em frente a residência onde ela morava, através da Umbra, pois dessa forma ele teria um tempo para esfriar a cabeça. Mas assim que ele a viu na garupa da moto de outro homem, qualquer tentativa de ficar mais calmo se foi.

E como se não bastasse, ela permitiu que AQUELE homem a beijasse, sem reclamar.

O sangue fervia e a indignação era crescente, fazendo aquela raiva tão comum a Guerrard, se tornar uma explosão de fúria.

Mentirosa!

Através da Umbra, o demônio se esgueirou até o quarto de Lúcia, só aguardando ela chegar para poder puni-la por sua mentira, pois não apenas ela havia mentido, como havia desrespeitado aquele que era seu dono por direito. Ela se vendeu a ele, era dele todo o direito sobre o corpo dela, logo, ela não podia simplesmente se negar a ele e se oferecer a outro.

Não! Ela era dele!

Ao entrar no quarto, Lúcia foi tirando a blusa de frio e os sapatos para ficar mais confortável, depois daquele dia difícil de engolir. Mas a mão com garras afiadas apertando seu braço, fez todo e qualquer conforto se esvair e dar lugar a um pânico avassalador.

— É assim sua vadia! – Guerrard urrou furioso – Eu lhe peço com educação um simples beijo e você me nega. Soltando um papo mequetrefe, sobre não beijar quem não ama. Mas quando aquele otário lhe rouba um beijo, você apenas fica acanhada e sorri pra ele!?

A raiva tomava o demônio, fazendo aos poucos sua aparência se modificar, deixando a experiência aterrorizante para Lúcia a cada segundo que se passava. E por algum motivo, sentir o medo dela estava irritando ainda mais Guerrard.

— Me larga. – pediu Lúcia aterrorizada.

— Não! Você é minha! Me deu direto sobre seu corpo e sua alma para manter sua prima e afilhado seguros. – ele rosnou como uma fera arisca – Ou deseja que eu os mate agora mesmo, para se ver livre de mim?

— Não! P-por favor. – a voz de Lúcia saía trêmula em meio ao medo e lágrimas – Deixe-os em paz. Por favor. – ela pediu soluçando.

— Então, se deseja o bem deles, me obedeça como uma boa escrava. – disse Guerrard em meio a outro rosnado.

Ela nada disse. A raiva de Guerrard aumentava a cada reação de medo de Lúcia, era como se sua raiva fosse alimentada pelo medo dela, porém, não porque ele queria que ela reagisse de outra forma, mas porque ele não sentia o mesmo prazer de antes ao vê-la temê-lo.

Guerrard sentia que havia algo de errado acontecendo. Algo não estava certo. E não entender o que estava errado era irritante.

— Vai me obedecer? – perguntou depois de um tempo em silêncio, mas sua voz ainda saia com um rosnado gutural.

— Vou… – respondeu Lúcia engolindo o choro.

— Boa garota… – era perceptível o sarcasmo em meio a raiva. – Então, vai me deixar beijá-la?

Lúcia assentiu com a cabeça.

Na expectativa de não conseguir se aproximar dela, mesmo com o consentimento, Guerrard levou o rosto para se aproximar do dela. Mas antes que pudesse tentar beijá-la, no fundo de seus pensamentos, Lúcia recitava uma espécie de mantra que expressava seu desejo de não ser tocada por ele, tamanho era seu medo.

Ela tinha mentido sobre a permissão.

— Mentirosa! – furioso, o demônio a arremessou contra a cama.

No gesto, a blusa fina que Lúcia usava enroscou nas mãos de Guerrard, que agora eram como garras, e se rasgou, fazendo com que ela ficasse com o dorso despido. No susto, ela se agarrou ao lençol, mas com isso acabou ficando com as costas despidas à vista de Guerrard.

Sem ter total consciência do tempo que se passava, ele ficou observando a pele nua a sua frente. Guerrard sentiu seu corpo se aquecer de uma forma diferente com aquela visão. Ele sabia que a garota imaculada tinha um corpo desejável, mas ver aquele trecho de pele era a mostra irrefutável de que ela era realmente lhe despertava desejo. Sem perceber o que fazia, ele se aproximou da cama vagarosamente, desejando poder tocar aquele corpo. Ao ficar próximo a ela, Guerrard começou a deslizar as garras pela pele das costas de Lúcia, seguindo a linha da coluna.

Era extraordinário a sensação de tocá-la. Mesmo com as garras, Guerrard podia sentir uma aprazível descarga elétrica passar do corpo dela para o seu. Era fascinante. Mas o que para ele estava sendo bom, para ela estava sendo horrível. Sentir o medo e repulsa dela fez com que toda sensação boa sumisse, e uma raiva feroz se manifestasse com um grunhido carregado de ódio.

Se ela não sentia o mesmo que ele, não poderia sentir aquilo com mais ninguém. Ela lhe pertencia. De fato lhe pertencia. Era seu direito incontestável, concedido por ela mesma através do pacto. Devia impedir que ela fizesse aquilo novamente.

Foi então que Guerrard se lembrou de uma das várias coisas que Victor lhe ensinou. Certa vez, ele havia falado que alguns luxuriosos, a muitos séculos atrás, marcavam suas vítimas para facilitar sua captura. Era uma marca que inibiria o contato com o sexo oposto através da dor. Os luxuriosos usavam isso para que suas vítimas acreditassem que só a pessoa certa não lhe faria mal, em outros casos, para deixar a pessoa sedenta até não aguentar mais e se render ao demônio que a amaldiçoou. E no caso, essa ideia parecia perfeita.

Com as garras, Guerrard voltou a tocar nas costas de Lúcia, mas dessa vez com elas encobertas de chamas negras. Ele perfurava a carne e fazia talhos que desapareciam de imediato. A jovem imaculada gritava de dor, mas ele sempre dava um jeito de silenciar o quarto para que nunca fossem interrompidos. Dessa vez porém, ele se concentrou em silenciar os gritos dela, não apenas os sons que saiam do quarto.

Ele não queria ouvi-la gritar.

Por que não queria ouvi-la gritar?

Quando concluiu, ele se agachou para chegar bem perto do ouvido dela o mais perto que conseguia, e sussurrou, buscando voltar a se acalmar.

— Isso é pra você não se esquecer de quem é seu dono. – disse Guerrard em tom suave – Essa marca vai te lembrar quem é o único que pode tocá-la. – continuou ele tentando parecer sedutor.

Lúcia nada disse, a dor ainda era presente e ela só conseguia chorar, tendo em vista que seus gritos nunca seriam ouvidos por ninguém, nem mesmo por ela própria.

— Espero que reconsidere meu pedido quando eu voltar.

Então Guerrard partiu, segurando sua raiva, para descontá-la em outro lugar.

 

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