OS IRMÃOS DO GELO | CAPÍTULO 3

CAPÍTULO

3

EU SOU O ESCOLHIDO

ROGER

Já passava das três da tarde e saí correndo ansioso, mas ao mesmo tempo assustado. Não parava de pensar em toda essa loucura. Essa arma estranha e meu avô suspeito. Eram tantas coisas que acabavam me fazendo esquecer da principal situação que deveria pensar e me preocupar. Desirée.

Peguei meu Tab P e fiquei pensando se iria para estação, de transporte rápido ou de transporte público. Abri o aplicativo e vi os horários dos ônibus para a estação. Quase todos os transportes públicos hoje em dia são conectados e, por meio de aplicativos, era possível saber os horários, a ficha dos condutores, tarifas, tempo de viagem, quantidade de passageiros utilizando o transporte, dentre outras funcionalidades. Tudo se via em tempo real, facilitando muita a vida e não havendo desperdício de tempo.

Decidi ir de transporte público mesmo porque pelo GPS do Aplicativo de Transporte vi o ônibus se aproximando. Peguei e fui me distraindo com as janelas interativas do veículo. Em poucos minutos já estava na 30th Street Station.

Estava bem movimentado. A partida era seis da tarde. Ainda faltavam mais de duas horas e fui procurar algo para comer. Estava morrendo de fome! Sem andar muito, parei numa praça de alimentação, comprei um sanduíche e um refrigerante. Comi e fiquei jogando on-line até dá a hora do embarque.

Foi se aproximando o momento e embarquei. Me acomodei e logo adormeci, mas depois de alguns segundos de sono já estava em New York.

— Que rápido! Dormi e nem vi a viagem passar.

Desembarquei e peguei meu Tab P para prosseguir com o trajeto. Vovô havia planejado tudo de forma eficiente para que eu pudesse chegar à casa dele da forma mais rápida e confortável possível. Bem que ele podia ter pago um drone de transporte, mas ainda estava muito caro e burocrático viajar num desses.

Era tudo muito estranho porque vovô não gostava de tecnologia e de uma hora para outra já estava bem familiarizado com tudo que a era digital moderna podia oferecer. Quando abri o aplicativo de “trajeto de viagem programado” vi que havia várias mensagens do meu aplicativo de mensagem. Muitas eram de amigos me chamando para curtir a noite, mas uma delas era do vovô que dizia:

 

Olhe para frente.

[7:22 PM]

 

— Hã?!

Olhei para todos os lados procurando por algo que não sabia o que era. Depois de alguns segundos avistei o vovô Charles.

— Mas que louco!

Vovô estava me assustando cada vez mais. Aproximei dele.

— Seja bem-vindo, meu neto! Como foi a viagem?

— Foi bem, vovô. Na verdade, nem vi porque adormeci. Achei que encontraria com o senhor na porta da sua casa.

— Que bom que a viagem foi tranquila! Resolvi buscá-lo porque estava com muita fome e, como você sabe, não sou muito bom na cozinha.

Realmente vovô não gostava de cozinhar. Militar reformado, ele sempre deu seu jeito, ainda mais depois da morte da vovó.

— Sim. Então vamos jantar fora, vovô.

Chamamos um transporte rápido para nos levar a um restaurante. Vovô escolheu um bem legal que oferecia diversos tipos de pratos. Olhei para ele se divertindo com a interatividade do restaurante enquanto fazia os pedidos.

— Ei, vovô! Desde quando começou a gostar de tecnologia? Desde que me lembro o senhor nunca foi chegado a essas coisas.

— Sabe, Roger. Quando se aprende a perder o medo de descobrir coisas novas passamos a explorar e nos aventurar pelo mundo com mais audácia.

Fiquei olhando para o vovô desconfiado, mas até que contente por vê-lo se divertindo. Nunca tinha o visto assim. Vovô me perguntou o que queria comer. Fiz minha escolha na mesa interativa de pedidos e logo foram chegando os pratos. Enquanto comíamos, vovô me perguntava como estava na escola, como estava o papai, mas eu queria a todo momento interrompê-lo e perguntar sobre a estranha arma que estava comigo e de tudo que ele sabia a respeito. Aproveitei um breve momento de silêncio enquanto estávamos quase acabando de comer.

— Vovô, o que o senhor sabe sobre isso? — perguntei, mostrando o chaveiro.

Ele me olhou seriamente e quando ia dizer algo, fomos interrompidos por um garçom que trazia diversas sobremesas. Guardei o chaveiro e vovô abriu um sorriso de felicidade por ver tantos doces diferentes. Ele adorava.

Vovô se deliciava de se lambuzar e eu saboreava calmamente minha sobremesa olhando fixamente para ele esperando que dissesse algo. Depois de nós acabarmos com os doces, passamos quase uma hora jogando xadrez na mesa interativa de pedidos. Depois de seis derrotas para o vovô, pagamos a conta ali mesmo no cartão virtual e levantamos. Saímos do restaurante em silêncio e na porta estava a nossa espera um transporte rápido.

— Vem, Roger. Vamos para casa.

Fiquei imaginando que horas que vovô havia pedido o transporte rápido, pois nem o vi pegando em seu Tab P lá dentro. Entramos no veículo e partimos para casa dele. Não era muito longe. No caminho vovô pegou seu Tab P e parecia que ele estava mandando uma mensagem para alguém. Tentei ver para quem era, mas ele desligou.

Logo chegamos em casa. Dava para ter ido andando, mas já estava tarde e achei que vovô queria me poupar de qualquer esforço. Entramos e fiquei surpreso com o interior da casa cheio de eletrônicos de última geração. Só faltava uma daquelas AI de última geração que controlavam tudo. Realmente vovô estava vidrado na tecnologia moderna. Fazia pouco tempo que ele morava aqui. Ele se mudou de Overland, Kansas que era um lugar tranquilo e calmo para voltar a viver na badalada e movimentada New York. Achava que o vovô não queria curtir a aposentadoria na monotonia.

— Está aqui seu quarto, Roger. Fique à vontade. Eu vou tomar um banho e vou dormir. Amanhã teremos um ótimo dia. Boa noite!

Ele não me deu a oportunidade de discutir sobre a estranha arma. Queria ali e agora resolver isso, mas estava muito cansado e com sono. Havia sido uma terça-feira bem cansativa e seria melhor deixar para amanhã.

Tomei um banho e me joguei na cama. Peguei meu Tab P para ver as mensagens. Tinha dezenas e como não queria olhar uma por uma, ativei minha AI chamada Anne e fiz uma busca.

Anne. Buscar mensagens, Desirée.

— Mensagem não encontrada.

A mensagem que eu mais queria ver não estava ali. Pensei na Desirée por um momento e quando me vi já estava…

Ouvia sinos batendo. Batiam bem de longe e o som ia aumentando gradativamente. Eram sinos bem pequenos que estavam badalando bem perto dos meus ouvidos. O som aumentava cada vez mais e uma voz ao fundo dizia:

— Acorda, Roger! Acorda, Roger! Bom dia! Já estamos atrasados.

Acordei assustado e tentei olhar para todos os lados para saber o que estava acontecendo.

— O que foi que aconteceu, vovô? Acabei de dormir!

— Já dormiu o suficiente, Roger. Levanta. Já são cinco da manhã e estamos atrasados.

— Atrasados para quê, vovô?

— Para nossa corrida matinal.

— O quê?!

— Pegue esse tênis. Acho que vão servir em você. Estarei te esperando lá embaixo em cinco minutos.

Vovô parecia doido. Ele achava que ainda estava no “United States Marine Corps” USMC. Queria voltar a dormir, mas vovô não ia deixar. Com muito sono, me arrumei e desci. Vovô me jogou uma garrafa de suco e um sanduíche.

— Vamos, Roger. Vem comendo no caminho.

Olhei para o vovô assustado, mas aceitei a situação e saí com ele. Enquanto eu o seguia, lancei o olhar para a sua perna de metal. Ele havia perdido parte da perna direita na guerra do Vietnã.

Já estava para amanhecer quando seguíamos em direção ao Central Park. Enquanto caminhávamos, eu comia e ouvia vovô falando coisas sobre como era no tempo dele de serviço ativo no USMC. Eu só ouvia calado enquanto mastigava. Chegamos ao Central Park, vovô parou, deu umas alongadas e me perguntou se estava pronto. Tomei um gole de suco para fazer descer o último pedaço de sanduíche e respondi:

— Sim.

— Ok! Vou bem devagar e depois aumento o ritmo. Vamos!

Vovô colocou os fones de ouvido e sem esperar eu me alongar, saiu em disparada. Eu fui que nem louco atrás dele. Depois de dois minutos de corrida já não conseguia mais acompanhar o ritmo do vovô. Ele disparou e logo não o via mais à minha frente. Depois de alguns minutos, vovô já tinha dado uma volta pela lagoa e me alcançou. Ele deu uma reduzida.

— Já cansou, Roger? Nem começamos!

Olhei para o vovô com cara de quem não estava gostando e quando ia dizer que queria ir embora ele saiu em disparada novamente e logo já não o via mais. Novamente, depois de um tempo, vovô me alcançou e riu da minha cara quando passou por mim. Isso se repetiu outra vez e eu ainda estava acabando de completar a primeira volta.

Parei para respirar e vovô parou. Ele deu umas caminhadas em círculos à minha frente e falou que já estava na hora de voltar. Olhei para ele cansado e agradecendo mentalmente. Caminhamos bem devagar de volta para casa.

Vovô ainda sem fôlego caminhou até em casa sem dizer nada. Chegamos, fui tomar um banho e ele ainda foi fazer uns exercícios de musculação. Relaxei debaixo do chuveiro e quase perdi a noção do tempo. Saí do banho, me arrumei, peguei meu Tab P para ver as mensagens e quando desci as escadas até a cozinha lá estava pronto um belo café da manhã. Olhei para o vovô sentado à mesa e perguntei:

— O senhor que preparou tudo isso? Mas o senhor não gosta de cozinhar!

— Realmente, Roger. Eu não gosto de cozinhar. Fiz um pedido de comida expressa por esse aplicativo. Eles trazem de tudo em poucos minutos, desde pequenos lanches a café, almoço e jantar completos. São bem diversificados.

Vovô e suas tecnologias estavam me surpreendendo a cada dia. Me sentei e saboreei aquele belo café da manhã. Vovô pegou seu Tab Paper e foi ler as notícias. Eu continuei vendo as mensagens uma a uma. Tinha uma mensagem do Romeo. Fiquei surpreso e abri. Não acreditei no que vi. Um monte de emoji de carinhas com raiva. Fiz uma cara de irritado, mas logo em seguida, por um momento, bateu uma tristeza por não ter nenhuma mensagem da Desirée. Fiquei imaginando como ela estava. Logo depois me veio à mente a arma estranha. Aquela era a oportunidade perfeita para perguntar ao vovô e arrancar informações dele. Engoli o pedaço de maçã que estava mastigando e perguntei:

— Vovô, o que o senhor…

— Roger, vou te mostrar o que queria que você me ajudasse. Foi por isso que te chamei aqui — disse ele.

Vovô não havia me deixado perguntar. Fiquei olhando para ele furioso enquanto o via terminar de ler o jornal e quando ia tentar perguntar novamente ele se levantou.

— Me acompanhe, Roger.

Olhei para ele assustado e o segui. Vovô foi para o quarto dele e lá estava uma mochila arrumada.

— Vamos, Roger. Arrume suas coisas e vamos sair para visitar um amigo.

— Mas que amigo? E a ajuda que o senhor precisava?

— Chegando lá te mostro.

Fiquei imaginando o que o vovô estava planejando. Algo estava muito estranho. Fui no quarto onde estava, peguei a arma estranha e fui até ele.

— O que o senhor sabe sobre isso? Preciso saber!

— Coloque-o na mochila que chegando lá te esclareço as coisas. Vamos!

Fiquei surpreso com a resposta. Vovô então realmente sabia sobre a arma. Fiquei assustado e ao mesmo tempo curioso. Ia ser uma aventura interessante. Arrumei minhas coisas, peguei meu Tab P e joguei o chaveiro em forma de cubo de gelo que se transformava em uma arma muito estranha na mochila. Desci e vovô já estava me esperando. Saímos.

— Vovô, não vai desligar as coisas da casa e trancar, não? Vamos ficar fora o dia todo.

— Já estou trancando.

Ele pegou sua Tab P e tocou em algo na tela que fez a casa se desligar e travar as portas e janelas. Incrível. Vovô estava mesmo obcecado pela tecnologia moderna e isso já estava começando a me preocupar. Ele pegou o carro dele e partimos. Até o carro era cheio de tecnologias. A AI do carro era muito legal. Conversava naturalmente e planejava qualquer trajeto com perfeição.

Depois de horas de viagem fizemos uma parada rápida para o almoço. Comemos e prosseguimos. Não estava nem prestando atenção para onde estávamos indo porque estava quase que o tempo todo jogando no meu Tab P. Já era quase fim de tarde e do Tab P do vovô soou um toque de notificação de mensagem bem diferente. Ele acionou a direção automática e pegou o Tab P para ver o que era. Ele olhou e fez uma cara de preocupação. Eu ia perguntar o que tinha acontecido, mas ele abriu um sorriso e pediu para que eu enviasse uma mensagem para o Romeo, notificando-o que estava tudo bem.

— Hã?! Para quê?

— Nada de mais! Só para avisar. Ainda mais porque estamos longe de casa.

— Tudo bem, então.

Vovô até que falou uma coisa certa, mas não estava a fim de mandar mensagem para meu irmão. Ainda mais depois da última briga e as carinhas de raiva que ele havia me mandado. Hesitei por um segundo, mas no fim abri o aplicativo de mensagens e escrevi:

 

Está tudo bem. Logo mais entraremos em contato.

[5:31 PM]

 

Enviei e falei para o vovô. Ele agradeceu.

— Chegamos!

Olhei para ver onde estávamos e vi um portão automático que se abriu. Fomos em direção ao que parecia ser uma casa bem simples vista de longe. O quintal era bem grande com muitas árvores e um chafariz. Vovô estacionou e em frente à casa fomos recebidos por um senhor bem estranho. Ele nos recebeu com muito entusiasmo. Sr. Donovan Lewis, esse era seu nome, nos convidou para entrar.

A casa era bem simples, mas vendo-a por dentro parecia ser bem maior. Aparentemente era bem confortável e ao contrário da casa do vovô não havia muitas coisas tecnológicas à vista. O Sr. Donovan tinha vários empregados. Era estranho, pois parecia que não tinha muito o que se fazer, tirando o quintal enorme. Ele falou que passaríamos a noite ali, mas eu estava achando tudo muito suspeito.

— O que será que o vovô estaria querendo? Que tipo de ajuda ele queria de mim? — pensei, confuso.

Tudo que eu queria saber era sobre aquela arma estranha que estava comigo. O Sr. Donovan nos apresentou os quartos que ficaríamos e imediatamente nos acomodamos. Ele avisou que o jantar estaria pronto em dez minutos. Já eram seis da tarde e como não tinha comido nada nas últimas horas, somente almoçado, estava cheio de fome.

Fui até a sala de jantar e lá estava quase arrumada uma bela mesa. Empregados do Sr. Donovan terminavam de arrumar. Ele parecia ser um homem rico e das antigas, tipo como o vovô era, sendo que ele mudou do nada e resolveu viver a vida moderna. Eu e o vovô fomos convidados a nos sentarmos à mesa. Toda a refeição ocorreu em silêncio. Fiquei um pouco incomodado com isso. Nunca tinha participado de nada tão formal assim.

— Senhores, agradeço a companhia neste jantar. Podem voltar a se acomodarem em seus quartos. O que precisarem é só falar — disse o Sr. Donovan, com um enorme sorriso de gratidão.

Que situação estranha. Não estava entendendo mais nada.

— O que estávamos fazendo aqui? — pensei, preocupado.

Voltamos para o quarto e quando ia falar com vovô, ele entrou no dele e bateu à porta na minha cara. Fiquei nervoso e me deu uma enorme vontade de chutar com muita força a porta do quarto onde ele estava, mas logo em seguida ele abriu, olhou para mim e me disse:

— Boa noite!

Olhei com cara de bobo e quando ia responder, ele tornou a bater à porta na minha cara. Que raiva! Fiquei quase um minuto em pé na dele esperando que ele abrisse novamente, mas desisti e fui para o meu quarto. Peguei meu Tab P, olhei as mensagens e nada de receber uma da Desirée. Queria mandar uma para ela, mas estava sem coragem de enviar um simples emoji. Joguei um pouco on-line e logo peguei no sono.

Estava tudo escuro. Sentia muito frio. Procurava algo para me agasalhar, mas não conseguia enxergar. Senti algo segurando minha mão esquerda. Tentava olhar para ver o que era. Na outra mão percebi que estava segurando algo. Parecia um cubo e estava muito gelado. Meu corpo começou a ficar muito quente e comecei a apertar o cubo com força. Ele irradiou uma luz muito forte que começou a iluminar tudo. Percebi que o cubo havia se transformado naquela arma estranha. Ela emitia uma luz constante. Me virei para ver o que estava segurando minha mão. Meu coração disparou quando vi que era uma criatura horrível como jamais tinha visto. Tentei me soltar, mas a criatura me puxou e atacou.

Acordei suado e com o coração muito acelerado. Foi um pesadelo horrível. Fiquei uns minutos tentando me acalmar, levantei e fui até a cozinha para beber água. Chegando lá havia um dos empregados na cozinha, preparando alguma coisa. Pedi com licença e solicitei um copo d’água. Ele respondeu com toda delicadeza que ia me servir. Achei estranho ter um empregado ainda acordado, pois vi que eram três da manhã.

— Aqui está sua água, meu jovem aprendiz.

— Obrigado, senhor?

— Pode me chamar de Will.

— Sim. Obrigado, Sr. Will! Posso lhe perguntar uma coisa?

— Sim, claro.

— O senhor não descansa? Já está tarde e o senhor aqui na cozinha trabalhando.

— Não se preocupe, meu jovem.

— Hum. Entendi. Mas o senhor não tem medo de ficar sozinho por aí a noite?

— Não, meu caro Roger. Também estão trabalhando o pessoal da segurança numa sala secreta. Eles monitoram tudo por minicâmeras.

— Minicâmeras? Devem ser bem mini porque não vi nenhuma até agora.

O Sr. Will riu com meu comentário. Eu o agradeci mais uma vez, me despedi e voltei para o meu quarto. Quando entrei, um forte sono me veio. Cai na cama já cochilando. Parecia que o Sr. Will tinha colocado sonífero na água.

— Acorda, Roger! Vamos sair. Acorda!

— Hã. Vovô? Corrida de novo? Está muito cedo!

— Que nada, Roger! Já são nove da manhã.

— Hã?! Mas como? Mal dormi! Estou perdido no tempo, vovô. Que dia é hoje?

— Hoje já é quinta-feira e vamos sair. Se arrume.

— Para onde vamos?

— Vamos fazer escalada.

— Hã?!

— Se arrume! Estamos te esperando!

Vovô saiu do quarto e eu fui tomar um banho para ver se acordava. Ainda estava muito sonolento. Depois de um belo banho, me arrumei, peguei meu Tab P e fui para a cozinha comer algo enquanto lia as mensagens.

Chegando à mesa, um farto café da manhã estava preparado. Todos estavam em pé olhando para mim. O Sr. Donovan pediu que sentasse e me servisse. Ele se desculpou por não ter me esperado para o café, pois todos já tinham feito a refeição matinal e não queriam interromper meu sono bem cedo.

Fiquei sem graça, mas como a fome era maior, sentei e me deliciei com a diversidade de coisas que tinha à mesa. Fiquei meio envergonhado, pois todos olhavam para mim enquanto eu comia. Acelerei com a refeição e logo levantei dizendo que estava pronto.

Eu, vovô e o Sr. Donovan seguimos para fora e lá nos esperava um carro desses mais modernos com motorista particular. Fiquei surpreso e concluí que realmente o Sr. Donovan era um homem bem rico, contudo simples em algumas coisas, principalmente em relação à tecnologia. Não se via muitas Tabs pela casa e nem nada tão conectado, tirando esse carro de última geração que estava parado à minha frente. Nem ao menos vi o Sr. Donovan com um Tab P.

— Como será que ele se comunica? — me perguntei, mentalmente.

Entramos no carro e lembrei que não havia pegado minha mochila.

— Espere! Preciso voltar e pegar minhas coisas.

— Não se preocupe, Roger! Está tudo aqui, inclusive os equipamentos para escalada.

Virei para o lado, vi o Sr. Will e com um olhar surpreso respondi:

— Obrigado!

Partimos. A AI do carro era incrível. Dava até para deixar por conta dela para dirigir todo o percurso, mas mesmo com todos esses recursos, o motorista conduziu até o destino ao som de música clássica. Preferiria ouvir um rap.

A viagem durou cerca de uma hora pela estrada e pegamos uma trilha. No fim dela paramos e em frente a uma outra trilha mais estreita que dava no topo de uma montanha, seguimos sozinhos. Caminhamos por cerca de uma hora e nos deparamos com um caminho que era uma subida um pouco íngreme. Preparamos os equipamentos e prosseguimos. Até que estava gostando da aventura. Vovô estava me surpreendendo. Depois de muitas horas e várias paradas chegamos ao topo. Tinha uma vista panorâmica muita linda. Eu e vovô ficamos admirando a paisagem por minutos. Sentamos à beira, tomamos água e continuamos apreciando a bela vista.

— Sabe, vovô. Devíamos fazer isso mais vezes.

— Com certeza, Roger! Isso é maravilhoso!

— Vovô, agora me responda! Qual era a ajuda que o senhor precisava de mim? Até agora não ajudei o senhor em nada.

— Meu caro neto. Na verdade, você está me ajudando desde quando eu o busquei na estação.

— Hã?! Mas como assim?

— Está me ajudando a viver. Desde a morte da sua avó e sua m… que não tenho sentido muita vontade de prosseguir. Andei vivendo com angústia e isolado, mas algo me fez depositar todas as minhas energias no que me resta de vida. Não sei por quanto tempo ainda vou viver, mas decidi que iria aproveitar ao máximo cada segundo e você está me ajudando e compartilhando isso comigo. Andei muito solitário nos últimos anos, mas agora será tudo diferente.

— Legal, vovô! Fico feliz que esteja compartilhando esses momentos comigo, mas uma pergunta: quem morreu além da vovó que o senhor ia falar? Algum amigo muito chegado?

— Não. Não. Foi a cachorrinha da sua avó que morreu um dia depois dela — respondeu o vovô Charles, sem graça.

Fiquei olhando para o vovô que permaneceu calado e que parecia querer chorar. Ficamos em silêncio por alguns segundos. Peguei na minha mochila o chaveiro em forma de cubo de gelo e fiquei observando sem falar nada.

— Roger, me dê isso aqui.

Entreguei para o vovô o chaveiro e ele ficou observando o cubo calado por alguns segundos.

— Sabe, Roger eu não sei se sou a pessoa certa para falar sobre isso, mas conheço quem sabe e que pode lhe esclarecer tudo com maior clareza.

— Mas o que o senhor sabe? Me diga, por favor!

— O que posso dizer é que isso é um objeto muito antigo e que carrega um poder desconhecido.

— Mas que poder é esse? Por que está comigo?

— Você é o escolhido.

— Escolhido para quê? Do que o senhor está falando?

— Vamos, Roger. Logo mais vai escurecer. Eu preciso ir.

Levantei, peguei minha mochila e questionei:

— Por que está escondendo a verdade de mim?

Vovô parou e olhou para mim com uma cara de surpreso.

— Você não está preparado. Pegue isso e guarde contigo.

Ele havia me devolvido a estranha arma em forma de cubo de gelo.

— Nem tudo posso lhe esclarecer, mas se sobreviver vou lhe mostrar quem pode.

Vovô pegou na minha camiseta e segurou com força. Olhei para ele assustado e perguntei o que estava fazendo. Vovô me puxou e me arremessou com força para o penhasco. Gritei desesperado em queda livre. Não acreditei que ia morrer assim e ainda mais pelas mãos do meu próprio avô.

O chaveiro, que estava em minhas mãos, começou a ficar gelado e a emitir uma luz muito forte. Apertei com força e ele se transformou na arma estranha. Uma faca que parecia estar bem gelada. Estava quase atingindo o chão, apontei a arma para baixo e ela lançou raios congelantes que começaram a me envolver e me congelar até formar uma bola enorme de gelo. Atingi o chão fazendo uma enorme cratera. A enorme esfera de gelo começou a se partir e eu saí de dentro intacto. Me levantei assustado e olhei para a arma em minhas mãos.

— Que incrível! — pensei alto, mas logo me toquei que poderia ter morrido.

O que o vovô estava pensando? Comecei a sentir um tremendo ódio dele. Sentia que a arma estava me guiando para algum lugar, mas logo em seguida ela voltou a se tornar um pequeno cubo de gelo.

— QUANDO EU SAIR DAQUI VOU TE DENUNCIAR POR TENTATIVA DE HOMICÍDIO! — gritei bem alto, cheio de raiva e olhando para cima.

Só tinha um problema. Não tinha a mínima ideia de como sair desse lugar. Era uma floresta bem densa. Parei, olhei para cima e tentei lembrar da vista lá do alto e vi que à minha esquerda a floresta diminuía, sendo que seria uma longa caminhada. Peguei meu Tab P para tentar entrar em contato com alguém, mas para minha infelicidade estava descarregado. Apesar de estar quase uma semana sem carregar acreditava que ainda tinha bateria para mais uns dias.

— Estranho! — pensei.

Joguei ele na mochila e segui em frente. Logo ia anoitecer e tinham muitos mosquitos. Corri para adiantar, mas me cansei rápido e já estava ficando escuro. Avistei uma árvore enorme que tinha uma pequena fenda que poderia servir de abrigo.

Parei para olhar o que tinha na mochila e torcendo que tivesse algo pelo menos para fazer uma fogueira. Tirei tudo de dentro e tinha meia garrafa de água, uns equipamentos de escalada, uma toalha, uns biscoitos, um boné, meu Tab P descarregado e, para minha sorte um isqueiro.

— Mas como tinha um isqueiro? — pensei confuso.

Não me lembrava de ter colocado isso na mochila. Também tinha umas outras coisas que não me lembrava de ter colocado. Uma lupa e um canivete… Achei estranho, mas deixei pra lá! Importante é que estava salvo até o momento e que tinha que sobreviver até sair desse lugar. Sem pensar muito, juntei uns galhos e acendi uma fogueira. Ajudou a espantar um pouco os mosquitos. Peguei uns biscoitos para comer e enquanto comia, fiquei imaginando diversas coisas horríveis sobre meu avô, sobre como estava Desirée e de como queria estar com ela naquele momento. Até pensei no meu irmão chato. Tudo que queria era sair desse lugar e ver meu avô preso. Forrei a toalha no chão e deitei. Continuei imaginando diversas coisas por horas e depois meus olhos começaram a pesar.

— Desirée!

De repente estava sozinho. Muito escuro. Uma luz bem longe apareceu. Corri sem parar, tentando alcançá-la. Consegui me aproximar. Era a faca coberta de gelo! Ela brilhava de forma irradiante e mais forte a cada instante que me aproximava. Tentei pegá-la e quando a segurei, meu corpo começou a congelar. Entrei em desespero, mas uma força aumentava cada vez mais dentro de mim. Tudo começou a ficar branco e branco.

— Hum, que isso?! Essa luz!

Era a luz do sol no meu rosto. Havia amanhecido e juntei todas as coisas para poder sair desse lugar. Pensei em ir correndo para sair dessa floresta o quanto antes, mas ia me cansar logo e perder muito mais tempo recuperando o fôlego. Resolvi ir caminhando e me guiando pela posição do sol até chegar ao ponto que vi do topo da montanha onde a floresta diminuía.

Passaram-se horas e parei para descansar. Estava com muita sede. A pouca água havia acabado na noite anterior quando comi metade dos biscoitos. Me lembrei do que a arma estranha havia feito. Produziu uma esfera de gelo ao meu redor, me congelando, amortecendo a queda e me deixando intacto. Se conseguisse produzir pelo menos um pouquinho de gelo, mataria minha sede.

Peguei o chaveiro e apertei com força esperando ele se transformar na faca. Tentei e tentei, mas nada aconteceu. Por um longo período tentei ativá-lo, mas sem sucesso. Caí sentado e deitei no chão exausto. Estava quase desmaiando e desistindo de prosseguir quando lembrei do momento que meu avô me jogou do penhasco. Fiquei nervoso e o chaveiro que estava na minha mão começou a ficar gelado e emitir uma luz. Apertei com força e ele se transformou na faca. Apontei para uma árvore e a arma estranha disparou um raio de gelo congelando o tronco em uma boa área em volta dela. A arma voltou a se transformar em chaveiro.

Corri e comecei a lamber o gelo feliz da vida, mas parecia que estava me deixando com mais sede. Sentei no chão desanimado olhando para a árvore congelada e percebi que depois de uns minutos o sol estava fazendo o gelo derreter bem devagar. Lembrei da lupa na mochila. Peguei e alinhei com sol na direção do gelo fazendo-o derreter mais rápido. Enchi minha garrafa de água e matei minha sede. Tomei ali umas três garrafas completas e enchi uma última vez para prosseguir com a caminhada.

Olhei para posição do sol e parecia que já havia passado do meio-dia. Caminhei por mais um bom tempo e parei para descansar. Comi os restos de biscoito e tomei apenas metade da água para tentar economizar, pois não estava confiante de fazer o chaveiro se ativar e produzir gelo novamente.

Continuei andando e ouvi um barulho estranho. Olhei para todos os lados e o som só aumentava. Parecia o som de pisadas. Estava vindo do meu lado direito. Virei e quando menos esperei, me deparei com um urso enorme.

Não sabia se corria ou se ficava imóvel com a esperança de não ser percebido, mas tive que correr, pois o urso veio furioso na minha direção. Subi numa árvore e o animal quase me pegou. Não ia escapar porque o tronco não era muito forte e alto. O urso atacava a árvore incansavelmente e quase me desequilibrei. Tinha que fazer algo senão ele ia me matar.

Peguei o chaveiro e tentei desesperadamente ativá-lo. Não consegui e o urso com um golpe muito forte na árvore me fez cair. A fera descontrolada pulou para cima de mim e, sem muito o que fazer, fechei os olhos, levantei os braços na direção dela apontando o chaveiro, que imediatamente se transformou na faca mágica, lançando uma forte rajada de gelo. Abri os olhos assustado e vi o enorme urso congelado. Toquei no gelo e fiquei observando-o imóvel. A arma começou a brilhar e desativou. Bateu um desespero de medo da fera se libertar e comecei a correr sem parar.

Cansado e com muita sede, continuei correndo. Comecei a ouvir bem à frente um barulho de veículo passando. Já muito cansado juntei minhas últimas forças e corri em direção ao som. Depois de segundos correndo, percebi que tinha saído da floresta e bem à frente vi uma autopista. Carros passavam e já sem forças, caminhei até a via para tentar ser visto por alguém passando. Cheguei até a autopista, vi um carro parando e um senhor saiu. Percebi que era o meu avô. Tentei voltar e fugir dele, sendo que não conseguia mais me movimentar. Dei um passo e desmaiei.

Abri meus olhos desesperado, mas devido a claridade não consegui enxergar nada de imediato. Me levantei para ficar sentado e quando a minha visão voltou percebi que estava no quarto onde estava hospedado na casa do Sr. Donovan.

— Como vim parar aqui? — me perguntei, mentalmente.

Tentei ficar de pé, mas sentia uma dor muito forte como se tivesse quebrado uma costela. Com muito esforço consegui levantar e caminhei até a porta. Quando estava próximo, a porta se abriu e quem entrou foi o Sr. Will.

— Meu jovem, não se esforce. Deite-se. Trouxe algo para você comer.

Ele me levou de volta para cama e deitei. Montou um pequeno banquete e logo depois eu perguntei:

— Como vim parar aqui? Não me lembro de nada.

— Foi seu avô quem lhe trouxe.

— Hã? Cadê ele? Ele tentou me mat…

Fui interrompido pelo Sr. Donovan entrando no quarto e logo atrás dele estava meu avô.

— SEU ASSASSINO! TENTOU ME MATAR! — gritei, desesperado.

— Calma, meu caro Roger. Vai ficar tudo bem! — falou o Sr. Donovan, calmamente.

— Como posso ficar calmo? Ele tentou me matar! Quero sair daqui!

— Fique calmo. Vou lhe esclarecer tudo.

Tentei me levantar, mas fui acalmado pelo Sr. Will e o Sr. Donovan começou a me explicar:

— Meu caro Roger, você carrega uma responsabilidade muito grande. O que seu avô fez foi tudo por ordem minha. Você precisa ficar mais forte o quanto antes.

— Hã? A mando do senhor? Como podem? Tentaram me matar! Quero voltar para casa!

— Se acalme, Roger! Vou lhe esclarecer tudo que você deseja saber sobre a poderosa arma que está contigo.

Fiquei sem reação quando ele falou da arma.

— Como ele sabia dela também? — me perguntei, mentalmente.

Me calei e deixei ele explicar.

— Roger, essa arma lhe foi deixada e você demonstrou ser um descendente compatível, pois desde o primeiro momento ela respondeu a você. Agora o que você precisa é treinar para aprender a dominá-la por completo e estar preparado para futuras ameaças.

— Como assim compatível? O que quer dizer com descendente? E que ameaças são essas?

— Nos escritos antigos diz que essa arma há muito tempo caiu do céu junto com um ser que a manipulava como mágica. Ele controlava o frio e com esse poder ele vinha ajudando e protegendo a humanidade. Ele foi deixando descendentes que foram assumindo seu lugar, mas nem sempre os descendentes diretos conseguiam dominar esse poder ou ativar a arma. Muitas das vezes passavam-se várias gerações até surgir um descendente compatível com a arma e prosseguir com a missão de proteger a humanidade de ameaças que, assim como a própria arma, viriam do céu. Você, Roger, é um descendente que se mostrou compatível. Consegue ativar a arma e precisa dominar o uso dela. Estamos aqui para ajudá-lo. Tudo que você passou até agora foi um teste para ver se você era forte o suficiente para continuar com o treinamento.

— Difícil acreditar nessa história. Quase me mataram. Acho que essa é alguma arma tecnológica que inventaram e estão testando em mim. Querem criar alguma arma para venderem para o governo e os militares.

— Não tire conclusões precipitadas, meu caro Roger. Descanse. Vamos dar um tempo para você refletir sobre tudo isso.

Eles saíram do quarto. Queria que meu avô falasse algo, mas ele se manteve calado o tempo todo. Vi que o Sr. Will, quando trouxe o banquete, havia deixado meu Tab P carregado do lado da cama. Peguei e me espantei, pois já era já muito tarde. 11:45 da noite de sexta-feira. Tudo o que eu mais queria era voltar para casa. Fui verificar as mensagens e vi que tinha milhares. Muitas delas ignorei porque eram de amigos me chamando para festas. Tinha uma mensagem da Clara avisando que papai tinha chegado de viagem.

— Era uma novidade a Clara enviar mensagem — pensei.

Para minha maior surpresa tinha a mensagem de quem eu mais queria, Desirée, que dizia:

 

Me perdoe, meu amor! Fui muito equivocada com você e te pressionei muito sem entender o que você pensava. Não desista de mim, porque jamais desistirei de você. Estou morrendo de saudades. Quando você volta do seu avô? Te amo muito! Até mais! ♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥

[10:22 PM]

 

Meu coração ficou acelerado de felicidade. Imediatamente respondi a mensagem avisando que amanhã já estaria de volta aos braços dela. Esperei uma resposta, mas me toquei que estava muito tarde e talvez ela não visualizasse naquele momento. Também respondi à mensagem da Clara que, no dia seguinte, estaria de volta.

Pensei sobre tudo o que me falaram a respeito dessa arma e depois de muito pensar, decidi que não iria ficar arriscando minha vida com baboseiras e experimentos. A única coisa que eu queria era estar de volta aos braços da Desirée e me dedicar totalmente a ela. Comi e bebi algumas coisas do banquete que o Sr. Will havia deixado e logo depois adormeci pensando nas coisas que ia fazer assim que encontrasse meu anjo.

Vi uma luz brilhando no meio de uma escuridão. Me aproximei e era a arma mágica. Tentei pegá-la, mas não conseguia. Parecia que estava tentando pegar um holograma. A luz foi aumentando intensamente até ofuscar minha visão.

— Hã? Que claridade é essa?

Era o Sr. Will abrindo a janela do quarto, fazendo entrar a claridade do sol.

— Vamos, meu jovem! Já está na hora de ir embora. O seu pai lhe aguarda em casa.

— Hã? Mas como o senhor sabe do meu pai?

— Seu avô Charles que falou. Vamos, trouxe o café da manhã. Alimente-se e se arrume para partir.

Fiquei suspeitando do Sr. Will, mas estava com tanta fome que me levantei para comer.

— O quê? Não sinto mais dor!

— Que bom, meu jovem. Estão te aguardando lá fora.

Sr. Will saiu e imediatamente fui tomar o café da manhã. Enquanto comia peguei meu Tab P e vi as mensagens. Ainda era cedo. Sete da manhã de sábado. Vi que Desirée havia visualizado minha mensagem e respondido com vários emoji apaixonados. Terminei de saborear o café e fui tomar um banho. Arrumei minhas coisas e vi que na mochila estava o chaveiro. Saí com ele nas mãos e quando cheguei do lado de fora, estavam todos me aguardando. O Sr. Donovan se aproximou dizendo:

— Meu caro Roger, providenciei um drone de transporte. Ele te levará bem mais rápido e com segurança até sua casa.

Estendi a mão, quis devolver o chaveiro e disse:

— Não quero fazer parte disso. Me deixem em paz, por favor. Não quero arrumar mais problemas.

— Não precisa devolver. Fique contigo. Não se sinta obrigado a usá-lo, mas guarde contigo.

Pensei e quase lancei longe o chaveiro com raiva por tudo que essa coisa havia me causado, mas como o que mais queria era ir embora e não passar por mais problemas, joguei o chaveiro na mochila, agradeci pelo drone, pela hospedagem, me despedi e embarquei.

O drone levantou voo e vi todos lá embaixo acenando para mim, menos meu avô, que nem ao menos chegou perto para falar comigo. Do alto dava para ver o quanto era enorme a propriedade com uma pequena casa ao centro.

Nesse momento, minha ficha começava a cair, porque fiquei tão empolgado em buscar respostas sobre a arma que nem percebi que nos últimos dias não fazia a mínima ideia de onde estava. Não quis nem procurar saber, porque naquele momento só me importava em chegar em casa.

Depois de um tempo, já estava pousando no Philadelphia International Airport. Lá já me esperava um transporte rápido que me levou até a porta de casa. Cheguei às 10:20 da manhã e quando entrei a primeira pessoa que vi foi meu pai. Larguei a mochila no chão e o abracei.

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