OS IRMÃOS DO GELO | CAPÍTULO 3

CAPÍTULO

3

EU SOU O ESCOLHIDO

ROGER

Já passava das três da tarde e saí correndo ansioso, mas ao mesmo tempo assustado. Não parava de pensar em toda essa loucura. Essa arma estranha e meu avô suspeito. Eram tantas coisas que acabavam me fazendo esquecer da principal situação que deveria pensar e me preocupar. Desirée.

Peguei meu Tab P e fiquei pensando se iria para estação, de transporte rápido ou de transporte público. Abri o aplicativo e vi os horários dos ônibus para a estação. Quase todos os transportes públicos hoje em dia são conectados e, por meio de aplicativos, era possível saber os horários, a ficha dos condutores, tarifas, tempo de viagem, quantidade de passageiros utilizando o transporte, dentre outras funcionalidades. Tudo se via em tempo real, facilitando muita a vida e não havendo desperdício de tempo.

Decidi ir de transporte público mesmo porque pelo GPS do Aplicativo de Transporte vi o ônibus se aproximando. Peguei e fui me distraindo com as janelas interativas do veículo. Em poucos minutos já estava na 30th Street Station.

Estava bem movimentado. A partida era seis da tarde. Ainda faltavam mais de duas horas e fui procurar algo para comer. Estava morrendo de fome! Sem andar muito, parei numa praça de alimentação, comprei um sanduíche e um refrigerante. Comi e fiquei jogando on-line até dá a hora do embarque.

Foi se aproximando o momento e embarquei. Me acomodei e logo adormeci, mas depois de alguns segundos de sono já estava em New York.

— Que rápido! Dormi e nem vi a viagem passar.

Desembarquei e peguei meu Tab P para prosseguir com o trajeto. Vovô havia planejado tudo de forma eficiente para que eu pudesse chegar à casa dele da forma mais rápida e confortável possível. Bem que ele podia ter pago um drone de transporte, mas ainda estava muito caro e burocrático viajar num desses.

Era tudo muito estranho porque vovô não gostava de tecnologia e de uma hora para outra já estava bem familiarizado com tudo que a era digital moderna podia oferecer. Quando abri o aplicativo de “trajeto de viagem programado” vi que havia várias mensagens do meu aplicativo de mensagem. Muitas eram de amigos me chamando para curtir a noite, mas uma delas era do vovô que dizia:

 

Olhe para frente.

[7:22 PM]

 

— Hã?!

Olhei para todos os lados procurando por algo que não sabia o que era. Depois de alguns segundos avistei o vovô Charles.

— Mas que louco!

Vovô estava me assustando cada vez mais. Aproximei dele.

— Seja bem-vindo, meu neto! Como foi a viagem?

— Foi bem, vovô. Na verdade, nem vi porque adormeci. Achei que encontraria com o senhor na porta da sua casa.

— Que bom que a viagem foi tranquila! Resolvi buscá-lo porque estava com muita fome e, como você sabe, não sou muito bom na cozinha.

Realmente vovô não gostava de cozinhar. Militar reformado, ele sempre deu seu jeito, ainda mais depois da morte da vovó.

— Sim. Então vamos jantar fora, vovô.

Chamamos um transporte rápido para nos levar a um restaurante. Vovô escolheu um bem legal que oferecia diversos tipos de pratos. Olhei para ele se divertindo com a interatividade do restaurante enquanto fazia os pedidos.

— Ei, vovô! Desde quando começou a gostar de tecnologia? Desde que me lembro o senhor nunca foi chegado a essas coisas.

— Sabe, Roger. Quando se aprende a perder o medo de descobrir coisas novas passamos a explorar e nos aventurar pelo mundo com mais audácia.

Fiquei olhando para o vovô desconfiado, mas até que contente por vê-lo se divertindo. Nunca tinha o visto assim. Vovô me perguntou o que queria comer. Fiz minha escolha na mesa interativa de pedidos e logo foram chegando os pratos. Enquanto comíamos, vovô me perguntava como estava na escola, como estava o papai, mas eu queria a todo momento interrompê-lo e perguntar sobre a estranha arma que estava comigo e de tudo que ele sabia a respeito. Aproveitei um breve momento de silêncio enquanto estávamos quase acabando de comer.

— Vovô, o que o senhor sabe sobre isso? — perguntei, mostrando o chaveiro.

Ele me olhou seriamente e quando ia dizer algo, fomos interrompidos por um garçom que trazia diversas sobremesas. Guardei o chaveiro e vovô abriu um sorriso de felicidade por ver tantos doces diferentes. Ele adorava.

Vovô se deliciava de se lambuzar e eu saboreava calmamente minha sobremesa olhando fixamente para ele esperando que dissesse algo. Depois de nós acabarmos com os doces, passamos quase uma hora jogando xadrez na mesa interativa de pedidos. Depois de seis derrotas para o vovô, pagamos a conta ali mesmo no cartão virtual e levantamos. Saímos do restaurante em silêncio e na porta estava a nossa espera um transporte rápido.

— Vem, Roger. Vamos para casa.

Fiquei imaginando que horas que vovô havia pedido o transporte rápido, pois nem o vi pegando em seu Tab P lá dentro. Entramos no veículo e partimos para casa dele. Não era muito longe. No caminho vovô pegou seu Tab P e parecia que ele estava mandando uma mensagem para alguém. Tentei ver para quem era, mas ele desligou.

Logo chegamos em casa. Dava para ter ido andando, mas já estava tarde e achei que vovô queria me poupar de qualquer esforço. Entramos e fiquei surpreso com o interior da casa cheio de eletrônicos de última geração. Só faltava uma daquelas AI de última geração que controlavam tudo. Realmente vovô estava vidrado na tecnologia moderna. Fazia pouco tempo que ele morava aqui. Ele se mudou de Overland, Kansas que era um lugar tranquilo e calmo para voltar a viver na badalada e movimentada New York. Achava que o vovô não queria curtir a aposentadoria na monotonia.

— Está aqui seu quarto, Roger. Fique à vontade. Eu vou tomar um banho e vou dormir. Amanhã teremos um ótimo dia. Boa noite!

Ele não me deu a oportunidade de discutir sobre a estranha arma. Queria ali e agora resolver isso, mas estava muito cansado e com sono. Havia sido uma terça-feira bem cansativa e seria melhor deixar para amanhã.

Tomei um banho e me joguei na cama. Peguei meu Tab P para ver as mensagens. Tinha dezenas e como não queria olhar uma por uma, ativei minha AI chamada Anne e fiz uma busca.

Anne. Buscar mensagens, Desirée.

— Mensagem não encontrada.

A mensagem que eu mais queria ver não estava ali. Pensei na Desirée por um momento e quando me vi já estava…

Ouvia sinos batendo. Batiam bem de longe e o som ia aumentando gradativamente. Eram sinos bem pequenos que estavam badalando bem perto dos meus ouvidos. O som aumentava cada vez mais e uma voz ao fundo dizia:

— Acorda, Roger! Acorda, Roger! Bom dia! Já estamos atrasados.

Acordei assustado e tentei olhar para todos os lados para saber o que estava acontecendo.

— O que foi que aconteceu, vovô? Acabei de dormir!

— Já dormiu o suficiente, Roger. Levanta. Já são cinco da manhã e estamos atrasados.

— Atrasados para quê, vovô?

— Para nossa corrida matinal.

— O quê?!

— Pegue esse tênis. Acho que vão servir em você. Estarei te esperando lá embaixo em cinco minutos.

Vovô parecia doido. Ele achava que ainda estava no “United States Marine Corps” USMC. Queria voltar a dormir, mas vovô não ia deixar. Com muito sono, me arrumei e desci. Vovô me jogou uma garrafa de suco e um sanduíche.

— Vamos, Roger. Vem comendo no caminho.

Olhei para o vovô assustado, mas aceitei a situação e saí com ele. Enquanto eu o seguia, lancei o olhar para a sua perna de metal. Ele havia perdido parte da perna direita na guerra do Vietnã.

Já estava para amanhecer quando seguíamos em direção ao Central Park. Enquanto caminhávamos, eu comia e ouvia vovô falando coisas sobre como era no tempo dele de serviço ativo no USMC. Eu só ouvia calado enquanto mastigava. Chegamos ao Central Park, vovô parou, deu umas alongadas e me perguntou se estava pronto. Tomei um gole de suco para fazer descer o último pedaço de sanduíche e respondi:

— Sim.

— Ok! Vou bem devagar e depois aumento o ritmo. Vamos!

Vovô colocou os fones de ouvido e sem esperar eu me alongar, saiu em disparada. Eu fui que nem louco atrás dele. Depois de dois minutos de corrida já não conseguia mais acompanhar o ritmo do vovô. Ele disparou e logo não o via mais à minha frente. Depois de alguns minutos, vovô já tinha dado uma volta pela lagoa e me alcançou. Ele deu uma reduzida.

— Já cansou, Roger? Nem começamos!

Olhei para o vovô com cara de quem não estava gostando e quando ia dizer que queria ir embora ele saiu em disparada novamente e logo já não o via mais. Novamente, depois de um tempo, vovô me alcançou e riu da minha cara quando passou por mim. Isso se repetiu outra vez e eu ainda estava acabando de completar a primeira volta.

Parei para respirar e vovô parou. Ele deu umas caminhadas em círculos à minha frente e falou que já estava na hora de voltar. Olhei para ele cansado e agradecendo mentalmente. Caminhamos bem devagar de volta para casa.

Vovô ainda sem fôlego caminhou até em casa sem dizer nada. Chegamos, fui tomar um banho e ele ainda foi fazer uns exercícios de musculação. Relaxei debaixo do chuveiro e quase perdi a noção do tempo. Saí do banho, me arrumei, peguei meu Tab P para ver as mensagens e quando desci as escadas até a cozinha lá estava pronto um belo café da manhã. Olhei para o vovô sentado à mesa e perguntei:

— O senhor que preparou tudo isso? Mas o senhor não gosta de cozinhar!

— Realmente, Roger. Eu não gosto de cozinhar. Fiz um pedido de comida expressa por esse aplicativo. Eles trazem de tudo em poucos minutos, desde pequenos lanches a café, almoço e jantar completos. São bem diversificados.

Vovô e suas tecnologias estavam me surpreendendo a cada dia. Me sentei e saboreei aquele belo café da manhã. Vovô pegou seu Tab Paper e foi ler as notícias. Eu continuei vendo as mensagens uma a uma. Tinha uma mensagem do Romeo. Fiquei surpreso e abri. Não acreditei no que vi. Um monte de emoji de carinhas com raiva. Fiz uma cara de irritado, mas logo em seguida, por um momento, bateu uma tristeza por não ter nenhuma mensagem da Desirée. Fiquei imaginando como ela estava. Logo depois me veio à mente a arma estranha. Aquela era a oportunidade perfeita para perguntar ao vovô e arrancar informações dele. Engoli o pedaço de maçã que estava mastigando e perguntei:

— Vovô, o que o senhor…

— Roger, vou te mostrar o que queria que você me ajudasse. Foi por isso que te chamei aqui — disse ele.

Vovô não havia me deixado perguntar. Fiquei olhando para ele furioso enquanto o via terminar de ler o jornal e quando ia tentar perguntar novamente ele se levantou.

— Me acompanhe, Roger.

Olhei para ele assustado e o segui. Vovô foi para o quarto dele e lá estava uma mochila arrumada.

— Vamos, Roger. Arrume suas coisas e vamos sair para visitar um amigo.

— Mas que amigo? E a ajuda que o senhor precisava?

— Chegando lá te mostro.

Fiquei imaginando o que o vovô estava planejando. Algo estava muito estranho. Fui no quarto onde estava, peguei a arma estranha e fui até ele.

— O que o senhor sabe sobre isso? Preciso saber!

— Coloque-o na mochila que chegando lá te esclareço as coisas. Vamos!

Fiquei surpreso com a resposta. Vovô então realmente sabia sobre a arma. Fiquei assustado e ao mesmo tempo curioso. Ia ser uma aventura interessante. Arrumei minhas coisas, peguei meu Tab P e joguei o chaveiro em forma de cubo de gelo que se transformava em uma arma muito estranha na mochila. Desci e vovô já estava me esperando. Saímos.

— Vovô, não vai desligar as coisas da casa e trancar, não? Vamos ficar fora o dia todo.

— Já estou trancando.

Ele pegou sua Tab P e tocou em algo na tela que fez a casa se desligar e travar as portas e janelas. Incrível. Vovô estava mesmo obcecado pela tecnologia moderna e isso já estava começando a me preocupar. Ele pegou o carro dele e partimos. Até o carro era cheio de tecnologias. A AI do carro era muito legal. Conversava naturalmente e planejava qualquer trajeto com perfeição.

Depois de horas de viagem fizemos uma parada rápida para o almoço. Comemos e prosseguimos. Não estava nem prestando atenção para onde estávamos indo porque estava quase que o tempo todo jogando no meu Tab P. Já era quase fim de tarde e do Tab P do vovô soou um toque de notificação de mensagem bem diferente. Ele acionou a direção automática e pegou o Tab P para ver o que era. Ele olhou e fez uma cara de preocupação. Eu ia perguntar o que tinha acontecido, mas ele abriu um sorriso e pediu para que eu enviasse uma mensagem para o Romeo, notificando-o que estava tudo bem.

— Hã?! Para quê?

— Nada de mais! Só para avisar. Ainda mais porque estamos longe de casa.

— Tudo bem, então.

Vovô até que falou uma coisa certa, mas não estava a fim de mandar mensagem para meu irmão. Ainda mais depois da última briga e as carinhas de raiva que ele havia me mandado. Hesitei por um segundo, mas no fim abri o aplicativo de mensagens e escrevi:

 

Está tudo bem. Logo mais entraremos em contato.

[5:31 PM]

 

Enviei e falei para o vovô. Ele agradeceu.

— Chegamos!

Olhei para ver onde estávamos e vi um portão automático que se abriu. Fomos em direção ao que parecia ser uma casa bem simples vista de longe. O quintal era bem grande com muitas árvores e um chafariz. Vovô estacionou e em frente à casa fomos recebidos por um senhor bem estranho. Ele nos recebeu com muito entusiasmo. Sr. Donovan Lewis, esse era seu nome, nos convidou para entrar.

A casa era bem simples, mas vendo-a por dentro parecia ser bem maior. Aparentemente era bem confortável e ao contrário da casa do vovô não havia muitas coisas tecnológicas à vista. O Sr. Donovan tinha vários empregados. Era estranho, pois parecia que não tinha muito o que se fazer, tirando o quintal enorme. Ele falou que passaríamos a noite ali, mas eu estava achando tudo muito suspeito.

— O que será que o vovô estaria querendo? Que tipo de ajuda ele queria de mim? — pensei, confuso.

Tudo que eu queria saber era sobre aquela arma estranha que estava comigo. O Sr. Donovan nos apresentou os quartos que ficaríamos e imediatamente nos acomodamos. Ele avisou que o jantar estaria pronto em dez minutos. Já eram seis da tarde e como não tinha comido nada nas últimas horas, somente almoçado, estava cheio de fome.

Fui até a sala de jantar e lá estava quase arrumada uma bela mesa. Empregados do Sr. Donovan terminavam de arrumar. Ele parecia ser um homem rico e das antigas, tipo como o vovô era, sendo que ele mudou do nada e resolveu viver a vida moderna. Eu e o vovô fomos convidados a nos sentarmos à mesa. Toda a refeição ocorreu em silêncio. Fiquei um pouco incomodado com isso. Nunca tinha participado de nada tão formal assim.

— Senhores, agradeço a companhia neste jantar. Podem voltar a se acomodarem em seus quartos. O que precisarem é só falar — disse o Sr. Donovan, com um enorme sorriso de gratidão.

Que situação estranha. Não estava entendendo mais nada.

— O que estávamos fazendo aqui? — pensei, preocupado.

Voltamos para o quarto e quando ia falar com vovô, ele entrou no dele e bateu à porta na minha cara. Fiquei nervoso e me deu uma enorme vontade de chutar com muita força a porta do quarto onde ele estava, mas logo em seguida ele abriu, olhou para mim e me disse:

— Boa noite!

Olhei com cara de bobo e quando ia responder, ele tornou a bater à porta na minha cara. Que raiva! Fiquei quase um minuto em pé na dele esperando que ele abrisse novamente, mas desisti e fui para o meu quarto. Peguei meu Tab P, olhei as mensagens e nada de receber uma da Desirée. Queria mandar uma para ela, mas estava sem coragem de enviar um simples emoji. Joguei um pouco on-line e logo peguei no sono.

Estava tudo escuro. Sentia muito frio. Procurava algo para me agasalhar, mas não conseguia enxergar. Senti algo segurando minha mão esquerda. Tentava olhar para ver o que era. Na outra mão percebi que estava segurando algo. Parecia um cubo e estava muito gelado. Meu corpo começou a ficar muito quente e comecei a apertar o cubo com força. Ele irradiou uma luz muito forte que começou a iluminar tudo. Percebi que o cubo havia se transformado naquela arma estranha. Ela emitia uma luz constante. Me virei para ver o que estava segurando minha mão. Meu coração disparou quando vi que era uma criatura horrível como jamais tinha visto. Tentei me soltar, mas a criatura me puxou e atacou.

Acordei suado e com o coração muito acelerado. Foi um pesadelo horrível. Fiquei uns minutos tentando me acalmar, levantei e fui até a cozinha para beber água. Chegando lá havia um dos empregados na cozinha, preparando alguma coisa. Pedi com licença e solicitei um copo d’água. Ele respondeu com toda delicadeza que ia me servir. Achei estranho ter um empregado ainda acordado, pois vi que eram três da manhã.

— Aqui está sua água, meu jovem aprendiz.

— Obrigado, senhor?

— Pode me chamar de Will.

— Sim. Obrigado, Sr. Will! Posso lhe perguntar uma coisa?

— Sim, claro.

— O senhor não descansa? Já está tarde e o senhor aqui na cozinha trabalhando.

— Não se preocupe, meu jovem.

— Hum. Entendi. Mas o senhor não tem medo de ficar sozinho por aí a noite?

— Não, meu caro Roger. Também estão trabalhando o pessoal da segurança numa sala secreta. Eles monitoram tudo por minicâmeras.

— Minicâmeras? Devem ser bem mini porque não vi nenhuma até agora.

O Sr. Will riu com meu comentário. Eu o agradeci mais uma vez, me despedi e voltei para o meu quarto. Quando entrei, um forte sono me veio. Cai na cama já cochilando. Parecia que o Sr. Will tinha colocado sonífero na água.

— Acorda, Roger! Vamos sair. Acorda!

— Hã. Vovô? Corrida de novo? Está muito cedo!

— Que nada, Roger! Já são nove da manhã.

— Hã?! Mas como? Mal dormi! Estou perdido no tempo, vovô. Que dia é hoje?

— Hoje já é quinta-feira e vamos sair. Se arrume.

— Para onde vamos?

— Vamos fazer escalada.

— Hã?!

— Se arrume! Estamos te esperando!

Vovô saiu do quarto e eu fui tomar um banho para ver se acordava. Ainda estava muito sonolento. Depois de um belo banho, me arrumei, peguei meu Tab P e fui para a cozinha comer algo enquanto lia as mensagens.

Chegando à mesa, um farto café da manhã estava preparado. Todos estavam em pé olhando para mim. O Sr. Donovan pediu que sentasse e me servisse. Ele se desculpou por não ter me esperado para o café, pois todos já tinham feito a refeição matinal e não queriam interromper meu sono bem cedo.

Fiquei sem graça, mas como a fome era maior, sentei e me deliciei com a diversidade de coisas que tinha à mesa. Fiquei meio envergonhado, pois todos olhavam para mim enquanto eu comia. Acelerei com a refeição e logo levantei dizendo que estava pronto.

Eu, vovô e o Sr. Donovan seguimos para fora e lá nos esperava um carro desses mais modernos com motorista particular. Fiquei surpreso e concluí que realmente o Sr. Donovan era um homem bem rico, contudo simples em algumas coisas, principalmente em relação à tecnologia. Não se via muitas Tabs pela casa e nem nada tão conectado, tirando esse carro de última geração que estava parado à minha frente. Nem ao menos vi o Sr. Donovan com um Tab P.

— Como será que ele se comunica? — me perguntei, mentalmente.

Entramos no carro e lembrei que não havia pegado minha mochila.

— Espere! Preciso voltar e pegar minhas coisas.

— Não se preocupe, Roger! Está tudo aqui, inclusive os equipamentos para escalada.

Virei para o lado, vi o Sr. Will e com um olhar surpreso respondi:

— Obrigado!

Partimos. A AI do carro era incrível. Dava até para deixar por conta dela para dirigir todo o percurso, mas mesmo com todos esses recursos, o motorista conduziu até o destino ao som de música clássica. Preferiria ouvir um rap.

A viagem durou cerca de uma hora pela estrada e pegamos uma trilha. No fim dela paramos e em frente a uma outra trilha mais estreita que dava no topo de uma montanha, seguimos sozinhos. Caminhamos por cerca de uma hora e nos deparamos com um caminho que era uma subida um pouco íngreme. Preparamos os equipamentos e prosseguimos. Até que estava gostando da aventura. Vovô estava me surpreendendo. Depois de muitas horas e várias paradas chegamos ao topo. Tinha uma vista panorâmica muita linda. Eu e vovô ficamos admirando a paisagem por minutos. Sentamos à beira, tomamos água e continuamos apreciando a bela vista.

— Sabe, vovô. Devíamos fazer isso mais vezes.

— Com certeza, Roger! Isso é maravilhoso!

— Vovô, agora me responda! Qual era a ajuda que o senhor precisava de mim? Até agora não ajudei o senhor em nada.

— Meu caro neto. Na verdade, você está me ajudando desde quando eu o busquei na estação.

— Hã?! Mas como assim?

— Está me ajudando a viver. Desde a morte da sua avó e sua m… que não tenho sentido muita vontade de prosseguir. Andei vivendo com angústia e isolado, mas algo me fez depositar todas as minhas energias no que me resta de vida. Não sei por quanto tempo ainda vou viver, mas decidi que iria aproveitar ao máximo cada segundo e você está me ajudando e compartilhando isso comigo. Andei muito solitário nos últimos anos, mas agora será tudo diferente.

— Legal, vovô! Fico feliz que esteja compartilhando esses momentos comigo, mas uma pergunta: quem morreu além da vovó que o senhor ia falar? Algum amigo muito chegado?

— Não. Não. Foi a cachorrinha da sua avó que morreu um dia depois dela — respondeu o vovô Charles, sem graça.

Fiquei olhando para o vovô que permaneceu calado e que parecia querer chorar. Ficamos em silêncio por alguns segundos. Peguei na minha mochila o chaveiro em forma de cubo de gelo e fiquei observando sem falar nada.

— Roger, me dê isso aqui.

Entreguei para o vovô o chaveiro e ele ficou observando o cubo calado por alguns segundos.

— Sabe, Roger eu não sei se sou a pessoa certa para falar sobre isso, mas conheço quem sabe e que pode lhe esclarecer tudo com maior clareza.

— Mas o que o senhor sabe? Me diga, por favor!

— O que posso dizer é que isso é um objeto muito antigo e que carrega um poder desconhecido.

— Mas que poder é esse? Por que está comigo?

— Você é o escolhido.

— Escolhido para quê? Do que o senhor está falando?

— Vamos, Roger. Logo mais vai escurecer. Eu preciso ir.

Levantei, peguei minha mochila e questionei:

— Por que está escondendo a verdade de mim?

Vovô parou e olhou para mim com uma cara de surpreso.

— Você não está preparado. Pegue isso e guarde contigo.

Ele havia me devolvido a estranha arma em forma de cubo de gelo.

— Nem tudo posso lhe esclarecer, mas se sobreviver vou lhe mostrar quem pode.

Vovô pegou na minha camiseta e segurou com força. Olhei para ele assustado e perguntei o que estava fazendo. Vovô me puxou e me arremessou com força para o penhasco. Gritei desesperado em queda livre. Não acreditei que ia morrer assim e ainda mais pelas mãos do meu próprio avô.

O chaveiro, que estava em minhas mãos, começou a ficar gelado e a emitir uma luz muito forte. Apertei com força e ele se transformou na arma estranha. Uma faca que parecia estar bem gelada. Estava quase atingindo o chão, apontei a arma para baixo e ela lançou raios congelantes que começaram a me envolver e me congelar até formar uma bola enorme de gelo. Atingi o chão fazendo uma enorme cratera. A enorme esfera de gelo começou a se partir e eu saí de dentro intacto. Me levantei assustado e olhei para a arma em minhas mãos.

— Que incrível! — pensei alto, mas logo me toquei que poderia ter morrido.

O que o vovô estava pensando? Comecei a sentir um tremendo ódio dele. Sentia que a arma estava me guiando para algum lugar, mas logo em seguida ela voltou a se tornar um pequeno cubo de gelo.

— QUANDO EU SAIR DAQUI VOU TE DENUNCIAR POR TENTATIVA DE HOMICÍDIO! — gritei bem alto, cheio de raiva e olhando para cima.

Só tinha um problema. Não tinha a mínima ideia de como sair desse lugar. Era uma floresta bem densa. Parei, olhei para cima e tentei lembrar da vista lá do alto e vi que à minha esquerda a floresta diminuía, sendo que seria uma longa caminhada. Peguei meu Tab P para tentar entrar em contato com alguém, mas para minha infelicidade estava descarregado. Apesar de estar quase uma semana sem carregar acreditava que ainda tinha bateria para mais uns dias.

— Estranho! — pensei.

Joguei ele na mochila e segui em frente. Logo ia anoitecer e tinham muitos mosquitos. Corri para adiantar, mas me cansei rápido e já estava ficando escuro. Avistei uma árvore enorme que tinha uma pequena fenda que poderia servir de abrigo.

Parei para olhar o que tinha na mochila e torcendo que tivesse algo pelo menos para fazer uma fogueira. Tirei tudo de dentro e tinha meia garrafa de água, uns equipamentos de escalada, uma toalha, uns biscoitos, um boné, meu Tab P descarregado e, para minha sorte um isqueiro.

— Mas como tinha um isqueiro? — pensei confuso.

Não me lembrava de ter colocado isso na mochila. Também tinha umas outras coisas que não me lembrava de ter colocado. Uma lupa e um canivete… Achei estranho, mas deixei pra lá! Importante é que estava salvo até o momento e que tinha que sobreviver até sair desse lugar. Sem pensar muito, juntei uns galhos e acendi uma fogueira. Ajudou a espantar um pouco os mosquitos. Peguei uns biscoitos para comer e enquanto comia, fiquei imaginando diversas coisas horríveis sobre meu avô, sobre como estava Desirée e de como queria estar com ela naquele momento. Até pensei no meu irmão chato. Tudo que queria era sair desse lugar e ver meu avô preso. Forrei a toalha no chão e deitei. Continuei imaginando diversas coisas por horas e depois meus olhos começaram a pesar.

— Desirée!

De repente estava sozinho. Muito escuro. Uma luz bem longe apareceu. Corri sem parar, tentando alcançá-la. Consegui me aproximar. Era a faca coberta de gelo! Ela brilhava de forma irradiante e mais forte a cada instante que me aproximava. Tentei pegá-la e quando a segurei, meu corpo começou a congelar. Entrei em desespero, mas uma força aumentava cada vez mais dentro de mim. Tudo começou a ficar branco e branco.

— Hum, que isso?! Essa luz!

Era a luz do sol no meu rosto. Havia amanhecido e juntei todas as coisas para poder sair desse lugar. Pensei em ir correndo para sair dessa floresta o quanto antes, mas ia me cansar logo e perder muito mais tempo recuperando o fôlego. Resolvi ir caminhando e me guiando pela posição do sol até chegar ao ponto que vi do topo da montanha onde a floresta diminuía.

Passaram-se horas e parei para descansar. Estava com muita sede. A pouca água havia acabado na noite anterior quando comi metade dos biscoitos. Me lembrei do que a arma estranha havia feito. Produziu uma esfera de gelo ao meu redor, me congelando, amortecendo a queda e me deixando intacto. Se conseguisse produzir pelo menos um pouquinho de gelo, mataria minha sede.

Peguei o chaveiro e apertei com força esperando ele se transformar na faca. Tentei e tentei, mas nada aconteceu. Por um longo período tentei ativá-lo, mas sem sucesso. Caí sentado e deitei no chão exausto. Estava quase desmaiando e desistindo de prosseguir quando lembrei do momento que meu avô me jogou do penhasco. Fiquei nervoso e o chaveiro que estava na minha mão começou a ficar gelado e emitir uma luz. Apertei com força e ele se transformou na faca. Apontei para uma árvore e a arma estranha disparou um raio de gelo congelando o tronco em uma boa área em volta dela. A arma voltou a se transformar em chaveiro.

Corri e comecei a lamber o gelo feliz da vida, mas parecia que estava me deixando com mais sede. Sentei no chão desanimado olhando para a árvore congelada e percebi que depois de uns minutos o sol estava fazendo o gelo derreter bem devagar. Lembrei da lupa na mochila. Peguei e alinhei com sol na direção do gelo fazendo-o derreter mais rápido. Enchi minha garrafa de água e matei minha sede. Tomei ali umas três garrafas completas e enchi uma última vez para prosseguir com a caminhada.

Olhei para posição do sol e parecia que já havia passado do meio-dia. Caminhei por mais um bom tempo e parei para descansar. Comi os restos de biscoito e tomei apenas metade da água para tentar economizar, pois não estava confiante de fazer o chaveiro se ativar e produzir gelo novamente.

Continuei andando e ouvi um barulho estranho. Olhei para todos os lados e o som só aumentava. Parecia o som de pisadas. Estava vindo do meu lado direito. Virei e quando menos esperei, me deparei com um urso enorme.

Não sabia se corria ou se ficava imóvel com a esperança de não ser percebido, mas tive que correr, pois o urso veio furioso na minha direção. Subi numa árvore e o animal quase me pegou. Não ia escapar porque o tronco não era muito forte e alto. O urso atacava a árvore incansavelmente e quase me desequilibrei. Tinha que fazer algo senão ele ia me matar.

Peguei o chaveiro e tentei desesperadamente ativá-lo. Não consegui e o urso com um golpe muito forte na árvore me fez cair. A fera descontrolada pulou para cima de mim e, sem muito o que fazer, fechei os olhos, levantei os braços na direção dela apontando o chaveiro, que imediatamente se transformou na faca mágica, lançando uma forte rajada de gelo. Abri os olhos assustado e vi o enorme urso congelado. Toquei no gelo e fiquei observando-o imóvel. A arma começou a brilhar e desativou. Bateu um desespero de medo da fera se libertar e comecei a correr sem parar.

Cansado e com muita sede, continuei correndo. Comecei a ouvir bem à frente um barulho de veículo passando. Já muito cansado juntei minhas últimas forças e corri em direção ao som. Depois de segundos correndo, percebi que tinha saído da floresta e bem à frente vi uma autopista. Carros passavam e já sem forças, caminhei até a via para tentar ser visto por alguém passando. Cheguei até a autopista, vi um carro parando e um senhor saiu. Percebi que era o meu avô. Tentei voltar e fugir dele, sendo que não conseguia mais me movimentar. Dei um passo e desmaiei.

Abri meus olhos desesperado, mas devido a claridade não consegui enxergar nada de imediato. Me levantei para ficar sentado e quando a minha visão voltou percebi que estava no quarto onde estava hospedado na casa do Sr. Donovan.

— Como vim parar aqui? — me perguntei, mentalmente.

Tentei ficar de pé, mas sentia uma dor muito forte como se tivesse quebrado uma costela. Com muito esforço consegui levantar e caminhei até a porta. Quando estava próximo, a porta se abriu e quem entrou foi o Sr. Will.

— Meu jovem, não se esforce. Deite-se. Trouxe algo para você comer.

Ele me levou de volta para cama e deitei. Montou um pequeno banquete e logo depois eu perguntei:

— Como vim parar aqui? Não me lembro de nada.

— Foi seu avô quem lhe trouxe.

— Hã? Cadê ele? Ele tentou me mat…

Fui interrompido pelo Sr. Donovan entrando no quarto e logo atrás dele estava meu avô.

— SEU ASSASSINO! TENTOU ME MATAR! — gritei, desesperado.

— Calma, meu caro Roger. Vai ficar tudo bem! — falou o Sr. Donovan, calmamente.

— Como posso ficar calmo? Ele tentou me matar! Quero sair daqui!

— Fique calmo. Vou lhe esclarecer tudo.

Tentei me levantar, mas fui acalmado pelo Sr. Will e o Sr. Donovan começou a me explicar:

— Meu caro Roger, você carrega uma responsabilidade muito grande. O que seu avô fez foi tudo por ordem minha. Você precisa ficar mais forte o quanto antes.

— Hã? A mando do senhor? Como podem? Tentaram me matar! Quero voltar para casa!

— Se acalme, Roger! Vou lhe esclarecer tudo que você deseja saber sobre a poderosa arma que está contigo.

Fiquei sem reação quando ele falou da arma.

— Como ele sabia dela também? — me perguntei, mentalmente.

Me calei e deixei ele explicar.

— Roger, essa arma lhe foi deixada e você demonstrou ser um descendente compatível, pois desde o primeiro momento ela respondeu a você. Agora o que você precisa é treinar para aprender a dominá-la por completo e estar preparado para futuras ameaças.

— Como assim compatível? O que quer dizer com descendente? E que ameaças são essas?

— Nos escritos antigos diz que essa arma há muito tempo caiu do céu junto com um ser que a manipulava como mágica. Ele controlava o frio e com esse poder ele vinha ajudando e protegendo a humanidade. Ele foi deixando descendentes que foram assumindo seu lugar, mas nem sempre os descendentes diretos conseguiam dominar esse poder ou ativar a arma. Muitas das vezes passavam-se várias gerações até surgir um descendente compatível com a arma e prosseguir com a missão de proteger a humanidade de ameaças que, assim como a própria arma, viriam do céu. Você, Roger, é um descendente que se mostrou compatível. Consegue ativar a arma e precisa dominar o uso dela. Estamos aqui para ajudá-lo. Tudo que você passou até agora foi um teste para ver se você era forte o suficiente para continuar com o treinamento.

— Difícil acreditar nessa história. Quase me mataram. Acho que essa é alguma arma tecnológica que inventaram e estão testando em mim. Querem criar alguma arma para venderem para o governo e os militares.

— Não tire conclusões precipitadas, meu caro Roger. Descanse. Vamos dar um tempo para você refletir sobre tudo isso.

Eles saíram do quarto. Queria que meu avô falasse algo, mas ele se manteve calado o tempo todo. Vi que o Sr. Will, quando trouxe o banquete, havia deixado meu Tab P carregado do lado da cama. Peguei e me espantei, pois já era já muito tarde. 11:45 da noite de sexta-feira. Tudo o que eu mais queria era voltar para casa. Fui verificar as mensagens e vi que tinha milhares. Muitas delas ignorei porque eram de amigos me chamando para festas. Tinha uma mensagem da Clara avisando que papai tinha chegado de viagem.

— Era uma novidade a Clara enviar mensagem — pensei.

Para minha maior surpresa tinha a mensagem de quem eu mais queria, Desirée, que dizia:

 

Me perdoe, meu amor! Fui muito equivocada com você e te pressionei muito sem entender o que você pensava. Não desista de mim, porque jamais desistirei de você. Estou morrendo de saudades. Quando você volta do seu avô? Te amo muito! Até mais! ♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥

[10:22 PM]

 

Meu coração ficou acelerado de felicidade. Imediatamente respondi a mensagem avisando que amanhã já estaria de volta aos braços dela. Esperei uma resposta, mas me toquei que estava muito tarde e talvez ela não visualizasse naquele momento. Também respondi à mensagem da Clara que, no dia seguinte, estaria de volta.

Pensei sobre tudo o que me falaram a respeito dessa arma e depois de muito pensar, decidi que não iria ficar arriscando minha vida com baboseiras e experimentos. A única coisa que eu queria era estar de volta aos braços da Desirée e me dedicar totalmente a ela. Comi e bebi algumas coisas do banquete que o Sr. Will havia deixado e logo depois adormeci pensando nas coisas que ia fazer assim que encontrasse meu anjo.

Vi uma luz brilhando no meio de uma escuridão. Me aproximei e era a arma mágica. Tentei pegá-la, mas não conseguia. Parecia que estava tentando pegar um holograma. A luz foi aumentando intensamente até ofuscar minha visão.

— Hã? Que claridade é essa?

Era o Sr. Will abrindo a janela do quarto, fazendo entrar a claridade do sol.

— Vamos, meu jovem! Já está na hora de ir embora. O seu pai lhe aguarda em casa.

— Hã? Mas como o senhor sabe do meu pai?

— Seu avô Charles que falou. Vamos, trouxe o café da manhã. Alimente-se e se arrume para partir.

Fiquei suspeitando do Sr. Will, mas estava com tanta fome que me levantei para comer.

— O quê? Não sinto mais dor!

— Que bom, meu jovem. Estão te aguardando lá fora.

Sr. Will saiu e imediatamente fui tomar o café da manhã. Enquanto comia peguei meu Tab P e vi as mensagens. Ainda era cedo. Sete da manhã de sábado. Vi que Desirée havia visualizado minha mensagem e respondido com vários emoji apaixonados. Terminei de saborear o café e fui tomar um banho. Arrumei minhas coisas e vi que na mochila estava o chaveiro. Saí com ele nas mãos e quando cheguei do lado de fora, estavam todos me aguardando. O Sr. Donovan se aproximou dizendo:

— Meu caro Roger, providenciei um drone de transporte. Ele te levará bem mais rápido e com segurança até sua casa.

Estendi a mão, quis devolver o chaveiro e disse:

— Não quero fazer parte disso. Me deixem em paz, por favor. Não quero arrumar mais problemas.

— Não precisa devolver. Fique contigo. Não se sinta obrigado a usá-lo, mas guarde contigo.

Pensei e quase lancei longe o chaveiro com raiva por tudo que essa coisa havia me causado, mas como o que mais queria era ir embora e não passar por mais problemas, joguei o chaveiro na mochila, agradeci pelo drone, pela hospedagem, me despedi e embarquei.

O drone levantou voo e vi todos lá embaixo acenando para mim, menos meu avô, que nem ao menos chegou perto para falar comigo. Do alto dava para ver o quanto era enorme a propriedade com uma pequena casa ao centro.

Nesse momento, minha ficha começava a cair, porque fiquei tão empolgado em buscar respostas sobre a arma que nem percebi que nos últimos dias não fazia a mínima ideia de onde estava. Não quis nem procurar saber, porque naquele momento só me importava em chegar em casa.

Depois de um tempo, já estava pousando no Philadelphia International Airport. Lá já me esperava um transporte rápido que me levou até a porta de casa. Cheguei às 10:20 da manhã e quando entrei a primeira pessoa que vi foi meu pai. Larguei a mochila no chão e o abracei.

0,0
Rated 0,0 out of 5
0,0 out of 5 stars (based on 0 reviews)
Excelente0%
Muito bom0%
Média0%
Ruim0%
Muito ruim0%

There are no reviews yet. Be the first one to write one.

CAPÍTULOS

NAIRIN | CAPÍTULO 11

CAPÍTULO

11

O ESPIÃO

— Não vou repetir! Larguem suas armas, agora!

O líder Hankyater que capturou Lillillah e Drihee abaixou sua arma e se aproximou cautelosamente do outro líder Hankyater.

— Afaste-se!

Ele olhou para um dos seus parceiros e acenou com a cabeça rapidamente. O líder do grupo Hankyater HKY17VH, percebeu e acionou o gatilho. O laser acertou o braço de Lillillah. O grupo dos Hankyaters HKY14VR reagiram rapidamente. Drihee puxou Lillillah pelo braço e se jogou no chão com ela para não serem atingidos. Jogaram seus Ikihstunukishi na frente deles e Drihee sem pensar muito, pegou e ativou seu Ikihatsunukishi.  Ele lançou uma rajada de fogo que dispersou os grupos de  Hankyaters, mas o tiroteio continuou. Ele aproveitou a oportunidade para se afastar com Lillillah. Drihee entregou para Lillillah seu Ikihatsunukishi que ativou. Ela tentou usar, mas a lança caiu e se transformou novamente numa esfera de cristal.

— Não consigo — disse Lillallah, reclamando da dor no braço.

Ela se abaixou e pegou o Ikihatsunukishi desativado. 

— Vamos! Vamos sair daqui! — disse Drihee, desesperado. 

Um Hankyater do grupo HKY17VH apontou sua arma para a cabeça de Lillillah. Quando Drihee percebeu, um disparo acertou o inimigo. Ele tentou ver da onde veio o tiro, mas o próprio fogo que lançou, ofuscava sua visão do que estava acontecendo ao redor.

Drihee pegou na mão de Lillillah e continuou tentando se afastar. 

— AHHHH — gritou Lillillah, que desequilibrou logo em seguida por causa de um tiro na perna.

Drihee tentou segurá-la, mas ela caiu de lado.

— AHHHH, DROGAAA! — gritou Drihee.

Ele deixou o seu Ikihatsunukishi cair e o mesmo desativou.

— De onde veio esse tiro? — questionou ele, olhando para todos os lados. — Idiota — disse para si mesmo.

Drihee se aproximou de Lillillah.

— NÃO! Como tudo isso chegou a esse ponto? — questionou ela, chorando.

— Você consegue se mexer? Vamos, vou te ajuda a levantar.

Ele com muito esforço conseguiu ajudá-la a se levantar.

— O seu Ikihatsunukishi ali no chão. Pegue! — disse Lillillah.

— NÃO! Vamos sair daqui!

Ela o empurrou.

— Você é idiota! Não podemos deixar isso cair em mãos erradas! — disse ela indo pegar o cristal.

Lillillah caiu de joelhos próximo ao Ikihatsunukishi de Drihee. Ele tentou ajudá-la, mas um Hankyater se aproximou apontando sua arma para a cabeça dela.

— Venham, me sigam — disse o Hankyater.

— Como assim? — questionou Lillillah, confusa.

Ela pegou o Ikihastunukishi de Drihee. Ele, sem perder tempo, ajudou Lillillah a se levantar. 

— Me acompanhem! — ordenou o Hankyater, atirando em direção a outro grupo de Hankyaters.

— O que está fazendo? Por que vai segui-lo? — questionou Lillillah para Drihee.

— Não sei. VAMOS! Não temos escolha. Você vai acabar morrendo se ficarmos aqui!

— Não devemos…

Drihee a puxou pelo braço. Ela não conseguiu caminhar.

— Está doendo muito.

O Hankyater se aproximou dela e a injetou algo.

— Vai te ajudar a segurar a dor. Vamos!

— Vamos Lillillah — disse Drihee, ajudando ela a caminhar.

Eles acompanharam o Hankyater que atirava para todos os lados.

— Alí. Vão para aquele drone — ordenou o Hankyater.

— O que está havendo? Por que está nos…

O Hankyater foi atingido nas costas e caiu de joelhos.

— VÃOOOO! AGORA! — gritou o Hankyater.

— Vamos te ajud…

— VÃOOOOO! — ordenou o Hankyater se levantando.

Eles sem muitas alternativas seguiram para o drone. Os dois entraram e o mesmo foi acionado. Eles levantaram voo.

— Não era para ter confiado — disse Lillillah, irritada.

— Não tínhamos escolha. Você não ia se salvar.

— A gente não vai se salvar. Para onde estamos indo?

O drone se deslocava em alta velocidade. Lillillah olhava pelos visores, para tentar ver onde estavam. Drihee foi para um canto e sentou.

— Dói muito — disse ele com a mão no braço ferido. — Como você está? Você está muito machucada.

Lillillah o ignorou e continuou tentando ver para onde estavam indo.

— Droga Lillillah — disse Drihee se levantando.

— Estamos parando.

— Lillillah. Relaxa! Você está muito ferida. Não sente dor? — questionou Drihee tocando no ombro dela.

— Parece que estamos entrando em algum lugar.

Drihee tentou olhar pelo visor que Lillillah olhava com toda atenção.

— Que lugar é esse? 

— Não sei. Paramos! Vamos! — disse Lillillah.

— Lillillah, calma. Como você está? E a dor? — questionou ele indo atrás dela.

A porta do drone se abriu. 

— Quem é? Drihee! O Ikihatsunukishi — disse Lillillah ativando o seu.

Ela jogou o dele e ele tentou pegar com o braço ferido, mas acabou deixando cair.

— Sejam bem-vindos, Ikihatsunukishisen. Não somos inimigos.

— Quem é você? Se afaste! — ordenou Lillillah.

— Lillillah, estou sem forças — disse Drihee, depois que pegou o seu Ikihatsunukishi.

— Sei que estão confusos, mas podem confiar, não somos inimigos, pois se fossemos, vocês já estariam mortos.

— Vocês? Eu só vejo você. Nos libertem, AGORA — gritou ela, irritada.

— Lillillah, calma.

A visão dela começou a falhar.

— As coisas fugiram um pouco do controle, mas agora vamos acertar os planos. Ela precisa vê-los. Vocês devem descansar — disse o desconhecido se aproximando deles.

— AFASTE-SE! Ago… ra…

Drihee tentou segurar Lillillah, mas o desconhecido foi mais rápido e a impediu de cair. O Ikihatsunukishi dela desativou.

— Pegue a arma dela. Ela vai ficar bem. Vocês precisam descansar. Me acompanhe.

Outros desconhecidos se aproximaram com uma maca flutuante para ajudar a carregar Lillillah.

— Sei que não temos alternativas, mas o que querem com a gente? Quem é você? Quem são vocês? — questionou Drihee.

— Me chamo Lenkiphah e acreditamos que seus antepassados não foram traidores. Estávamos planejando há muito tempo por uma busca de respostas internas e até além das estrelas, mas não esperávamos vocês aparecerem de repente. Ela vai ficar surpresa com a presença de vocês.

— Como assim? Quem?

— Vamos. Temos muito que conversar, mas agora precisam descansar.

***

— O que faremos com os sobreviventes, senhor?

— Eliminem — ordenou o líder do grupo Hankyater HKY17VH.

— Sim senhor!

— E você! Devia eliminá-lo também, mas temos que ter uma conversa e espero sua colaboração — disse o líder do grupo Hankyater HKY17VH apontando sua arma para a cabeça do líder do grupo Hankyater HKY14VR.

Um outro integrante do grupo se aproximou.

— Senhor! Encontramos esse robô drone.

— Conseguiram rastrear o operador?

— Não senhor. Pela análise preliminar, identificamos uma criptografia de alto nível.

— Levaremos para a base. Lá talvez conseguimos rastreá-lo.

— Mas se for uma isca para nos rastrear?

— Espero que seja, pois estaremos preparados para recebê-los.

4,6
Rated 4,6 out of 5
4,6 out of 5 stars (based on 11 reviews)
Excelente64%
Muito bom36%
Média0%
Ruim0%
Muito ruim0%

Ótimo início.

Rated 5,0 out of 5
29 de outubro de 2022

Adorei como o autor escreve e como é dinâmico os acontecimentos do livro.

O primeiro capítulo ficou ótimo.

Sullivan

Bom Ate

Rated 4,0 out of 5
18 de agosto de 2020

Ate o Momento esta bem legal nao tenho costume de ler mas este esta me mantendo

Marcelo

Fácil

Rated 4,0 out of 5
17 de agosto de 2020

Muito fácil de ler e entender

Eudimar

CAPÍTULOS

OS IRMÃOS DO GELO | CAPÍTULO 2

CAPÍTULO

2

A BUSCA

ROMEO

Não acreditei no que vi. Meu irmão Roger com uma faca nada normal. Havia ouvido um barulho estranho vindo do quarto dele! Quando saí do meu quarto, eu o vi através da porta entreaberta do seu, fazendo uns movimentos estranhos com aquela arma. Saiu um forte ar gelado do quarto dele, como se o ar-condicionado estivesse ligado a 32°F, o que fez a porta bater. Minha vontade era entrar e saber o que estava acontecendo, mas não tive coragem.

No começo, quando vim morar com Roger e o papai, eu ainda estava meio assustado e ao mesmo tempo feliz por saber que tinha uma família. Depois que descobri isso, sempre me vinha a pergunta de como fui parar no orfanato e perguntava ao nosso pai, mas ele também não sabia responder. Papai nunca imaginara que tivera filhos gêmeos. As respostas eram poucas e a única coisa que ele me dizia era que a mamãe havia morrido no parto.

Voltei para meu quarto e fiquei por um tempo imaginando mil coisas. Ouvi meu irmão saindo do seu. Mas o que eu deveria ter feito? Ir até lá para saber o que ele estava planejando? Ele já não falava comigo e não falaria de jeito nenhum depois da briga que tivemos ontem. Aquela havia sido a pior de todas as brigas que já tivemos. Nunca pensei que chegaria a esse ponto com meu irmão, mas a raiva foi maior com o que ele fez e sempre faz com Desirée.

Depois de muito pensar, cheguei à conclusão de que não deixaria Roger se meter em encrencas. Apesar de não ter nada em comum com ele, no fundo gostaria somente de ser aceito do jeito que sou. Eu deveria deixar as brigas de lado e ir lá falar com ele.

Saí do meu quarto e o procurei pela casa, mas ele não estava. Vi seu bilhete na geladeira que dizia:

 

Fui à New York para a casa do vovô Charles. Estarei de volta no fim de semana.

 

Roger

 

— O que ele foi fazer na casa do vovô? O que está planejando?

Ele quase não se comunicava com a gente, muito menos nos convidava para visitá-lo. Vovô gostava de ficar sozinho e detestava ser incomodado.

Saí correndo para tentar alcançá-lo, abri a porta de casa e:

— Desirée?!

— Oi, Romeo. O Roger está aí?

— Não, ele saiu. Ele foi para casa do nosso avô em New York.

Desirée começou a chorar. Sem saber o que fazer, entrei com ela e lhe ofereci um copo d’água.

— Fui muito dura com ele. Por isso que ele foi embora.

— Para com isso, Desirée!

— Ele saiu e só me mandou uma mensagem. Nem se despediu pessoalmente de mim.

— Você se importa de eu ver a mensagem?

— Claro que não, pegue.

Peguei o DS-Tab Phone de 6” dela. Por um segundo me distrai com a super tela fina de 8k. DS-Tab (Direct Screen-Tablet) era uma tela que recebia sinal de vídeo entre outros da sua Central Smart Box (CSB) por meio da conexão sem fio Wi-Div (Wireless- Direct Instant Video) em até trezentos metros ou on-line via Wi-Fi ou 6G. CSB era uma pequena caixinha que guardava todo hardware de processamento, armazenamento, alguns sensores e conexões. Foi uma ideia genial e um tanto contraditória que mudou o mercado de telefonia e computação móvel. Você tinha na sua CSB todo o hardware e software que se mantinham mais seguro em um único lugar e só andaria em mão com os DS-Tabs que existiam de vários tipos e tamanhos que variavam de 3’’ a 410’’. Se quebrasse um era só comprar outro que nada dos seus dados e sistemas seriam perdidos. Muitos tinham mais de um DS-Tab para diversos tipos de ocasiões. Uns específicos para leitura, outros para jogos ou edições de vídeo. Era possível conectar vários DS-Tabs simultaneamente a uma única CSB. A vida ficou muito mais prática com isso e não precisava trocar de aparelho constantemente como era antigamente no tempo dos smartphones. Isso tudo me fascinava.

Me voltei à situação e comecei a ler a mensagem:

 

Meu anjo, algo de estranho está acontecendo comigo. Preciso encontrar respostas. Estou indo pra NY. Não sei se volto. Te amo e feliz aniversário.

[3:15 PM]

 

— Aquele maluco! — pensei.

Fui até a geladeira disfarçadamente para pegar mais água e tirei o recado que Roger colocou na porta para não piorar ainda mais as coisas.

— Não chore mais, Desirée. Ele está fazendo tudo isso para poder te dar o melhor.

— Será?

— Acredite nele. E mais uma coisa. Feliz aniversário! Não vamos deixar esse dia passar despercebido. Vamos sair para comer alguma coisa.

— Acho melhor não, Romeo. Não estou nos meus melhores dias.

— Anime-se! Vamos?

— Não sei.

Com muito esforço, eu a convenci. Não poderia deixar seu aniversário ser um péssimo dia. Me arrumei e passamos em sua casa para que ela pudesse se arrumar também. Parecia que havia ficado horas esperando na porta da casa dela, mas cada segundo de espera valeu a pena, pois ela estava linda. Seu momento de arrumação só fez realçar ainda mais sua beleza.

Estendi o braço para ela e saímos, mas ainda muito preocupado com Roger, pois já estava anoitecendo.

Pedi uma condução pelo aplicativo, que por sinal chegou bem rápido. O transporte rápido nos levou até um restaurante, não muito chique, mas com uma ótima comida. Sentamos numa mesa no segundo andar que nos dava uma visão para rua. O pedido era feito numa mesa interativa que mostrava o cardápio e em alguns dos casos dava para se ver o processo de preparo da refeição ao vivo. Havia até uma conta de streaming de vídeos que poderia ser acessada gratuitamente caso quisesse acompanhar sua série preferida enquanto degustava a saborosa comida do restaurante. Discretamente peguei meu DS-Tab Phone de 5.2, invadi a rede do restaurante e com uma pequena manobra consegui o contato do gerente que estava no balcão mexendo no seu DS-Tab Work. Mandei uma mensagem para ele.

 

Desculpe-me o incômodo, mas seria possível no final da nossa refeição nos trazer um bolo? Mesa 16. É aniversário da senhorita que me acompanha e queria lhe fazer uma surpresa. Obrigado.

[6:42 PM]

 

O gerente olhou para mim assustado. Achei que ele iria chamar a polícia por causa da minha atitude de invadir a rede privada do estabelecimento sem autorização e com isso, imediatamente mandei outra mensagem notificando-o sobre as falhas de segurança do sistema deles. O gerente voltou a me olhar com uma cara de desconfiado, mas confirmou por mensagem que atenderia ao meu pedido.

Em pouco tempo foi chegando o que pedimos e começamos a comer. Observei que conforme Desirée comia a tristeza em seu rosto começava a sumir. Queria poder dizer tudo o que tinha visto sobre Roger, mas nem eu compreendia o que estava acontecendo.

— Romeo?

— Fala, Desirée.

— Nunca entendi o porquê de você e seu irmão não se falarem. Ele te acha um garoto muito misterioso, mesmo sendo irmão gêmeo dele.

Não sabia o que responder para ela. Eu também não sabia o real motivo de não nos falarmos. Sempre tivemos nossas brigas. Achava ele um exibido cheio de amigos. Talvez tudo fosse simplesmente ciúmes por eu não ter tido tudo que ele teve antes.

— Na verdade, Desirée, eu também não sei. Deve ser pelo fato de eu ser muito tímido e não estar acostumado a ter um irmão gêmeo.

— Mas comigo você não é tímido. É gentil e atencioso. E também sempre aparece quando eu mais preciso.

Fiquei sem palavras pelo que ela disse sobre mim. Dei um sorriso e continuei comendo.

Segundos se passaram no silêncio e logo Desirée disse:

— Me fale sobre você. Já nos conhecemos há um tempo e não sei quase nada sobre você. O que fazia antes de ir morar com seu irmão? Pelo que eu sei você veio de um orfanato.

Mais uma vez não sabia o que dizer. Não tinha muitas lembranças boas até sair do orfanato.

— Eu não tenho muita coisa para dizer sobre mim. Só posso dizer que foram tempos difíceis e solitários no orfanato.

— Hum! Então ok! A comida está ótima! — disse Desirée, tentando mudar de assunto.

Senti que ela não quis ir mais a fundo sobre meu passado, que por um lado foi tranquilizador para mim, pois não me sentia confortável em falar sobre a solidão que passei naquele lugar.

No fim da refeição, que estava maravilhosa, percebi que Desirée olhava toda hora para seu Tab P como se estivesse aguardando uma resposta de alguém. De longe vi o garçom acenando para mim. Ele queria saber se já poderia levar o bolo. Olhei para ele e acenei com a cabeça dizendo que sim. Desirée olhou para mim e perguntou:

— O que foi, Romeo?

— Nada, Desirée.

Eu dei uma risada. Ela olhou para trás e antes que percebesse, o garçom se escondeu. Logo em seguida, ele bem devagar trouxe um bolo cheio de velinhas e começou a cantar…

— Parabéns para você…

A feição de vergonha e ao mesmo tempo de felicidade dominava seu lindo rosto. Ela olhou para mim:

— Você é maluco, mas obrigada!

O garçom colocou o bolo sobre a mesa e Desirée apagou as velinhas. Ela agradeceu e nós saboreamos o delicioso bolo de chocolate.

— Não sei o que dizer, Romeo!

— É o seu dia, aproveite!

— Obrigada, você é mesmo fantástico!

Ficamos mais alguns minutos. Agradeci ao garçom com uma boa gorjeta, transferindo direto para conta dele. Ao invadir o sistema, eu havia conseguido todos os dados dos funcionários.

Na recepção, cumprimentei o gerente e ofereci um serviço de graça para melhorar o sistema da mesa de pedidos e interatividade.

Após sairmos do restaurante, fomos caminhar e aproveitei esse tempo para conversarmos um pouco. Passados uns minutos pedi um transporte rápido que nos levaria para casa.

Chegando à porta da casa de Desirée, dispensei o motorista, pois eu não morava tão longe dela.

Ao nos despedirmos, Desirée aproximou-se de mim, me dando um abraço e agradecendo o que eu havia feito nessa noite, por fim, me deu um beijo na bochecha.

Sem percebermos, os nossos rostos estavam cada vez mais próximos um do outro e num relance, nos fez voltar a realidade. Desirée começou a chorar.

— Me desculpe, Romeo! E mais uma vez, obrigada. Boa noite!

— Boa noite!

Percebi que ela estava lembrando do Roger. Eu queria lhe dizer sobre tudo que pensava, mas eu não podia culpá-la por gostar do meu irmão.

Afastamo-nos, ela se virou e entrou. Voltei para casa pensando no sofrimento de Desirée e no que o Roger poderia estar fazendo.

Cheguei em casa e fui direto para o meu quarto.

— Roger! Tenho que descobrir o que ele foi fazer na casa do vovô.

Peguei meu Tab P para fazer uma chamada de voz e falar com vovô, mas já era muito tarde e ele não gostava de ser incomodado. Eu até pensei em mandar mensagem, mas vovô não gostava dessas coisas. Na verdade, ele odiava o mundo moderno e suas tecnologias.

Fui aos contatos, selecionei o meu irmão e digitei uns emoji de carinhas com raiva e em seguida um pequeno texto que perguntava se estava tudo bem e se tinha chegado bem na casa do vovô. Olhei para a mensagem revisando o que havia acabado de escrever, mas desisti e apaguei tudo. Sem querer mandei umas carinhas com raiva para ele.

— Que merda que fiz! — pensei, aborrecido.

Ia apagar, mas deixei. Esperei uma resposta olhando fixamente para a tela e me assustei com o toque de uma nova mensagem. Pensei que era Desirée, mas quando olhei com mais atenção vi que era uma mensagem do:

— Vovô Charles!

Abri a mensagem que dizia:

 

Olá. Roger já chegou aqui. Boa noite.

[9:47 PM]

 

Como poderia? Vovô estava mandando mensagem. O que isso quer dizer? Tudo estava muito suspeito. Minha vontade era de sair naquele momento e ir até lá para saber o que realmente estava acontecendo. Ainda estava inconformado por Roger estar por aí portando uma espécie de faca estranha e agora essa do vovô, contudo estava muito cansado. Joguei o Tab P na cama e fui para o banheiro.

Depois de um bom banho e já deitado não parava de pensar nas coisas que estavam acontecendo. Meus olhos ficaram cada vez mais e mais pesados…

Crianças brincavam e eu queria brincar também. Me aproximei e elas de repente se afastaram. Era noite e estava deitado na cama com medo. Olhava para os lados e via mais camas, só que estavam vazias. Olhei para o teto e via as estrelas. Vi uma estrela cadente e fiz um pedido:

— Não me deixe sozinho!

Segui sem rumo tentando achar algo. Vi uma luz no final. Corri até ela, mas nunca alcançava o fim. Olhei para luz e vi alguém me chamando e dizendo para eu não parar. Eu corri sem parar, mas caí. A voz dizia:

— Levanta, Romeo! Cadê seu irmão?

— Hum?! Clara?

— Sim, sou eu. Cadê seu irmão? São seis da manhã ele não está na cama.

— Roger foi para casa do vovô Charles em New York e só volta no final de semana.

— Aquele garoto irresponsável! Nem para deixar um recado à moda antiga na porta da geladeira como eu sempre faço, mas vocês com essas tecnologias não querem mais escrever no papel.

— Desculpe, Clara! Mas ele deixou recado sim, eu que peguei.

— Ok! E já que te acordei, vou fazer o café da manhã.

— Está bem, Clara! Vou descer daqui a pouco.

Ainda com sono, mas com um dia longo pela frente, decidi levantar logo e fui direto tomar um banho para despertar. Desci para tomar café.

— Bom dia, Clara!

— Bom dia! Estou fazendo ovos com bacon.

— Ótimo! Vou te ajudar fazendo um suco de laranja.

Peguei umas laranjas na fruteira e preparei uma jarra de suco. Nós tomamos café e logo depois eu subi para o quarto. Clara foi fazer as tarefas de casa.

Ainda pensativo sobre o que Roger estava fazendo, eu entrei no quarto dele para ver se achava algo que pudesse esclarecer sobre seus planos e aquela arma estranha.

Entrei e olhei detalhadamente para tudo. Sob um lençol, vi o colchão cortado pela faca e o virei para o outro lado para esconder o corte, caso Clara entrasse aqui para arrumar seu quarto. Procurei por todos os lugares e quase embaixo da cama achei uma folha amassada que dizia:

 

Um presente deixado para aqueles que herdaram o poder.

 

Tentei imaginar o que isso significava. Suspeitei que poderia haver relação entre esse papel e aquele objeto que se transformou em uma arma que estava com o Roger. Isso me cheirava a encrenca.

— Preciso ir atrás dele e ajudá-lo.

Arrumei minha mochila, contudo não tinha o que falar para Clara.

Pensei em algo e desci.

— Clara, vou para casa de um amigo e só volto no final de semana.

— Vai fazer o quê na casa do seu amigo? — perguntou Clara, desconfiada.

— Vou aproveitar que já estou de férias e continuar com um projeto da escola que estamos fazendo para o último ano.

— Está bem, mas volte na sexta-feira. Seu pai estará voltando para casa. E Romeo! Vai almoçar, não? Já está quase pronto.

— Não, obrigado! Qualquer coisa entre em contato comigo. Tchau, Clara!

— Papai está voltando. Muito legal, mas ruim se eu não encontrar o Roger até lá — pensei.

Saindo de casa, eu encontrei com o Sr. Wood no portão. Ele me parou e perguntou:

— E aí, já fez as pazes com seu irmão?

Sem poder dizer a verdade eu disse:

— Sim.

— Ótimo! Irmãos devem se manter unidos. Só assim terão uma força maior.

Sem entender muito, respondi:

— Claro! E Sr. Wood, se me permite, preciso sair.

— Sim, mas só me faz um favor? Pode chamar seu irmão? Quero falar com ele.

Surpreso com a situação, pois o Sr. Wood nunca parou para falar com a gente, respondi:

— Ele não está em casa. Foi para casa do nosso avô em New York e só volta no final de semana.

— Hum! Entendo. Obrigado, Romeo!

— De nada, Sr. Wood!

Intrigado, me virei e segui caminho em busca do Roger e no terceiro passo ouço:

— Você não deveria ir atrás do seu irmão!

Assustado, parei e pensei:

— Impossível! Como será que ele sabe?

Olhei para trás e vi o Sr. Wood com um sorriso.

— Venha até minha casa e não precisa ter medo! Tenho coisas para conversar com você.

Sem opção, com muita curiosidade e assustado, fui até a casa dele.

Entrando e mexendo no meu Tab P, fui deixando preparado o acionamento à polícia, ativando minha localização. Apesar de já conhecer de vista o Sr. Wood, há um bom tempo, não podia deixar de me prevenir. Ele podia ser algum psicopata que estava nos observando faz tempo. Dentro da casa dele não parava de olhar para todos os lados. Era uma residência aconchegante e bem espaçosa.

— Espere aqui no sofá que vou trazer algo para a gente comer e beber.

Aguardei o Sr. Wood voltar e continuei olhando para todos os lados. Vi na mesa um porta-retrato antigo com uma foto dele e uns amigos fardados. Ele deveria ter sido fuzileiro naval. Apesar de parecer ter quase a mesma idade do meu pai, o seu físico parecia com o de um lutador de MMA. Dava até medo, mas quando olhava para seu rosto parecia inofensivo.

O Sr. Wood voltou da cozinha com uma jarra de suco de uva e vários aperitivos. No começo achei que era vinho, mas quando coloquei o copo na boca com a bebida, vi que realmente era suco. Havia hesitado de aceitar, mas não sei o que passou pela minha cabeça que, no fim, acabei aceitando.

— Aposto que há muitas perguntas circulando na sua cabeça? — disse o Sr. Wood.

Pensando cuidadosamente no que ia responder disse:

— Sim, realmente. O que o senhor sabe sobre Roger?

— Melhor perguntando… Sobre Roger e você? — disse Sr. Wood.

— Como assim?! O que o senhor sabe sobre nós e especialmente sobre mim? Nem sempre morei aqui.

— Sei de muitas coisas que você não precisar saber.

— Me responda!

— Acalme-se! Vou lhe esclarecer algumas coisas.

— Quero respostas!

— Você nervoso se parece com sua mãe.

— Hum?! Como assim? Conheceu minha mãe?

Essa conversa já estava começando a me deixar mais assustado do que já estava, mas curioso, perguntei:

— Como conheceu minha mãe? Me fale sobre ela. Meu pai nunca conversou comigo com detalhes a respeito dela.

— Realmente ele não falaria — disse o Sr. Wood, tirando o sorriso.

— Me fale dela.

— Não tenho muito para falar sobre sua mãe. Só posso lhe dizer que ela morreu no parto de vocês.

— Mas isso eu já sei.

— Romeo! Preste atenção no que tenho para lhe dizer. O que está acontecendo com o seu irmão realmente é uma coisa incrível e perigosa, mas ele tem que encontrar as respostas sozinho. Confie nele. Ele voltará para casa em segurança.

— Mas, Sr. Wood…

— Apenas confie nele. Vai dar tudo certo. Agora volte para casa e prossiga com suas tarefas.

Ainda assustado e surpreso com as revelações do Sr. Wood, decidi confiar no que ele disse, pois apesar de tudo, me sentia no fundo mais confortável por saber que outra pessoa sabia sobre o que o Roger estava passando e se preocupando com isso.

— Absurdo! O que eu estou dizendo para mim mesmo? Como posso confiar num homem que antes nunca havia falado comigo? Que segredos ele esconde? Como ele sabe que o Roger anda fazendo? Preciso de respostas! Vou atrás do meu irmão! — pensei, revoltado.

O Sr. Wood se levantou e eu o acompanhei até a porta, mas antes de sair, perguntei:

— O que o senhor sabe sobre aquela arma que está com meu…

— Vá, Romeo. Não se preocupe. Apenas confie.

— Tá ok, Sr. Wood. Obrigado e até mais!

Saí e segui de volta para casa quando o Sr. Wood disse:

— Romeo! Só mais uma coisa. Pode me chamar de Rougan.

— Esse é seu primeiro nome? Rougan. Rougan Wood.

— Isso, Romeo, e não se esqueça: confie e boa tarde!

Em pensamento respondi:

— Confiar? Em quem? Nele ou no meu irmão? Com certeza não é nele.

Fiquei sentado, na praça perto de casa, por horas pensando em mil coisas. Tomei uma decisão.

Disposto a ir atrás do Roger, segui caminho. Passei pela minha casa, mas de repente ouvi um alerta de mensagem. Peguei meu Tab P e vi uma mensagem do meu irmão.

— Como pode?! Ele nunca me mandou mensagem — pensei, confuso.

Abri e para minha surpresa:

 

Está tudo bem. Logo mais entraremos em contato.

[5:31 PM]

 

Fiquei mais surpreso.

— Roger?! Será que está tudo bem mesmo?

Queria ligar ou responder à mensagem, mas não sabia o que dizer?

Parado por quase dois minutos pensativo, decidi confiar no meu irmão e ver que rumo as coisas tomariam. Já era fim de tarde e voltei para casa.

Nossa!

Como o tempo passou rápido. Mais uma quarta-feira foi embora e nem percebi. Entrei e lá estava Clara preparando algo para ela comer.

— O que houve, Romeo? Você não ia ficar na casa do seu amigo?

Não me agradava mentir, mas respondi:

— Meu amigo teve que ir para casa da sua avó com os pais.

— Hum! Que pena! Então vou preparar algo especial para você.

— Obrigado, Clara! Vou subir, tomar um banho e já desço.

Fui até o meu quarto, peguei umas roupas limpas e fui tomar banho. No chuveiro, ainda muito pensativo com tudo que o Sr. Wood havia me dito e no que o Roger poderia estar fazendo, acabei demorando muito no banho. Me vesti e desci.

— O que houve, Romeo? Por que está com essa cara de triste?

— Nada, só estou cansado. Me esculpe pela demora.

— Que nada. Coma e vá descansar.

— Obrigado, Clara!

Terminei e subi para o meu quarto. Me deitei ainda muito pensativo e o que mais me incomodava era o fato do Sr. Wood ter mencionado a mamãe.

Muitas perguntas embaralhavam minha mente e nada se encaixava. Fiquei pensando em como ia vasculhar a vida do Sr. Wood e descobrir alguma coisa que respondesse minhas perguntas, mas por um instante quase todo meu pensamento se apagou e a única coisa que minha mente passou a processar foi Desirée.

— Como será que ela está? — pensei alto.

Com o pensamento nela, meus olhos começaram a  se   fechar      e…

0,0
Rated 0,0 out of 5
0,0 out of 5 stars (based on 0 reviews)
Excelente0%
Muito bom0%
Média0%
Ruim0%
Muito ruim0%

There are no reviews yet. Be the first one to write one.

CAPÍTULOS

OS IRMÃOS DO GELO | CAPÍTULO 1

CAPÍTULO

1

E TUDO MUDA

ROGER

Olhei para o céu noturno e vi muitas estrelas brilhantes. Um floco de neve caiu na minha testa.

— Como era possível se estávamos em pleno verão? — pensei, inconformado.

Olhei para meus pés e vi que estavam cobertos de neve. Não sentia frio, mas meu corpo estava imóvel, como se estivesse totalmente congelado. Tentei desesperadamente me mexer. Caí com o corpo ereto. Uma voz bem de longe tentava me dizer algo. Me esforcei para tentar entender.

— Levanta, ROGER! O CAFÉ ESTÁ NA MESA! — gritou Clara.

Droga! Não ouvi meu DS-Tab Phone despertando de novo!

Levantei assustado e lembrei que tinha prova de História. Me arrumei às pressas e desci as escadas pulando de quatro em quatro degraus. Cheguei à cozinha e lá estava meu irmão sentado à mesa e Clara terminando de pôr o café.

— LEVANTA, ROGER! O CAFÉ ESTÁ NA MESA! — gritou Clara, novamente.

— Eu já estou de pé. Bom dia, Clara! E bom dia! — disse, olhando para meu irmão.

Ele me ignorou, levantou e saiu sem terminar seu café. Romeo não falava comigo há uns meses. Desde que ele chegou vivemos nos desentendendo. Talvez a raiva dele seja porque eu tive tudo desde o começo e ele não teve o mesmo privilégio. Aqueles cabelos loiros, olhos azuis sérios, sempre se achando mais bonito do que eu.

— Convencido! — pensei.

Eu que era mais bonito e mais inteligente, mesmo nós sendo gêmeos, mas esses não seriam motivos para não me dirigir à palavra, a não ser pelo fato da mamãe…

— Roger, vá logo, está atrasado! — disse Clara.

— Já estou indo!

— E mais uma coisa: amanhã eu…

— Ok, fui!

Morávamos na Philadelphia, Pennsylvania. Durante a semana eu fazia o mesmo percurso pela manhã. Caminhava alguns quarteirões até à escola, quase sempre atrasado. Tentei passar despercebido, mas…

— Sr. Stan, está atrasado mais uma vez.

— Eu sei Sr. T. Me desculpe.

— Sem desculpas! Se chegar mais uma vez atrasado essa semana, terá muitas atividades extras nas férias de verão.

O Sr. T. era o monitor de alunos da escola. Ele era muito obcecado pelo trabalho e tinha uma careca que refletia a luz do sol em nosso rosto. Além disso, seu olhar sério e desconfiado deixava com medo as pessoas que passavam por ele, mas achava que isso era frustração por não conseguir realizar seu sonho de ter uma banda de rock.

Assim que entrei na sala de aula, a professora interrompeu o que explicava no quadro digital. Todos os alunos pararam e dirigiram seus olhares para mim, menos meu irmão que continuou concentrado nos comentários sobre a prova que seria aplicada, que estava na imensa tela digital.

— Roger, pegue na mesa seu DS-Tab SchoolBook para realizar sua prova e sente-se! Vou terminar de passar as instruções para realização da avaliação e vocês terão quarenta minutos para terminar. Dúvidas? Fechem seus olhos e consultem a Deus!

A professora Sonia Carter era louca, na minha opinião. Com aquele cabelo preto escorrido e aquela franja dos anos 90. Ela devia se achar muito engraçada com suas piadas sem graça, mas não podia mentir, pois tirando suas loucuras e aparência, ela era uma excelente professora. Peguei o DS-Tab SB, olhei para prova e falei comigo mesmo.

— Dessa vez não vou me safar.

Meu irmão em dez minutos se levantou, entregou o Tab SB com a prova toda respondida e saiu.

— Como sempre ele se achando o sabe tudo — pensei, indignado.

Romeo sempre tirava as notas mais altas da turma.

— Atenção! O tempo está acabando.

— O quê? — imaginei.

Uma mensagem enorme surgiu no Tab SB notificando que havia acabado o tempo, me impedindo de continuar. Mal tinha respondido metade da prova. A professora Sonia pegou o Tab SB da minha mesa e riu do meu olhar de desespero. Fui o último a sair.

Fazia muito calor e resolvi parar em algum lugar para tomar algo bem gelado. Atravessei para o outro lado da rua e parei numa lanchonete. Pedi um milkshake de napolitano e fui andando de volta para casa. Tinha que estudar para a prova do dia seguinte e não voltar a fazer a mesma vergonha, deixando questões em branco. Minha vontade na verdade era de sair com os amigos para esquecer os problemas e responsabilidades, mas algo me dizia que tinha que ir para casa.

No caminho passou um carro preto bem devagar do meu lado e quando fui olhar para tentar ver através dos vidros escuros o motorista, ele pisou no acelerador e virou na esquina logo à frente. Achei meio estranho a atitude dele, mas continuei saboreando meu milkshake.

Chegando à porta de casa escutei um grito raivoso.

— ROGERRR!

Reconhecendo a voz e me lembrando do dia anterior, me virei e deparei com um olhar de fúria, mas ao mesmo tempo, um olhar que enfeitiçava qualquer marinheiro em alto mar, convidando-o a pular, mesmo que não soubesse nadar.

— O que houve? Esqueceu do que faríamos hoje?

— Não, meu anjo! Só me distraí com o péssimo dia que tive até agora — disse, tentando me desculpar e lembrar o que tinha que fazer com ela.

— Cadê seu Tab Phone? Liguei várias vezes, mandei várias mensagens e você nada de responder.

— Esqueci em casa. Acordei atrasado, você sabe como eu sou.

Mesmo Desirée furiosa comigo, eu não conseguia achá-la chata. Ela sempre me encantava com os seus olhos castanhos brilhantes e sedutores, seus cabelos encaracolados e leves como seda e sua pele morena e macia.

— Me dá esse milkshake, Roger! Vamos fazer o que tínhamos planejado!

Ela pegou o milkshake com uma das mãos e com a outra a minha mão. Seguimos um caminho sem que eu soubesse aonde nos levaria. Esperava lembrar antes de chegar aonde quer que fosse. No caminho encontramos com meu irmão em sentido contrário.

— Oi, Romeo! — disse Desirée.

— Oi, Desirée! — respondeu Romeo, sem graça.

Ele seguiu em disparada no sentido de casa e nós prosseguimos para o combinado. Chegamos a uma rua bem movimentada, cheias de lojas de roupas, brinquedos e restaurantes.

Logo à frente entramos numa cheia de joias, brincos de ouro e colares com pedras de diamantes. Desirée se aproximou da vitrine de alianças e logo minha memória foi voltando. Há quatro meses eu havia prometido a ela que um dia antes do seu aniversário compraria alianças, para que no seu dia a gente noivasse e, depois de dois anos, casaríamos. Eu devia estar louco quando disse isso para ela. Tínhamos apenas dezessete anos e nem havíamos entrado para a faculdade ainda. Havia muitas coisas que eu queria fazer antes. Curtir mais a vida sem assumir tantas responsabilidades.

Por um momento achei que ela havia me enfeitiçado só para aceitar tudo isso. Era uma situação complicada, mas não podia me esquecer.

— Amanhã é o aniversário dela — disse para mim mesmo, em pensamento, por várias vezes.

— Amor, é esse que eu quero — disse Desirée, animada.

— Tem certeza?

— Sim, com total certeza!

Eu, sem muita alternativa, comprei as alianças. Gastei metade das economias que estava reservando para curtir as férias de verão. Só de imaginar o quanto ela estava feliz, me doía o coração por não estar sentindo o mesmo.

Saímos da loja e seguimos de volta para casa. Eu ainda tinha que estudar, já que pretendia proporcionar uma vida confortável para Desirée no futuro. Parei novamente na mesma lanchonete, comprei mais um milkshake para ela e seguimos o caminho. Já perto de casa, muito pensativo, parei e disse:

— Desirée, espere!

— O que foi, Roger?

— Será que podemos dar um tempo para eu me preparar melhor?

— O quê?! — reclamou Desirée. — O que você quer dizer com isso?

— É que… acho que não estou preparado para assumir tantas responsabilidades.

— Você disse que seria amanhã! Me prometeu! Disse que era o que mais queria!

— Sim, meu anjo, só que…

Desirée jogou as alianças no chão e saiu correndo chorando. Eu, sem muita reação, peguei os anéis e fiquei observando-a correr sem ter coragem de ir atrás. Apertei as alianças com força, coloquei no bolso e fui para casa. Segui o meu caminho e quase na porta de casa, me deparei com Romeo me olhando furioso. Ele colocou a mão no meu peito.

— Você disse que iria se casar com ela!

— O que você tem a ver com minha vida? Não se intrometa, saia da minha frente!

— Deixe de ser irresponsável! Não a trate como seu brinquedo!

Romeo agarrou minha blusa e caímos no chão aos socos, mas logo um homem se aproximou e nos separou. Ele nos arrastou para porta de casa e tocou a campainha. Depois de alguns segundos:

— Com licença! Senhorita…?

— Clara. Como posso ajudar? — respondeu ela, assustada, olhando pra mim e meu irmão.

— Desculpe incomodar, sou vizinho de vocês e quando estava chegando vi esses dois se desentendendo na porta de casa.

— Romeo e Roger! Entrem agora! E… me desculpe o transtorno, senhor…?

— Wood.

— Obrigado, Sr. Wood!

— De nada. Até!

O Sr. Wood foi para sua casa. Clara fechou a porta, lançou um olhar severo em nossa direção e disse:

— O almoço está quase pronto. Vão tomar banho e venham almoçar.

Sem questionar muito, fomos e logo voltamos para comer. Sentei à mesa com Romeo, algo que dificilmente acontecia, e iniciamos nossa refeição que procedeu toda em silêncio.

No término do almoço meu irmão subiu para o seu quarto e eu fui para o meu. Mesmo sendo irmãos e gêmeos tínhamos quartos separados. Nunca entendia qual era a dele.

— Será que ele tinha ciúmes de sermos gêmeos e eu ser mais bonito que ele? — me questionava.

Deixei para lá e fui estudar. Peguei meu DS-Tab HomeBook e passei a tarde tentando revisar a matéria, mas estava difícil de me concentrar, algo me incomodava. Peguei meu DI-EyesÓculos de Realidade Aumentada” e tentei estudar de uma maneira mais interativa, mas logo abri um jogo e as horas passaram rapidamente.

No fim da tarde, já cansado de jogar, parei e olhei pela janela do quarto para ver o tempo. Ouvi um toque de mensagem. Pensei que era Desirée, mas quando vi, era uma mensagem de alguém não identificado que dizia.

 

Vá à caixa de correio.

[5:55 PM]

 

Fui até a janela e vi que na caixa de correio havia algo. Fiquei desconfiado e assustado. Desci correndo e fui até lá para ver o que era.

— Um pacote? Quem será que o deixou aqui? — pensei, curioso.

Não poderia ser o correio, pois não tinha identificação, selo, nada que mostrasse ser uma entrega. Olhei para o alto para ver se via algum drone de entrega, mas não vi nada. Entrei com o pacote e fui até a cozinha beber água.

— Ei, Roger! Se eu souber que você e seu irmão brigaram mais uma vez, vou ligar para seu pai.

— Está bem, Clara!

— Seu pai está viajando a trabalho. Quer deixar ele furioso e preocupado?

— Não.

— E vem comer. Já vou pôr a mesa.

— Não quero, vou estudar.

Peguei o pacote do correio, uns biscoitos escondidos e subi para o meu quarto. Quando estava subindo, Romeo estava descendo para comer como se fosse um menino bonzinho.

Chato! Ao passar por mim pelas escadas, esbarrei de ombro com ele e foi como se passasse cento e dez volts no meu corpo. Ambos olhamos um para o outro, mas ignoramos o que aconteceu. Segui até o quarto, coloquei o pacote sobre a mesa e puxei uma cadeira para me sentar.

— O que será que tem dentro? Será uma bomba?

Eu devia estar louco por trazer isso para dentro de casa, mas cansado por ter tido uma segunda-feira agitada e era só o início da semana ainda, não me importei com o que poderia acontecer e abri o pacote.

Era uma caixa de madeira. Com o coração acelerado cuidadosamente abri a tampa e olhei para dentro. Havia uma foto. Um homem fardado.

— Quem será ele? Me lembra alguém — pensei, sem entender nada. — Será que foi ele que deixou essa caixa aqui?

Coloquei a foto sobre a mesa e olhei de novo para dentro da caixa. Tinha algo parecido com um…

Chaveiro?!

Analisei cuidadosamente o objeto. Tinha a forma de cubo de gelo. Achei bonito e suspeito.

Estranhamente o objeto começou a ficar gelado. Larguei ele na mesa ao lado da foto e olhei para caixa e ver se tinha mais alguma coisa. Bem no fundo tinha um papel dobrado. Peguei e nele havia algo escrito.

 

Um presente deixado para aqueles que herdaram o poder.

 

— Quem foi o louco que escreveu essas coisas? Será que foi o cara da foto?

Não liguei, pois tinha que estudar. No dia seguinte ainda teria prova.

Me lembrei do que havia acontecido entre mim e a Desirée. Esperei ela mandar alguma mensagem o dia todo, mas nem um emoji havia recebido. Deitado na cama, mais uma vez tentei estudar, mas logo parei. Comecei a acessar as redes sociais, ver alguns vídeos engraçados, comer uns biscoitos e jogar novamente o mesmo jogo de antes. Olhei para o relógio e já eram mais de onze da noite. Desesperadamente levantei, peguei o DS-Tab HB, abri a matéria de Química e comecei a ler.

— Capítulo 29. Ciclos biogeoquímicos. Os elementos químicos circulam na natureza ora participaannddooo de mo lé   cu

Estava ficando frio e cada vez mais frio, mas era agradável para mim.

— Romeo? O que você quer comigo? Eu não vou atrás de você!

De repente meu corpo parou de se mexer. Surgiu um espelho à minha frente e eu me via congelado. Não sentia dor. No reflexo, via Romeo e tentava chamá-lo, mas não conseguia falar. Desirée apareceu ao lado dele e os dois começaram a desaparecer.

— Estou sozinho! — disse, assustado.

O espelho sumiu e na minha frente, a uma pequena distância, via alguém. Não consegui ver quem era. Estava tentando me dizer algo, mas eu não escutava. Me esforcei para poder tentar entender.

— ROGERRR! O CAFÉ ESTÁ NA MESA.

Droga! Estava atrasado de novo. Maldito Tab P que não escuto despertando. Precisava de uma AI decente. Levantei desesperado, me aprontei em segundos, desci as escadas em dois pulos e na cozinha Clara já estava terminando de aprontar meu café.

— Pegue, Roger! E vá embora! Tome o café no caminho!

— Obrigado! Até!

Fui correndo para a escola torcendo para não encontrar o Sr. T. Cheguei, entrei como ninja e quase entrando na sala…

— Sr. Stan! Atrasado mais uma vez? Nem preciso dizer o que vai acontecer…

— Mas, Sr. T., hoje é o último dia e última prova.

— Realmente, bem lembrado. Então terá muitas atividades extracurriculares para fazer nas férias de verão.

— Mas, Sr. T…

— Sem mais! Vá para sua sala!

— Sim, Sr. T.

Entrei na sala e a prova já havia começado. Peguei o Tab SB na mesa, me sentei e logo em seguida Romeo se levantou, entregou o seu Tab SB com a prova toda respondida e saiu.

— Chato!

Como sempre se sentindo o cara. Tentei me concentrar e comecei respondendo algumas questões, mas fui interrompido pela professora:

— Por pouco você não perde a prova. Vai precisar de sorte!

Olhei para a professora Elizabeth Collins e me mantive calado imaginando as diversas respostas que poderia ter dado. Até que eu estava confiante. De alguma forma eu sabia as respostas. Não sabia o porquê. Achei que era por causa de um jogo de aventura e enigmas que envolvia muito desses assuntos. Terminei, entreguei a prova e saí. Novamente fui o último, mas muito confiante. Saí da escola pensando em Desirée.

— Como será que ela está? — pensei, preocupado.

Eu fui muito duro com ela e devia ter sido mais maduro e responsável. Olhei meu Tab P para ver se tinha alguma chamada perdida ou mensagens dela, mas nada encontrei. Desirée me perturbava com muitas mensagens carinhosas, mas, desde o dia anterior que eu não recebia nada dela. Precisava entrar em contato, ao menos enviar uma mensagem de parabéns, pois afinal hoje era o aniversário dela. Estava muito envergonhado com o que tinha feito ontem e não tinha coragem nem de mandar um simples emoji.

Caminhei para casa com uma cara de desânimo, como se tivesse trabalhado a semana toda para a apresentação de um projeto e que no final deu tudo errado. Ainda era terça-feira e amigos haviam me chamado para curtir o fim das provas. Eles sempre curtiam, não importava se era início ou fim de alguma coisa. O importante para eles era estar na moda e aproveitar a vida.

No caminho de volta novamente um carro preto passou por mim bem devagar, mas logo acelerou.

— Será que era o mesmo de ontem? — pensei.

Fiquei muito desconfiado e assustado. Imaginei se alguém estava tentando me sequestrar. Apertei o passo e fui para casa.

Ao chegar, notei algo estranho, não havia ninguém em casa.

— Estou cheio de fome, mas cadê a Clara?

Na porta da geladeira tinha um recado dela:

 

Meninos, fui para casa da minha mãe levar o seu remédio e volto só amanhã. Deixei comida no forno. É só esquentar. O que precisarem, me liguem.

 

Clara

 

Ela ainda cismava em escrever mensagens no papel. Seria bem mais prático enviar mensagem pelo Tab P.

— Fazer o que se Clara resiste a tecnologia? — pensei, inconformado.

Ainda era cedo para almoçar. Peguei um pacote de biscoito e fui para o quarto. Liguei o DS-Tab TV de 55” na parede para ver um filme ou série, mas ao mesmo tempo liguei meu DI-Eyes para jogar. No Tab TV estava passando noticiário, mas eu estava vidrado no jogo que estava quase finalizando. A fome começou a bater. Quando fui verificar as horas, vi que já era mais de meio-dia. Olhei para o pacote de biscoito que não tinha aberto, mas decidi descer e pegar o almoço para me alimentar melhor.

Esquentei a comida e subi para o meu quarto novamente. Enquanto comia observava o chaveiro em forma de cubo de gelo que parecia nunca derreter em cima da mesa. Várias coisas me vieram à mente. Lembrei da mensagem de origem desconhecida que recebi avisando dessa caixa no correio. Fiquei minutos tentando imaginar quem poderia ser o responsável por isso. Ninguém me vinha à mente. Essa situação já começava a me incomodar.

Terminei de almoçar, coloquei o Tab TV no mudo, que ainda passava repetidamente uma notícia sobre um incidente que aconteceu ontem, a uma base militar em Nevada, devido a um erro de exercício. Peguei o chaveiro e o olhei por minutos concentrado no silêncio do quarto, mas me assustei com o toque de uma chamada de voz do meu Tab P. Com o susto, deixei o chaveiro cair, mas nem me abaixei para pegar, porque fui correndo ver de quem era a chamada. Estava na esperança de ser Desirée, mas era:

— Vovô Charles!

Era uma surpresa, pois o vovô quase não entrava em contato com a gente. Eu fiquei segundos olhando o Tab P tentando imaginar porque ele estava ligando, mas logo em seguida toquei na tela e atendi:

— Olá! Vovô Charles, tudo bem com o senhor?

— Olá, Roger! Tudo bem, sim! Preciso que venha me ajudar com um trabalho. Você teria tempo?

— Sim, vovô. Com certeza! Mas que tipo de ajuda que o senhor quer?

— É só um trabalho que estou tendo dificuldade em realizar. Mandei para seu e-mail tudo que precisa para poder chegar até aqui em casa. Arrume suas coisas e venha. Obrigado!

— Ok, vovô! Mas uma pergunta: como o senhor conseguiu meu e-mail? O senhor não gosta desses meios de comunicação virtuais.

— Apenas venha e não se esqueça de trazer o gelo!

— Hã?! Mas de que o senhor está falando?

Quando percebi estava falando sozinho. Vovô Charles havia desligado e não ouviu minha pergunta.

— Será que o vovô estava falando do chaveiro? Será que foi ele que deixou a caixa no correio? Isso não seria possível — pensei, confuso.

Coisas estranhas estavam acontecendo e agora essa do vovô.

Peguei o chaveiro no chão e coloquei de volta na caixa de madeira em que ele veio. Peguei a foto do cara e o bilhete. Olhei por minutos a foto e reli a mensagem.

 

Um presente deixado para aqueles que herdaram o poder.

 

Estava tentando conectar os fatos, mas nada se encaixava. Tentei ser um Sherlock, mas não tinha jeito para isso. Coloquei a foto na caixa junto com o chaveiro e amassei o bilhete fazendo uma bola de papel. Mirei na lixeira bem no canto do quarto me imaginando como se estivesse numa partida de basquete tentando fazer uma cesta de três pontos. Mirei, mirei, arremessei e errei. Abaixei a cabeça de decepção e me joguei na cama.

Ouvi alguém entrando em casa. Imaginei que deveria ser o Romeo. Minha intuição se confirmou quando eu o vi pela minha porta que estava entreaberta. Ele entrou em seu quarto e bateu à dele. Levantei e fui arrumar minhas coisas para viajar. Peguei a foto e o chaveiro na caixa, os coloquei na cama e fui guardar na mochila minhas coisas.

Com tudo pronto, sentei na cama, peguei o chaveiro e fiquei imaginando se o vovô tinha alguma ligação com essas coisas. Comecei a lembrar da briga que tive com o idiota do meu irmão.

— Sempre se intrometendo na minha vida — pensei, indignado.

Por um segundo fiquei com muita raiva dele e de repente o chaveiro na minha mão começou a ficar realmente gelado. Me levantei assustado. O chaveiro começou a brilhar intensamente.

— O que é isso?!

O pequeno chaveiro se transformou em uma espécie de faca e seu formato de cubo de gelo ficou na ponta do cabo por onde segura. Sua lâmina parecia bem afiada, mas passando meu dedo sobre ela, cada vez com mais força, não me cortava e imaginei que talvez, ela fosse cega. Passei sua lâmina no colchão e ela cortou feito uma faca afiada cortando sushi.

Incrível! A faca liberava vapor, como se estivesse muito quente, mas na verdade estava gelada. Brinquei com ela como se fosse um espadachim, mas quando me dei conta vi que não estava brincando e que todos os movimentos que havia feito foram fantásticos, como se eu já soubesse manusear uma arma de combate corpo a corpo.

— O que está acontecendo comigo?

Larguei a faca em cima da cama assustado e logo depois ela voltou a se transformar num chaveiro em forma de cubo de gelo inofensivo. Mil coisas me vieram à mente, mas estava tão assustado que não conseguia processar nenhuma delas com coerência.

Decidi que tinha que descobrir o que estava acontecendo e alguma coisa me dizia que vovô poderia ter a resposta. Estava tão nervoso que peguei o meu Tab P da mochila e mandei uma mensagem para Desirée. Cuidadosamente peguei o chaveiro na cama, joguei na mochila e abri um lençol sobre o colchão. Apanhei a foto que havia caído no chão, coloquei na caixa, joguei no guarda-roupa e saí do quarto.

Peguei um pedaço de papel de um dos bloquinhos de recado da Clara, escrevi um bilhete e deixei na porta da geladeira. Já do lado de fora, ainda na porta de casa, respirei fundo tentando pôr na minha cabeça que tudo que estava acontecendo não eram coisas imaginárias da minha mente. Com meu Tab P na mão olhei para os lados e parti.

0,0
Rated 0,0 out of 5
0,0 out of 5 stars (based on 0 reviews)
Excelente0%
Muito bom0%
Média0%
Ruim0%
Muito ruim0%

There are no reviews yet. Be the first one to write one.

CAPÍTULOS

OS IRMÃOS DO GELO | CAPÍTULO 0

CAPÍTULO

0

O INCIDENTE

 

Roswell, 02 de Julho de 1947

 

Kristopher foi apunhalado pelas costas, mas, mesmo muito ferido, se virou e atacou a criatura, atravessando a mesma, que se dissolveu em seu Ikihatsunukishi.

Ele percebeu que não ia aguentar muito e usou todas suas forças. O seu Ikihatsunukishi sofreu uma transformação ficando maior e muito mais poderoso. As criaturas restantes mais ágeis recuaram e sumiram na escuridão. As mais lentas não conseguiram se esquivar do ataque furioso e muito rápido dele. Ele ficou por um tempo esperando por mais ataques, mas só se ouvia o som dos grilos.

Kristopher lembrou da sua família e seguiu até onde eles poderiam estar. No meio do caminho, ele ficou com a visão turva, caiu de joelhos e começou a tossir muito sangue. Seu Ikihatsunukishi desativou. Quando tentou se levantar, sua visão apagou totalmente e ele caiu.

Um outro fazendeiro local apareceu e ficou assustado com o que viu. Ele saiu correndo dali e foi avisar ao xerife da região. Pouco tempo depois, viaturas militares chegaram ao local de combate.

Toda equipe se mobilizou para analisar o incidente. Eles ficaram confusos e alguns assustados com a situação. Um Major-General chegou minutos depois a área do confronto.

— Senhor. São muitos destroços.

— Ordene que recolham tudo — disse o Major-General Kerr.

— Sim, senhor! — respondeu o Capitão Hahn.

Ele coordenou a equipe de recolhimento dos destroços de um grande objeto não identificado. Dois oficiais médicos solicitaram a atenção do Major-General Kerr.

— Os ferimentos dele são…

— Identifique-o e o leve para a base — ordenou o Major-General interrompendo um dos oficiais médicos.

— Pelos documentos encontrados na residência próxima, ele se chama Kristopher — disse um Segundo-Tenente que estava ao lado dos médicos.

O Major-General chamou o Capitão Hahn:

— Isole toda a propriedade dele e recolham tudo também.

— Sim, senhor! Mas, senhor, temos um objeto que parece radioativo. Um cristal…

— Parece? Usem o Contador para terem certeza!

— Já usamos e não identificamos radiação, mas…

— Então, não é! Recolha tudo! E…

— Com licença, senhor! Desculpa interromper, mas…

— Mas o quê, Sargento?

— Temos um Xerife e um civil aqui!

O Major-General ignorou os seus subordinados e foi impaciente até os não autorizados.

— O que os militares fazem por…

— Me acompanhem! — ordenou o Major-General Kerr, irritado, interrompendo o xerife.

— Só queremos saber o que houve aqui — questionou o civil, fazendeiro local.

— Não vou pedir novamente — disse o Major-General Kerr, indo até uma viatura.

O xerife, para não contradizer, o acompanhou e pediu para o fazendeiro segui-lo. Eles entraram na viatura e uma conversa se iniciou.

Depois de um tempo, o Major-General saiu, e o xerife e o fazendeiro permaneceram. Ele foi até o Capitão Hahn.

— Senhor, me desculpe, mas são muitas coisas para recolhimento.

— Já acionei uma equipe de reforço. Temos que terminar essa missão antes do amanhecer.

 

0,0
Rated 0,0 out of 5
0,0 out of 5 stars (based on 0 reviews)
Excelente0%
Muito bom0%
Média0%
Ruim0%
Muito ruim0%

There are no reviews yet. Be the first one to write one.

CAPÍTULOS

CONTO | O GAROTO DA RUA 666

O GAROTO DA RUA 666

— Não quero ir para escola! Estou me sentindo mau.

— Tudo bem, meu filho. Estou indo trabalhar. Até mais tarde.

— Até.

Norberto estava mentindo para sua mãe. Ele tinha avaliação e não havia estudado. Ela quase não possuía tempo para acompanhar os estudos do único filho. Sua mãe era empregada doméstica e saía muito cedo de casa, sendo que, muitas das vezes, sem hora para voltar. Ele saiu do seu quarto e foi até a despensa para pegar algo para comer, enquanto assistia a uma série de TV.

— #$%$#! Não tem nada de bom!

Ele pegou um biscoito cream cracker e voltou para seu quarto desapontado.

— $%$#@! Não acredito! Volta, sinal! — disse Norberto, revoltado.

O sinal da TV a cabo havia caído. Ele ficou com mais raiva ainda, pois não poderia reclamar com a operadora, já que o sinal era pirata.

— %$#%@! O jeito é dar uma volta por aí. Vou ao shopping — disse Norberto, pensando nos pedaços de pizza que as pessoas deixavam sobrando nas bandejas quando iam embora e que ele poderia pegar.

Ele só trocou a camisa e saiu. Aproveitando a gratuidade do ônibus para estudante, seguiu para o shopping mais próximo. Norberto andou pelo shopping todo, olhando para as coisas, que ele estava longe de ter um dia. Chegando à praça de alimentação, ele fez exatamente o que havia imaginado. Pegou vários restos de pizza que as pessoas haviam deixado na bandeja. Até meia lata de refrigerante encontrou.

Quando pegou o último resto de pizza, percebeu que um dos seguranças do shopping estava se aproximando. Norberto imediatamente saiu do local, a passos largos. Mais dois seguranças se juntaram ao que estava se aproximando dele e foram em sua direção falando pelos rádios.

Ele correu para a saída e os seguranças correram atrás. Por pouco conseguiu sair. Olhou para trás e ninguém o perseguia mais. Norberto resolveu voltar para casa. 

Depois de quase uma hora de espera o seu ônibus chegou. Ele embarcou e, em mais um momento de azar, seu cartão de gratuidade não passou. Norberto ainda tentou fazer cara de triste e desolado para o motorista, mas foi ignorado. O mesmo, que estava estressado, devido ao seu ônibus ter dado problema minutos atrás, não deu uma chance para Norberto. Ele mandou o garoto descer e ir resolver o problema do cartão.

A casa de dele não era muito longe, mas seria quase uma hora de caminhada. Como o dia não estava tão quente, ele resolveu ir andando mesmo.

Nessa caminhada, Norberto ficou refletindo na %$#@$ de vida que ele tinha e nas chances que poderia ter para mudar seu destino.

— Eu devia ter ido para escola. Acho que não tenho alternativa — pensou ele, cansado.

Já bem perto de casa, Norberto ouviu o barulho de algo que parecia ser…

— TIROS — disse ele, em voz alta.

Por um segundo, Norberto olhou para todos os lados para saber de onde vinham. Ele ouviu a sirene da policia e logo viu uma viatura que perseguia um carro prata. Bandidos trocavam tiros com os policiais e vários disparos passaram bem perto dele.

Norberto se jogou no chão e depois de uns minutos, quando o barulho dos tiros estava longe, ele levantou.

— Mas que $%#$*! Nunca vi algo assim aqui perto de casa. A violência está se espalhando mesmo — disse ele para si mesmo, olhando para a placa do nome da rua, 66(6).

Ele seguiu seu caminho quando de repente…

 

***

 

— Hã! O que houve? Que lugar é esse? Que gritos são esses? — disse Norberto, olhando para todos os lados.

Um ser estranho, bípede e sem olhos se aproximou.

— Bem-vindo! Entre naquela fila, para a triagem.

— AHHHH! SAI! SAI! — gritou Norberto, desesperado.

— Acalme-se. Não sou eu quem vai aplicar seu castigo. Entre na fila e aguarde — disse o ser estranho, se afastando e indo em direção à outra coisa que parecia ser uma…

— ALMA! — disse ele, assustado.

Norberto olhou para as mãos e depois para todos os lados. Aos poucos as coisas foram fazendo sentido e ele chegou à conclusão…

— Mas que %$#%¨! Como eu morri? Então o inferno existe? — ficou se questionando.

Ele seguiu para a fila enorme de almas que aguardavam pela triagem. Norberto imaginou que seria para saber que tipo de castigo que ele iria sofrer. Nesse momento ele pensou em todas as coisas ruins que já havia feito na vida. Um desespero tomou conta dele e o fez querer sair correndo.

— Ei! Você! Quer furar fila?

— Hã? Quem disse isso? — perguntou Norberto, olhando para trás.

Ele não viu ninguém e quando olhou para baixo…

— AAAAH! Cachorro demônio?

— Ei! Não grite! Se quer furar essa fila me acompanhe!

O demônio, que parecia um cachorro zumbi, seguiu para um caminho estreito que levava a uma cachoeira de larvas. Norberto hesitou por um momento, mas, por fim, resolveu seguir o pequeno demônio animal. 

— Para onde está indo? — questionou ele.

— Apesar de ter tido uma vida de pecados, não era para você ter vindo para o inferno. Você parece ter um dom especial e precisamos que nos ajude a ir para outro inferno em busca de nosso mestre.

— Busca do seu mestre? Que mestre?

— Oras! O Senhor do inferno, Lúcifer!

— Como assim ajudar? Ajudar a encontrar Lúcifer? O que aconteceu com ele? Por que eu? Que dom que tenho? Como assim outro inferno?

— Calma, garoto! As explicações virão depois. Primeiro, vamos ver se você realmente pode atravessar o portal.

— Que portal? Explique-me! — tentou ordenar, nervoso.

— Aqui, atravesse! — ordenou o pequeno demônio lhe mostrando uma espécie de porta gelatinosa.

— Não vou encostar nisso!

— Você terá uma segunda chance, se fizer. Se não, aquela fila imensa lhe aguarda e, no final, irão decidir de qual pior maneira você passará a eternidade. Então…

— Ok! Ok! — disse Norberto, encostando na porta gelatinosa.

— Deu certo! — disse o pequeno demônio, se transformando em um homem de aparência elegante.

— Deu certo o quê? Afinal, o que é você? — questionou Norberto, olhando desconfiado para o elegante homem.

— Continue! Siga em frente! — disse o demônio elegante segurando a mão de Norberto.

Ele olhou para o demônio, estranhando sua atitude, mas ignorou o fato e seguiu em frente. Após atravessar a porta gelatinosa, eles saíram em um local rochoso e com chamas verdes para todos os lados.

— Que lugar é esse? — perguntou Norberto, confuso.

— Já começou, aqui!

— Começou o quê?

— O apocalipse!

— Como assim? Os demônios estão indo para o mundo dos mortais?

— Isso! — respondeu o demônio, deslumbrado.

— Vamos então! Tenho a chance de falar com minha mãe — disse Norberto, preocupado.

O demônio riu.

— Está rindo de quê? Não posso ir até o mundo dos vivos?

— Para lá você pode, sim! Uma vez aberta a passagem entre o inferno e o mundo dos vivos daqui, você pode ir à vontade, mas…

— Mas o quê? Diga-me!

— Eu ia dizer, mas você me interrompeu. Venha! Veja com seus próprios olhos.

Norberto seguiu o demônio até a enorme passagem que dava ao mundo dos vivos. Ele viu demônios atacando seres estranhos.

— Que lugar é esse? O que os demônios estão atacando. Onde estão os vivos?

— Aqueles são os vivos.

— Hã? Como assim?!

— São os vivos de outro planeta.

— O que? Então existe vida em outros planetas. Mas…

— Exatamente. Não só existe vida em outros planetas, como cada planeta com vida tem seu próprio céu e inferno. O portal que você atravessou comigo nos trouxe a esse inferno. Inferno de outro planeta, onde já começou o apocalipse — disse o demônio seriamente, interrompendo Norberto.

— Que loucura, mas ao mesmo tempo interessante — pensou Norberto. — Tudo bem! Até aqui entendi, mas o que viemos fazer nesse lugar? — perguntou ele, confuso.

— Como já havia dito, estou atrás de meu pai.

— Pai? Você disse que estava a procura do senhor das trevas, seu mestre. Lúcifer.

— Exatamente!

Norberto arregalou os olhos!

Quando ele ia dizer algo, uma luz vinda do céu o arrebatou. O demônio olhou para o alto e pensou:

— Como esses filhos da %$#@, descobriram? Sei que existem outros que funcionam como chave de portais entre os infernos… A questão é como encontrá-los!

O demônio ficou um tempo pensativo, olhando o fim do mundo ocorrendo no planeta Erthumwery. Ele arquitetou um excelente plano e quando se tocou que precisava voltar…

— $#%$#@! Estou preso aqui.

0,0
Rated 0,0 out of 5
0,0 out of 5 stars (based on 0 reviews)
Excelente0%
Muito bom0%
Média0%
Ruim0%
Muito ruim0%

There are no reviews yet. Be the first one to write one.

NAIRIN | CAPÍTULO 10

CAPÍTULO

10

DADOS PERDIDOS

— Ai! Não estou enxergando — disse Lillillah.

Vocês estão bem? — perguntou Mortrazha, sentindo dor.

— Onde vocês estão? — perguntou Maigriyah, assustada.

Ela tentou pegar algo na bolsa que sempre carregava para tentar iluminar o local, mas antes que achasse uma luz acendeu.

— O que nos empurrou? Afinal, o que aconteceu até agora? Estávamos na USaM e não me lembro como saí de lá — disse Drihee com o Ikihatsunukishi ativado.

— Não faz diferença! Você não se lembra de nada mesmo — disse Lillillah com sarcasmo.

Drihee direcionou um olhar chateado para ela. Quando Lillillah ia explicar pacientemente o que havia acontecido foi interrompida por Maigriyah.

— O que é isso? — perguntou ela se aproximando de algo que parecia uma porta feita de uma metal super resistente.

— O que será que tem do outro lado? — questionou Mortrazha, surpreso.

— Acho que posso derreter — disse Drihee, tentando se mostrar útil.

— NÃO! Vai aquecer o metal e aumentar a temperatura por aqui e nos cozinhar, sem contar que vai consumir o oxigênio que parece pouco e nos sufocar antes mesmo de nos fritar — disse Maigriyah.

Algo desceu a rampa.

— AHHH! — gritou Lillillah ativando o Ikihatsunukishi. — Cão inútil! O que faz aqui?

— Acho que foi ele que nos derrubou! — disse Mortrazha, olhando para o animal, desconfiado.

O cão Krittibrayah caminhou até umas pedras ao lado da porta de metal e atrás tinha algo. O animal apontou para essa direção e Maigriyah foi até ele para verificar o que era.

— Interessante! Deve ser por aqui que abrimos a porta — disse ela, pegando logo em seguida um objeto em sua bolsa.

Todos se aproximaram e ficaram observando Maigriyah tentando acessar um dispositivo.

— O que está fazendo? — perguntou Lillillah, curiosa.

— Estou tentando abrir a porta. Só pode ser por aqui…

De repente eles ouviram um estrondo e logo em seguida a porta se abriu. Luzes de dentro acenderam e por um pequeno intervalo de tempo a claridade os cegou.

Quando eles voltaram a enxergar, depararam-se com um lugar amplo que parecia…

— A biblioteca perdida! — disse Maigriyah, surpresa.

Eles entraram cautelosamente. Era uma biblioteca cheia de dispositivos antigos que armazenavam dados. Maigriyah foi até uma pilha deles que estava sobre uma mesa e quando pegou um, o mesmo esfarelou em sua mão.

— Nãooo! Devia ter uma raridade de dados armazenado — disse Maigriyah, desapontada.

— Essas coisas devem ter centenas de anos — disse Mortrazha, pensativo.

Maigriyah ficou analisando o local e viu um dispositivo de processamento que estava conectado à uma central de dados. Ela o alimentou com a energia do seu dispositivo de análise de dados portátil e conseguiu por um instante ligar o mesmo e ter acesso às informações. 

Era um padrão de dados muito antigo e pareciam corrompidos. Ela, com a esperança de poder recuperar as informações, começou a fazer uma cópia. Eram muitos dados e devido à ultrapassada tecnologia que os armazenava, ia demorar muito para fazer a cópia.

— Vocês estão com pressa? Estou fazendo uma cópia dos dados e deve demorar um pouco — disse Maigriyah, afoita com o que poderia descobrir.

— Esse local está mais para uma fortaleza do que para uma biblioteca — comentou Mortrazha, analisando minuciosamente o ambiente.

Computador! — disse Drihee.

— Hã? O que é isso? — perguntou Lillillah.

— Não sei. Estou tentando lembrar, mas não consigo — disse Drihee, confuso.

Lillillah o encarou tentando imaginar o que se passava na cabeça dele. Eles desativaram os Ikihatsunukishi e ela aproveitou para explicar o que havia acontecido desde quando ele apagou na USaM. Depois de um tempo.

— Não! Não! Nãooo! — disse Maigriyah.

Todos os dispositivos de dados e processamento entraram em curto. Por um pequeno intervalo de tempo, Maigriyah conseguiu desconectar o seu dispositivo portátil e evitar que o mesmo fosse danificado.

— Não sou uma menina de sorte — disse Maigriyah, desapontada. 

— O que houve? Achei que tudo ia pegar fogo — questionou Mortrazha, preocupado.

— Não sei! Acho que muita informação foi perdida, mas vou tentar restaurar o que consegui copiar. Vou enviar alguns dados para meu pai me ajudar na recuperação e análise.

Maigriyah tentava entrar em contato com o pai, mas não obtinha resposta.

— Por que não consigo? Estranho! Será que o sinal não está chegando? — questionou ela.

Maigriyah verificou se algo impedia o comunicador dela de entrar em contato com o pai, mas o sinal estava normal.

— Será que aconteceu algo com ele? Preciso…

— O que houve? Para onde vai? — perguntou Lillillah.

— Precisamos sair daqui. Aqui não conseguirei restaurar os dados completamente — disse Maigriyah, agitada.

— Como sairemos daqui? — questionou Mortrazha.

Maigriyah demorou a responder e ficou analisando o local.

— Como sairemos? — perguntou Lillillah, desconfiada.

— Acho que por aqui — disse Maigriyah, mexendo em um dispositivo que parecia controlar uma porta de saída de emergência. — Que sorte! Está com energia. 

Uma pequena porta se abriu e deu acesso a uma escada em espiral. 

— Vamos! Vamos subir e sair daqui!

Mortrazha se aproximou e olhou para o alto.

— Não tem saída.

— Analisei o mapa da saída de emergência. Logo acima tem um bloqueio de acesso, mas é fácil abrir. Conforme subirmos, vamos passar por mais três bloqueios. Vamos! — disse Maigriyah, nervosa.

Lillillah foi logo atrás de Mortrazha. Quando Drihee ia entrar também o cão Krittibrayah avançou nele. Ele correu para o lado e ativou o seu Ikihatsunukishi. O animal pulou em cima do garoto e o derrubou. Drihee se defendia de ser mordido colocando na boca do cão Krittibrayah a barra da sua lança. Lillillah voltou, ativou o dela e atacou o animal. O cão Krittibrayah foi perfurado e se afastou. O mesmo sofreu uma transformação para uma criatura bípede. Antes dela se transformar por completo, Drihee com raiva, lançou uma rajada de fogo e a incinerou.

Depois do ataque, só restara um pequeno cristal alaranjado, que logo em seguida virou pó. Lillillah e Drihee trocaram olhares, preocupados.

— O que foi isso? — perguntou Mortrazha, assustado.

— Nada! Vamos! — disse Lillillah, olhando para todos os lados.

— Como nada? Por que aquele cão atacou? — questionou Mortrazha, confuso.

— Não tenho certeza, mas aquilo não parecia ser o que era — comentou Drihee, pensativo.

— Como assim? — questionou Mortrazha.

— O que estão esperando? Por que não subiram? Já liberei o primeiro bloqueio — disse Maigriyah.

Todos olharam para ela ao mesmo tempo. Lillillah e Drihee desativaram seus Ikihatsunukishi.

— Por que essa expressão? Aconteceu alguma coisa?

— Aquele cão Krittibrayah! Ele atacou Drihee, mas já nos livramos deles — disse Lillillah, caminhando até as escadas. — Vamos!

— Compreendo! Até achei estranho ele ser dócil no início. Geralmente são ariscos com desconhecidos. Parecia que ele já foi treinado por alguém — disse Maigriyah, subindo.

Lillillah e o meninos trocaram olhares, confusos. Mortrazha ia questionar algo, mas hesitou. Maigriyah foi liberando os bloqueios sem dificuldade e eles saíram em um local de ruínas próximo de onde eles escorregaram.

— Cuidado, abaixem-se! — disse Mortrazha.

Ele avistou um robô drone analisando o local por onde eles entraram. O mesmo identificou a presença deles e se deslocou em alta velocidade em suas direções. Lillillah ativou novamente seu Ikihatsunukishi e esperou o robô drone chegar mais perto para atacar. Drihee também ativou o dele e ficou a postos.

— ESPEREEEEE! — gritou Maigriyah indo para a frente de Lillillah.

— SAIA DA FRENTE! — gritou Lillillah, irritada.

— É ADRITIFF! — gritou Maigriyah, olhando com raiva para Lillillah.

O robô drone se aproximou e disse:

— Que bom que encontrei vocês a tempo! Primeiro, Mortrazha entrou para lista de procurados da CENTRAL e eles estão vindo para capturá-lo. Vocês não têm muito tempo! Ele foi considerado um desertor da sua TERRA e eles pediram apoio à TERRA CENTRAL para pegá-lo.

— Como desertor? Eu solicitei afastamento temporário e foi deferido. O que está acontecendo? — questionou Mortrazha, preocupado.

— Estou tentando identificar o que aconteceu, mas acredito que descobriram sobre Ikihatsunukishisen ativos andando por aí. Acho que eles descobriram vocês — disse Adritiff pelo robô drone.

Lillillah e Drihee trocaram olhares, preocupados.

— O que faremos? Como fugiremos da CENTRAL? — perguntou Lillillah.

— Cadê Maigriyah? — questionou Drihee.

Ele olhou para trás e a viu correndo em direção ao local em que eles foram empurrados na rampa.

— O que ela está fazendo? — perguntou Lillillah, irritada.

— Eles estão chegando! Peguem a USaM e fujam.

— Não temos mais a USaM — disse Lillillah, desapontada.

— O quê? Como? O que houve com a USaM? Sem ela vocês não têm como escapar! — observou Adritiff.

Quando Lillillah ia explicar, Mortrazha a interrompeu.

— Não temos alternativas. Vão! Eu me viro e me explico com a CENTRAL. Em uma outra oportunidade nos encontraremos e continuo ajudando-os na busca.

— Não, não, não! Você vem com a gente — disse Lillillah.

— Ele está certo! Vocês não têm alternativas — disse Adritiff.

— O que ela está fazendo? Para onde está indo? — questionou Lillillah não acreditando no que estava vendo.

Maigriyah estava indo embora com a moto de levitação do Bilbroowh.

— Traidora! Ela vai ver quando eu encontrá-la! — disse Lillillah, furiosa.

Mortrazha ficou muito decepcionado com Maigriyah e por um instante tinha esquecido da situação em que estava.

— O tempo está acabando! — disse Adritiff, com a voz aflita.

— VÃOOOO! AGORAAAA! — gritou Mortrazha irritado, voltando à situação.

Drihee se assustou. Lillillah vendo que não tinha alternativas e para evitar que os Ikihatsunukishi caíssem em mãos erradas, desativou o dela, se aproximou de Mortrazha, pegou em sua mão e olhou nos olhos dele.

— Espero que fique tudo bem!

Mortrazha sorriu. Drihee desativou o seu Ikihatsunukishi, se aproximou dele e o abraçou.

— Boa sorte, meu amigo — disse Drihee que logo em seguida se afastou.

Mortrazha ficou surpreso com o comportamento do garoto, mas retribuiu com outro sorriso.

— Venham comigo — disse Adritiff pelo robô drone e guiando o mesmo para uma outra ruína de um edifício.

Eles se esconderam e ficaram observando Mortrazha.

— Fiquem parados. Vou camuflá-los da detecção de presença — disse Adritiff.

— Não acredito que ela nos traiu — resmungou Lillillah, revoltada.

— Ela deve ter tido seu motivo — disse Drihee.

Adritiff ia fazer um comentário, mas hesitou.

— Isso é inadmissível! Ela devia…

Lillillah parou de falar, depois que viu drones da TERRA CENTRAL chegando. Começaram a desembarcar Mitarcopx (Militares da Força Auxiliar da TERRA CENTRAL) e abordaram Mortrazha. Ele foi detido e conduzido até o maior dos drones que chegou. Os Mitarcopx  pareciam discutir algo.

— Eles vão nos achar — disse Lillillah, nervosa.

— É só não se mexerem. O meu robô drone está bloqueando o sinal de rastreamento deles — disse Adritiff.

Depois de pouco tempo os Mitarcopx foram embora. Eles esperaram mais um pouco, até acharem que  o local estava seguro, para saírem.

— O que faremos agora? — perguntou Drihee.

— O que faremos, Adritiff? — perguntou Lillillah.

— Algo–o-o es—tá erra—do! Tem al—guém…

— Adritiff? Adritff? — chamou Lillillah.

O robô drone desligou.

— O que será que houve? — questionou Lillillah.

Sem que eles percebessem, foram cercados pelos Hankyaters.

Se ativarem os Ikihatsunukishi serão neutralizados. Joguem eles no chão e coloque as mãos na cabeça — ordenou o Hankyater líder da equipe.

Lillillah e Drihee, sem alternativas, renderam-se e jogaram seus Ikihatsunukishi aos pés do líder. Eles foram conduzidos até o drone dos Hankyaters. O líder se afastou dos demais e entrou em contato com alguém.

— Parte do plano falhou, mas estou com os outros dois. Estou seguindo para o local orientado.

— Sim! No aguardo! Discutiremos depois sobre os demais.

— Afirmativo.

O Hankyater líder voltou a se aproximar do grupo e todos seguiram para o drone deles. Quando estavam chegando, perceberam que tinha um grupo apontando armas para eles. Um, que parecia ser o líder deste grupo, aproximou-se apontando sua arma para o líder do grupo que capturou os Ikihatsunukishisen e ordenou:

— Todos parados! 

— O que vocês fazem aqui? O que o grupo Hankyater HKY17VH faz nessa TERRA? Vocês não atuam nessa área — falou o líder Hankyater que capturou Lillillah e Drihee.

— Recebemos ordens para interceptá-los, grupo Hankyater HKY14VR. 

— De onde partiu essa ordem? Por qual motivo?

— Foi identificado um espião nesse grupo. Todos larguem suas armas ou vamos atirar para matar.

4,6
Rated 4,6 out of 5
4,6 out of 5 stars (based on 11 reviews)
Excelente64%
Muito bom36%
Média0%
Ruim0%
Muito ruim0%

Ótimo início.

Rated 5,0 out of 5
29 de outubro de 2022

Adorei como o autor escreve e como é dinâmico os acontecimentos do livro.

O primeiro capítulo ficou ótimo.

Sullivan

Bom Ate

Rated 4,0 out of 5
18 de agosto de 2020

Ate o Momento esta bem legal nao tenho costume de ler mas este esta me mantendo

Marcelo

Fácil

Rated 4,0 out of 5
17 de agosto de 2020

Muito fácil de ler e entender

Eudimar

CAPÍTULOS

CONTO | COLEÇÃO

COLEÇÃO

— Você está vendo isso?

— O que será? — perguntou Shirell para Thumver.

— Vamos sair daqui! Está vindo!

Eles correram assustados. Algo voando, como uma enorme ave de metal, se aproximou deles. Shirell e Thumver tentaram atacar arremessando suas lanças que passaram longe e então eles começaram a correr novamente. A ave de metal lançou algo gosmento da direção deles e quase os acertou.

Shirell e Thumver se depararam com uma caverna estreita e entraram. Sem conseguir enxergar, eles adentraram ainda mais e de repente começaram a escorregar para o fundo.  

— NÃOOO! — gritou Thumver.

Confusos com a escuridão da caverna, eles viram uma luz que parecia ser uma saída.

Estão nos seguindo! Temos que fugir! — disse Shirell, desesperado.

Thumver seguiu a luz no fim do túnel. Shirell o acompanhou. Chegando, eles se depararam com uma área enorme e bonita.

— Onde estamos?! — perguntou Shirell, confuso.

— Nosso deus nos levou! Morremos! — disse Thumver admirado com a beleza do local e ao mesmo tempo apavorado, achando que havia morrido.

— Eiii! Isso dói! — reclamou Thumver da pancada que levou de Shirell.

— No paraíso do nosso deus não deveríamos sentir dor. Ou os sábios estavam errados? — questionou Shirell.

Eles ouviram um estrondo vindo do local de onde saíram.

— Eles ainda estão vindo atrás da gente! Vamos continuar fugindo!  — disse Thumver.

Shirell e Thumver seguiram para o meio da floresta à frente deles.  De repente avistaram alguém mais jovem que olhou para eles assustado. Outros apareceram e se espantaram com a presença deles.

— Se parecem com a gente, mas o que usam? — questionou Thumver.

Eles tentaram se aproximar, mas hesitaram. Os que pareciam com eles diziam coisas que eles não compreendiam. Uma explosão assustou a todos. 

— Temos que fugir! — disse Shirell olhando para o local de onde vieram e que havia acabado de explodir.

Todos que estavam à frente deles entraram em pânico e se dispersaram. Thumver e Shirell correram seguindo um daqueles que se parecia com eles e usava coisas diferentes. Quando saíram da floresta viram construções estranhas aos seus olhos. Os que pareciam com eles entraram nessas construções.

Eles viram a ave de metal se aproximando. Mais aves de metal surgiram e começaram a lançar coisas gosmentas para todos os lados. Eles fugiram sem rumo, assustados e ao mesmo tempo admirados com as coisas novas com que se deparavam. Pareciam ser coisas dos deuses.

Shirell e Thumver voltaram para a floresta e se esconderam em um arbusto. 

— Não tem para onde fugirmos! — disse Shirell assustado.

— Vamos esperar ficar escuro para tentarmos escapar! — disse Thumver sem saber para onde ir.

Eles permaneceram quietos e escondidos e ouviram mais explosões e gritos. Depois de um bom tempo o silêncio prevaleceu. Thumver e Shirell esperavam pela escuridão que demorava. De repente foram surpreendidos por seres estranhos que usavam vestes que pareciam ser de metal. Os seres encostaram um tipo de lança neles que os fez se contorcerem e desmaiarem.

 

***

 

Shirell acordou tonto.

— Onde estou? Thumver? Thumver? — tentou acordar o companheiro que estava ao seu lado.

Thumver abriu os olhos lentamente e se levantou.

— O que houve? Onde estamos? O que são essas criaturas? — questionou Thumver olhando para outras espécies estranhas que também estavam engaioladas ao lado deles.

Um ser que estava preso à direta da gaiola deles, estendeu o que parecia ser sua mão.

Eles ficaram assustados achando que a criatura estava querendo atacá-los. O ser continuou com a mão estendida e Thumver tentando ser corajoso ao menos uma vez, se aproximou cautelosamente. Quando ele ia tocar na mão da criatura, ela segurou seu braço.

— ME SOLTAAAAAA! — gritou Thumver assustado.

Ele começou a ver coisas confusas que logo depois foram se tornando compreensíveis. Depois de uns segundos o ser o soltou.

Thumver olhou para ele surpreso.

— Então você se chama Frihuntinh. Conexão neural! Como? Surpreendente tudo isso! — disse Thumver deslumbrado e numa língua que seu companheiro Shirell não compreendia.

— O que está falando? — perguntou Shirell, confuso.

— Desculpe-me, meu amigo — disse Thumver na sua língua primitiva.

— Desculpa? Amigo? Que palavras são essas? — questionou Shirell.

— O que eu vou lhe dizer  tenho quase certeza que não irá compreender.

Shirell olhava ainda mais confuso para Thumver.

— Frihuntinh é um alienígena e seu planeta também foi atacado. Sua espécie tem uma habilidade especial. Eles podem fazer conexões neurais com muitas espécies vivas dotadas de consciência. Isso que ele fez comigo! Fez uma conexão e passou todo seu conhecimento para mim.

— Thumver? — disse Shirell com um olhar confuso.

Meu amigo, não estamos sozinhos no Universo. Nosso planeta foi atacado e agora somos prisioneiros — disse Thumver, preocupado.

— Prisioneiros? — questionou Shirell.

— Sim. E o pior, somos a coleção deles. Somos a coleção dos terráqueos.

0,0
Rated 0,0 out of 5
0,0 out of 5 stars (based on 0 reviews)
Excelente0%
Muito bom0%
Média0%
Ruim0%
Muito ruim0%

There are no reviews yet. Be the first one to write one.

CONTO | METEOROS

METEOROS

O mundo hoje é dividido em opiniões sobre se estamos sozinhos no universo ou não. Fatos históricos e acontecimentos recentes remetem às possibilidades de que já havíamos sido visitados antes por seres extraterrestres. 

Mesmo com vários fatos e relatos de humanos que avistaram ou até mesmo que foram abduzidos, nada foi comprovado, até o dia que…

— Herbert, acorde! Não está ouvindo o despertador? Vai perder a chuva de meteoros! — gritou a mãe dele.

Ele acordou ainda muito sonolento e levantou. Calmamente pegou seu telescópio e saiu do quarto.

— HERBERTTT! 

— Já acordei! Obrigado, mãe! — disse Herbert indo até a geladeira para beber água.

A Sra. Ana, mãe de Herbert, era viúva e para ganhar o sustento, costurava para uma pequena confecção no interior de Minas Gerais. Para dar conta das várias peças de roupas que lhes rendiam um pouco mais de um salário mínimo por mês, ela ficava até tarde costurando.

O pai de Herbert sofreu algo trágico há cinco anos no hospício. Ele era fazendeiro e, depois da noite de 11 de junho, nunca mais foi o mesmo.

O Sr. Mário foi internado como louco por dizer coisas como ter sido abduzido e que estava com a cabeça repleta de informações alienígenas. Informações que não compreendia. Ele repetia três nomes e fez isso por anos.

Meses depois, o Sr. Mário bateu a cabeça na parede por várias vezes e morreu de traumatismo craniano.

Herbert posicionou o telescópio para a constelação de gêmeos e aguardou a chuva de meteoros que seria ocasionada pelo cruzamento da órbita de um cometa que deixou, em sua passagem, uma nuvem de destroços. Depois de poucos minutos aguardando, ele começou a ver algumas estrelas cadentes. O céu estava limpo e a temperatura agradável.

— Hã? O que é aquilo? — disse Herbert olhando para uma luz no céu que parecia aumentar em sua direção.

De repente uma outra luz muito forte ofuscou sua visão.

— O que é isso?! Você! Tire essa lanterna da minha cara! — tentou ordenar Herbert, frustrado.

— O que está fazendo, seu nerd? Olha! Ele está olhando as estrelas! — disse Léo derrubando o telescópio de Herbert.

Nerd idiota! — disse um dos amigos de Léo que o acompanhava.

— Vamos, galera! Não vamos perder tempo com esse nerd infantil! — disse Viviane, a menina mais cobiçada da cidade.

O grupo de Léo estava indo acampar ali por perto. Herbert os ignorou, levantou seu telescópio novamente e voltou a olhar a chuva de meteoros. Para sua decepção, daquele momento em diante, ele praticamente não viu mais nenhuma luz caindo do céu. Ele recolheu o equipamento e voltou para casa, mas subitamente ele avistou um brilho muito forte.

Ele seguiu em direção à luz. Ouviu gritos e acelerou o passo. Por um instante Herbert hesitou e nesse momento a luz forte desapareceu. Ele, com medo, seguiu cautelosamente até o local onde observou o brilho ofuscante. Chegando ele viu as coisas do grupo do Léo largadas no chão. Sem entender o que havia acontecido, ele olhou para o céu. 

Herbert viu um pequeno ponto de luz que se movimentou rapidamente até desaparecer. Ele concluiu naquele momento que poderia ter acontecido uma abdução, mas estava desacreditado de tal possibilidade, com medo de acharem que estava ficando igual ao pai.

Herbert percebeu que havia pessoas se aproximando. Ele saiu correndo do local sem olhar para trás. Entrou em casa, onde sua mãe ainda estava costurando e sem falar com ela, seguiu para seu quarto. Herbert sentou à beira da sua cama pensativo e nervoso.

— O que houve meu filho? — perguntou sua mãe adentrando ao seu quarto.

Ele hesitou por uns instantes antes de responder.

— Nada, mãe. Só estou cansado. Vou tomar um banho e dormir — disse Herbert sem olhar para ela.

Sua mãe ficou desconfiada, mas como tinha ainda muito serviço para concluir, voltou para as costuras.

Herbert tomou banho, deitou na cama absorto e permaneceu assim até o amanhecer. Ainda bem cedo e sem sono, ele se levantou e foi até a cozinha para comer algo. Sua mãe também havia passado a noite acordada, trabalhando. Ela parecia exausta, mas continuava costurando e assistindo ao noticiário local da manhã.

— Quatro jovens desapareceram na noite passada. Seus pertences foram encontrados na floresta de camping ao sul da cidade… 

— Isso aconteceu aqui perto — disse a Sra. Ana, surpresa.

Herbert continuou vendo o noticiário assustado.

— O que foi meu filho? Você está estranho desde que voltou ontem à noite — disse sua mãe, desconfiada.

Ele ainda olhando para o noticiário, que já passava outra notícia, se assustou com o barulho de alguém batendo na porta. Herbert foi atender.

— Desculpe o incômodo. Só vamos fazer algumas perguntas — disse o policial.

O garoto ficou surpreso com a presença de dois policiais na sua porta. Sua mãe apareceu atrás dele.

— O que houve? Em que posso ajudá-los? — perguntou Sra. Ana.

— Estamos investigando o desaparecimento de quatro jovens que ocorreu aqui perto. Se puderem responder a duas perguntas — disse o policial da Silva.

— Sim, pois não? — disse a mãe de Herbert.

— Nome de vocês e o que estavam fazendo ontem à noite?

— Meu nome é Ana e esse é meu filho, Herbert. Eu estava costurando e meu filho estava no quarto, se quiserem podem entrar e ver minha máquina de costura e o que estava produzindo — disse a Sra. Ana com olhar fixo no policial da Silva.

O investigador ficou encarando-a por uns segundos.

— Tudo bem! Desculpe o incômodo. Se acharem algo suspeito, contacte a polícia imediatamente.

A mãe de Herbert acenou com a cabeça confirmando. Os policiais foram embora e Herbert foi para seu quarto refletindo sobre o assunto. A Sra. Ana estava preocupada com o filho, mas não deu muita atenção, pois as costuras estavam atrasadas e ela precisava entregá-las no dia seguinte.

Deu a hora do almoço e Herbert saiu do quarto para comer. Sua mãe havia feito uma pausa para preparar uma comida rápida. Eles se alimentaram em silêncio e Herbert voltou para o quarto. Sua mãe foi até o filho para conversar. Ela ficou parada na porta observando-o e resolveu deixá-lo quieto.

Sr. Ana estava exausta e tentou voltar a costurar, mas foi até sua cama para descansar uns minutos e tentar recuperar o máximo de energia para terminar o trabalho sem erros.

Horas se passaram e Herbert saiu do quarto. Já era noite e ele não encontrou sua mãe. O coração dele acelerou e Herbert correu até o quarto dela. Para seu alívio ela estava dormindo. Herbert foi beber água e da janela viu um ponto de luz forte vindo da direção do local onde estava vendo os meteoros na noite anterior.

Por um instante ele ficou com medo, mas resolveu ir ver de perto. O ponto de luz ficou mais forte. Herbert correu até o local, contudo parou, porque pensou que poderia ser os policiais procurando por algo. Ele resolveu voltar, quando algo penetrou no seu pescoço e ele desmaiou.

 

***

 

— Onde estou? disse Herbert com muita dor de cabeça e deitado em um local frio e estranho.

— |_\—\-|\—||-\-\–\–|__-_-\

— O que é isso? Quero sair daqui! — disse ele vendo alguém estranho se aproximar.

— |–|-___—|_|\|_–_-__–|—\–

Herbert sentiu uma forte pressão na cabeça e seus olhos se fecharam lentamente.

 

***

 

— Encontrei — disse um policial.

Os demais policiais se aproximaram com suas lanternas do local onde o companheiro apontava.

— Sim, bate com a descrição de um dos desaparecidos. Tirem-na daqui.

Os policiais levaram a menina identificada como Viviane. Ela parecia não reconhecer onde estava. A garota parecia não se lembrar de nada. Não respondia aos estímulos. Parecia que estava sob efeito de drogas pesadas. Foram feitos exames toxicológicos nela, mas para surpresa dos médicos que estavam cuidando dela, nada encontraram no resultado.

Dois dias se passaram e Viviane disse uma coisa, um nome, repetido várias vezes por dois minutos.

— Herbert, Herbert, Herbert…

Os policiais que estavam cuidando do caso associaram o desaparecimento do menino Herbert com o dos outros garotos que desapareceram na noite anterior à dele. Eles tentaram conversar com Viviane, mas não conseguiram tirar mais nenhuma palavra dela.

Um bom tempo se passou e o caso não teve mais nenhuma resposta. Ele foi arquivado. Viviane foi internada e permanece até hoje em um centro psiquiátrico. Um dia ela recebeu uma visita inesperada.

— Olá! Me disseram que você não conversa com ninguém, mas não tive escolha. Meu sentido de mãe diz que meu filho ainda está vivo. Você há muito tempo disse o nome dele. Vocês desapareceram na mesma época. O que você sabe sobre ele? Por favor, me diga algo! — disse a Sra. Ana, chorando.

Viviane permaneceu olhando para o nada. A mãe de Herbert viu que não ia conseguir nenhuma resposta dela e se levantou desapontada. A menina virou o pescoço para o lado.

— Herbert, Herbert, Herbert…

— Sim, meu filho. O que sabe sobre ele?

Viviane olhou para o chão e depois de uns segundos.

— Herbert, Herbert, Herbert… ele agora é um deles.

5,0
Rated 5,0 out of 5
5,0 out of 5 stars (based on 2 reviews)
Excelente100%
Muito bom0%
Média0%
Ruim0%
Muito ruim0%

Conto de narrativa interessante

Rated 5,0 out of 5
27 de novembro de 2020

5 estrelas

Kelly

Topp

Rated 5,0 out of 5
9 de agosto de 2020

Que venham as novas aventuras

Cris