CAPÍTULO

5

RECONCILIAÇÃO E DESCONTENTAMENTO

ROGER

Abracei meu pai como se o não visse há anos.

— Olá, pai! Tudo bem? Como foi de viagem?

— Está tudo ótimo! Foi tranquila! E você? Como foi a estadia na casa do seu avô?

Queria denunciar o vovô por tudo que havia acontecido, mas me segurei porque não sabia como ia contar. Imaginei que meu pai poderia estar muito cansado e não queria estressá-lo já no seu primeiro dia de volta.

— Sim, pai. Está tudo bem. A viagem foi rápida. Vim de drone.

Drone? Seu avô está com dinheiro — disse meu pai, desconfiado.

— Pai, por que não vai descansar? Deve estar cansado — perguntei, tentando mudar de assunto.

— Estou cansado sim, mas tenho umas coisas para fazer. Serão quinze dias em casa. Acho que vai dar para descansar bem.

— Ok, pai. Já estou de férias. Vamos marcar para curtir um pouco.

— Boa ideia, filho. Estou precisando mesmo sair para descontrair.

Recebi uma notificação de mensagem da Desirée:


Me avise quando chegar para eu poder ir te ver e te encher de beijos. Te amo!

[10:32 AM]


Respondi imediatamente que já havia chegado.

— Pai, vou subir e tomar um banho. Desirée está vindo.

— Ok, meu filho.

Passei pela cozinha para beber água.

— Cadê a Clara? — perguntei para meu pai.

— Dei folga. Ela volta no domingo para fazer um almoço especial para gente e seu irmão que acabou de sair. Foi na casa de um amigo.

— Amigo? — me perguntei, mentalmente.

Quase não via Romeo falando com ninguém, quanto mais ter amigos, mas como não estava muito interessado em saber dele, nem me importei. Bebi minha água e subi para meu quarto. No meio da escada meu pai me gritou.

— ROGER!

— Fala, pai.

— Já ia me esquecendo. Marquei com seu irmão para irmos almoçar fora. Vem também. Vamos pôr as conversas em dia, você pode levar sua namorada.

— Ok, pai. Vou ver.

Meu irmão era um chato. Não queria ir, mas também não queria dispensar uma oportunidade de estar na companhia do meu pai. Deixei isso para depois e fui tomar um banho.

Enquanto estava me arrumando para Desirée olhei para cama e me lembrei do corte que fiz com aquela arma. Puxei o lençol e não vi o corte. Levantei o colchão e vi que o corte estava por baixo.

— Quem mexeu aqui? — me perguntei. — Teria sido a Clara? — pensei, desconfiado.

Peguei o chaveiro da minha mochila e fiquei olhando para ele por uns minutos, imaginando as baboseiras que me disseram sobre ser o escolhido.

— Maldito — resmunguei, falando do meu avô.

A campainha tocou e recebi uma mensagem da Desirée quase que ao mesmo tempo.


Cheguei.

[11:01 AM]


Deixei o chaveiro sobre a escrivaninha e desci correndo. Abri a porta e Desirée pulou em cima de mim, me abraçando.

— Calma, meu anjo! Assim vamos cair! — disse, assustado pela reação dela, mas muito feliz por tê-la em meus braços.

— Te amo! Te amo! Te amo! Me perdoe!

— Calma, meu anjo! Não tem que me pedir perdão por nada. Eu que tenho que me desculpar com você.

Desirée começou a chorar e eu a abracei com força.

— Vem. Vamos na cozinha beber algo.

Desirée me acompanhou e dei um copo de água bem gelado para ela. Subimos para meu quarto. O sábado começava bem quente. Ótimo para curtir uma praia.

— Está sozinho em casa Roger? A casa está silenciosa.

— Não. Meu pai está lá no quarto dele.

— Legal! Ele já voltou.

— Sim. Chegou ontem.

— Que bom! O que vamos fazer hoje? Vamos sair e matar a saudade.

— Sim! Vamos, sim! Mas meu pai nos chamou para almoçar fora. Eu não estava a fim não porque o chato do meu irmão também vai.

— Nossa, Roger! Deixa de ser cruel com seu irmão. Por que você não se dá bem com ele?

— Na verdade nem eu sei direito. O que me irrita é o jeito dele de se achar certinho. Apesar de eu sempre ter tido muitos amigos, em casa sempre me sentia solitário. Meu pai vivia fora trabalhando e só tinha a Clara para ficar comigo. Quando Romeo apareceu achei que seríamos ótimos amigos, mas ele sempre foi reservado e não falava muito. Ele desde sempre apresentou certas habilidades que chamavam atenção e isso fez com que meu pai desse mais atenção para ele. Comecei a notar que, para meu pai, o Romeo era o filho perfeito e eu o filho desordeiro que só queria saber de bagunça.

— Parece que você tem é ciúmes dele. E inveja por ele fazer coisas que você não faz ou tem dificuldades em fazer. Vocês são gêmeos, mas cada um tem seu lado especial. Você, ao contrário do seu irmão, consegue cativar as pessoas. Fazê-las rir com suas piadas que eu mesmo às vezes acho sem graça.

— Minhas piadas são sem graças? — perguntei, com um olhar de desapontado.

— Brincadeira, amor. Mas voltando, essas são qualidades que faz com que as pessoas queiram ficar perto de você. Esse seu jeito descontraído que me atraiu. Você sabe muito bem que eu era muito fechada. Acho que era até mais do que seu irmão, mas você tirou isso de mim. Me ajudou a aproveitar mais o que o mundo pode oferecer de bom e é por isso que sou louca por você. Você me completou.

Olhei para ela emocionado com suas palavras e a beijei como se nunca a tivesse beijado antes. Foi um longo beijo de quase cinco minutos. Quando parei de beijá-la, já quase sem fôlego, olhei para o relógio e vi que já era mais de meio-dia. Quando pensei no meu pai, ele bateu na porta.

— Dá licença! Olá! Atrapalhei alguma coisa?

— Nada, pai. Entre!

— Olá, Sr. Fred! — disse Desirée.

— Tudo bem, Desirée? Estão prontos?

— Melhor impossível, Sr. Fred! Sim, estamos prontos. Roger falou que sairíamos todos juntos.

— Sim! Só está faltando o Romeo. Vou mandar uma mensagem para ele.

Fiquei olhando para meu pai desanimado enquanto ele mandava a mensagem para meu irmão chato.

— Pronto! Agora é só aguardá-lo — disse meu pai, empolgado.

Não demorou nem dois minutos e ele recebeu uma mensagem. Ele me olhou com um olhar desapontado.

— Pessoal recebi duas mensagens aqui. Uma é que o Romeo respondeu avisando que não vai poder ir. Por um lado, foi até bom porque também não vou poder devido a um imprevisto que surgiu agora. Acho que vai ser bom para vocês dois. Vão poder curtir o resto do dia a sós.

— Que pena, pai — respondi, com um ar de sarcasmo.

Fiquei feliz por um lado, pois foi um alívio não ter que sair junto com meu irmão. Por outro fiquei triste porque meu pai mais uma vez estava colocando o trabalho na frente da família. Já brigamos várias vezes por causa disso e parecia que nada havia mudado. Como não estava muito a fim de me aborrecer, deixei meu pai de lado e chamei Desirée para irmos almoçar fora. Ele saiu e foi para o quarto dele trabalhar e eu peguei na mão da Desirée.

— Vamos, meu anjo. Vamos ao shopping comer alguma coisa e aproveitar a nossa tarde de sábado juntos.

— Sim, meu amor. Vamos!

— Já pedi um transporte rápido. Está quase chegando.

Descemos e do lado de fora o motorista já estava à nossa espera. Entramos no veículo e em poucos minutos já estávamos no shopping. Cheios de fome, seguimos direto para a praça de alimentação. Desde a entrada, pelo meu Tab P, que já havia se conectado com o aplicativo do shopping fui fazendo nossos pedidos para não perdermos tempo. Escolhemos um lugar e sentamos. Notifiquei o número da mesa que escolhemos e em pouco mais de dois minutos já vinham chegando nossos pedidos.

— Nossa, amor! Quanta coisa!

— Realmente! Acho que exagerei.

Não sabíamos por onde começar. Olhei para toda aquela comida e iniciei pelas coxinhas de frango empanadas. Desirée me acompanhou e ficamos por quase cinco minutos calados, só mastigando.

— Até que está vazio, apesar de ser sábado. Quando vim com Romeo na quinta-feira estava mais cheio.

Parei imediatamente de comer e olhei para Desirée, não acreditando no que ela havia acabado de dizer.

— Hã?! Repete o que você disse.

— Que hoje o shopping está mais vazio.

— E depois o que disse?

— Que na quinta-feira estava mais cheio.

— Você veio com quem?

Desirée percebeu que fiquei nervoso e respondeu cautelosamente.

— Com Romeo.

Dei um soco de leve na mesa. Ela me olhou assustada.

— O que foi, Roger?! Não gostou que eu tenha vindo aqui com seu irmão?

— O que você acha, Desirée?! VOCÊ ACHA QUE GOSTO DE SABER QUE MEU IRMÃO ANDA COM MINHA NAMORADA POR AÍ? — respondi, levantando o tom de voz.

— Me perdoa, amor! Não foi por mal! A gente estava brigado. Ele foi gentil. Saímos somente para conversar. Ele até me ajudou.

— AJUDOU EM QUÊ?

— A te entender melhor. Que você apesar de tudo sempre gostou de mim.

Fiquei perplexo!

— Romeo falou isso? — me perguntei, mentalmente, por várias vezes, em poucos segundos.

Mesmo com tudo isso não conseguia perdoar o meu irmão. Não gostava quando ele se intrometia na minha vida. Gostava de resolver as coisas por mim mesmo.

— Entendi, mas não gosto que você fale com ninguém principalmente com meu irmão sobre nossa relação íntima.

— Ok, Roger! Me perdoa!

— Tudo bem! Vamos terminar de comer.

— Só mais uma coisa, meu amor. Desde que você foi para seu avô foram duas vezes que saí com seu irmão. Na verdade, a primeira foi no meu aniversário. Quando você mandou a mensagem que estava acontecendo algo estranho e que estava indo para seu avô eu vim correndo para sua casa. Você já havia saído e o seu irmão me chamou para sair e não deixar meu dia passar em branco. Só saímos para comer alguma coisa.

— SÓ PARA COMER ALGUMA COISA?! VOCÊ ME TRAIU, DESIRÉE!

— Para, Roger! Eu não te traí! Nunca ia te trair, ainda mais com seu irmão!

Levantei furioso e resolvi ir embora.

— ROGER! PARE COM ISSO! VOLTE AQUI!

Saí sem olhar para trás e, quando já estava quase saindo do shopping, Desirée puxou meu braço:

— ROGER, ME-ESCUTA! EU TE AMO!

Uma lágrima escorreu do meu olho direito, mas a raiva ainda era grande e não me virei para olhar para ela. Desirée surgiu na minha frente, segurou meu rosto e olhou nos meus olhos:

— Roger! Eu te amo e para sempre vou te amar! Foi você que escolhi para ter ao meu lado por toda eternidade.

Não me segurei e a beijei.

— Me desculpe, meu anjo. Andou acontecendo tanta coisa nos últimos dias que ando com a cabeça cheia.

— Eu te amo, meu amor! Vamos embora agora!

— Sim! Vamos, sim! Vou te deixar na sua casa e vou para a minha esfriar a cabeça.

— Sim, meu amor. Vamos!

Ela segurou minha mão com força e saímos do shopping. Pedi um transporte rápido que nos levou até à casa dela. Chegamos e nos despedimos aos beijos.

Caminhei de volta para minha casa refletindo sobre o Romeo e Desirée. Ainda não tinha aceitado a situação do meu irmão com ela. Por mais que não tenha acontecido nada, me irritava profundamente a aproximação dos dois. Não saía da minha cabeça que, por mais que ela me amasse, o Romeo era igual a mim fisicamente e isso podia fazê-la ter algum pensamento íntimo com ele. O ódio ainda me dominava. Minha vontade era de acertar as contas com meu irmão intrometido.

Cheguei em casa e meu pai estava no sofá mexendo em seu Tab de 18” fazendo algum trabalho. Fiquei ainda mais chateado porque mesmo estando fora tanto tempo trabalhando ainda tinha que trabalhar em casa.

— Onde está o Romeo? — perguntei, secamente.

— Ainda não voltou. Está tudo bem? Está com uma cara de desânimo.

Não respondi ao meu pai e subi para meu quarto. Tomei um banho e me joguei na cama. Troquei várias mensagens amorosas com Desirée enquanto assistia um show de comédia no Tab TV. A porta do quarto se abriu bem devagar.

— Com licença, meu filho. Posso entrar?

— Pode, pai — respondi, sem tirar os olhos do Tab TV.

Ele entrou bem cautelosamente no quarto e se sentou na cadeira da escrivaninha. Meu pai não falou nada e ficou assistindo ao programa comigo. Depois de quase dez minutos ele comentou:

— Bem que depois desse programa poderíamos ver um filme.

— Seria bom, mas estou começando a ficar com sono — respondi, sem interesse.

— Que pena! Mas ainda está muito cedo. Nem são cinco da tarde. Não está com fome, não? Bem que podíamos pedir uma pizza.

— Estou com fome não, pai. Já comi no shopping com a Desirée. Só quero descansar.

— Compreendo. Vou deixar você descansar.

Meu pai saiu do quarto e fechou a porta. Na hora que estava fechando ele chegou a abrir novamente, mas voltou a fechar bem devagar. Parecia que ele queria dizer algo muito sério.

Terminei de ver o programa e fui jogar on-line. Toda hora parava para responder as mensagens da Desirée. Uma hora parei de respondê-la dando a desculpa que ia cochilar, mas fiquei jogando por mais de duas horas sem parar.

Começou a dar fome e desci para pegar uns biscoitos. Da escada vi meu pai vendo um filme no Tab TV da sala. Fui direto para cozinha, peguei dois pacotes de biscoitos e voltei para meu quarto. Continuei jogando enquanto via uma partida de futebol e comia. Já ia dar dez da noite e o sono já estava me dominando. Ia mandar uma mensagem de boa noite para meu anjo falando que tinha acordado só para ir ao banheiro e que ia voltar a descansar, mas me deu uma preguiça porque sabia que se iniciasse uma conversa ia demorar para terminar e geralmente quando estava com sono não conseguia ser romântico.

Desliguei tudo, abracei o travesseiro e fui dormir.

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